Não mexam na cozinha!

Amigos, estou indignado. Acabo de ouvir na rádio CBN o comentário de Gilberto Dimenstein sobre uma reportagem do Wall Street Journal dando conta da tendência americana de eliminar a cozinha dos projetos arquitetônicos de casas e apartamentos. Segundo aquele jornal, devido à falta de tempo das pessoas, muitos estão optando por tomar suas refeições em lanchonetes ou restaurantes, fazendo em casa no máximo alguma comida congelada que se esquenta em 3 minutos no forno de micro-ondas. Assim, pasmem, a cozinha está sendo considerada descartável. No lugar da cozinha, podem aparecer escritórios, quartos de visita ou mesmo uma sala de convivência, em cujo cantinho se aloje o indefectível forno acima mencionado e um pequeno frigobar.

Ou seja, no lugar em que podia-se sentar com a família para colocar as coisas em dia ou simplesmente para desfrutar a companhia dos entes queridos, agora se senta para colocar em dia o trabalho que não deu tempo de terminar no escritório ou para sentar na frente do computador e passar longas horas em chats e fóruns de discussão pela Internet (como você está fazendo agora ao ler este artigo).

Do jeito que a coisa vai, daqui a pouco vão descartar também o banheiro. Não vai dar tempo nem para isso mais (Quanto ao banho, pode ser tomado na academia de ginástica).

Mas pense bem numa casa sem cozinha. De onde virão os cheiros, as expectativas de um jantar delicioso e, muito mais importante, a mesa ao redor da qual muitas vezes nos sentamos em família ou recebemos nossos irmãos para longos bate-papos? Afinal de contas, mesmo que tenhamos uma bela sala de estar, acaba sendo no aconchego da cozinha que a gente trata os assuntos que realmente importam. As refeições alimentam o corpo, mas as conversas alimentam a alma.

Uma casa sem cozinha é uma casa triste. É uma casa sem amizade, sem relacionamentos, sem cheiros e sem tempero. Insípida. Técnica. Decai do status de lar para uma mera residência, quem sabe um mero dormitório.

Casa sem cozinha é como igreja sem comunhão. Tem reunião, tem presbítero, tem anúncios da semana, tem programas, tem coral, tem pregação. Mas não tem graça. É que nem champignon. Não tem gosto de nada.

Para ali se vai apenas para dormir, especialmente se o sermão for longo e chato. A vida não flui em conjunto depois que os cultos terminam. Cada um vai para o seu lado, não temos tempo para sentar juntos e conversar. Trocar idéias sobre a vida, sobre os filhos, sobre os problemas na escola ou no trabalho, sobre os dilemas e dramas que muitas vezes nos atingem. Em algumas igrejas se um avião cair 5 minutos depois do último “amém” nenhum crente morre. Todo mundo já entrou no carro e foi embora.

Não gostei desta onda “anti-cozinhista” dos States. Espero que alguém peça para esse assunto ser decidido por eleição. Assim eles demorarão uma vida inteira para concluir o assunto…

Enquanto isso, continuaremos tentando imaginar e copiar o sentimento daqueles irmãos simples que “tinham tudo em comum” e por isso mesmo conseguiam “partir pão de casa em casa, e tomavam suas refeições com alegria e singeleza do coração”.

Pensando bem:

Jamais se criou qualquer clube ou associação humana que pudesse reunir raças, culturas, níveis sociais e intelectuais tão diferentes como a Igreja de Jesus o faz.