A sensação de não saber o que fazer durante a quarentena é fruto do mau hábito que adquirimos com os anos de prosperidade que tivemos. Passamos a acreditar que viveríamos para sempre e que estava tudo sob o nosso controle.
Nossos irmãos que viveram em tempos semelhantes têm muito o que nos ensinar. C. S. Lewis, que viveu durante a segunda Guerra Mundial escreveu sobre como Viver na era atômica (1948).
O argumento de Lewis é que, com a eminência de um ataque atômico — assim como uma pandemia viral — NADA em nossas vidas muda. Essa tese não é uma insensibilidade do autor. Antes, diz respeito ao entendimento de que a única novidade que trouxeram foi uma nova forma de morrer.
A questão não é saber se vamos sobreviver ou não. Já estávamos condenados à morte antes disso. A pergunta que Lewis faz é: “qual era sua visão sobre o futuro definitivo da humanidade antes de a bomba atômica entrar em cena? O que você pensava que ia resultar todo o esforço da humanidade?”
Se sua esperança era limitada aos avanços científicos, você estava fadado ao nada — o que os filósofos chamam de niilismo. Qualquer cientista sabe que a vida orgânica não permanecerá para sempre.
Esse argumento não é de um pessimismo fatalista. O que Lewis destaca é que bombas e vírus nos forçam a lembrar “do tipo de mundo em que vivemos e que, durante a fase de prosperidade que precedeu, quase esquecemos”. Isso é ótimo, pois “fomos despertados de um sonho bonito e agora podemos começar a falar sobre a realidade”.
Se reduzimos nossa fé somente para essa vida, somos os mais miseráveis dos seres humanos. Agora, se a morte já foi vencida, então devemos ser encontrados pelos vírus “realizando atividades humanas sensatas — orando, trabalhando, ensinando, lendo, ouvindo música, dando banho nas crianças, jogando tênis, conversando com amigos enquanto bebemos ou jogamos dardos, e não amontoados como ovelhas apavoradas, pensando em bombas”. Bombas e vírus podem matar nossos corpos, mas não precisam controlar nossas mentes.