Tenho sido considerada alguém que tem muito mais sucesso do que o normal. No primário, eu considerava um B mais uma falha miserável, e eu atualizei meu currículo antes que a maioria das crianças pudesse soletrar essa palavra. Eu costumava devolver as cartas de amor do meu namorado de colégio com a ortografia corrigida – com tinta vermelha. Um colega de jornalismo certa vez predisse que, quando eu tivesse 25 anos, minha próxima mudança de carreira seria uma crise de meia idade.

Você não precisa ser um perfeccionista inato como eu para ter problema com perfeccionismo. Nem você deve exigir perfeição em todas as áreas da sua vida. Perfeccionismo é simplesmente um vício a controlar e uma recusa em aceitar a imperfeição em algum esforço humano. Olhando para nossa cultura hoje, eu diria que muitas pessoas sofrem disso.

Que outro fio em comum liga pais que assumem todos os aspectos da vida da criança, mártires do trabalho que não tiram férias e viciados em exercícios que se angustiam com a falta deles? O que conecta nossas taxas crescentes de vícios farmacêuticos e transtornos alimentares, nossos níveis crescentes de ansiedade e depressão, nossa epidemia de dívidas de cartão de crédito e a explosiva popularidade da cirurgia plástica? Muitos fatores contribuem para estas tendências, sim, mas um fator chave é nossa exigência por perfeição.

Para os cristãos, perfeccionismo espiritual é um problema igualmente sutil e traiçoeiro. É perigoso justamente porque muitos de nós o confundem como uma virtude. Perfeccionismo espiritual é aquela mesma obsessão por controle e perfeição transposta para nosso relacionamento com Deus. Está enraizado na mentira de que podemos merecer o amor de Deus e fazer nosso caminho para o céu. A maioria de nós não pensa isso em voz alta, no entanto, muitas vezes vivemos como se acreditássemos nisso.

Ao longo dos anos, aprendi que o progresso lento e gradual – do tipo que nós perfeccionistas impacientes odiamos – pode ser uma bênção. Ele nos educa em humildade, nos mantém amarrados à oração e produz frutos visíveis à medida que viajamos em direção à rendição mais completa. Abrir nossos corações à misericórdia do Senhor, mesmo que só consigamos fazê-lo pouco a pouco, permite-o curar essas feridas que cobrimos com perfeccionismo e nos aproxima dele e de todos aqueles que amamos. Isso em si é uma libertação.

Entretanto, libertação nesta vida não é o objetivo final. O objetivo final ainda é – acredite ou não – perfeição. Perfeição cristã. E perfeição cristã não é apenas diferente de perfeccionismo. É diametralmente oposta. O mesmo impulso perfeccionista que nos faz vencedores aos olhos do mundo é aquele que precisamos para vencer em nossa jornada para a vida eterna com Cristo.

A busca pela perfeição cristã, mesmo que não possamos alcançá-la completamente nesta vida, traz alegria. É a alegria que vem de entregar as rédeas a Deus, de voltar nossas vidas para Jesus e de permitir que o Espírito Santo supere nossos planos e aumente nossas expectativas.

Tal abertura radical para Deus não é fácil. Como um bispo que eu conheço gosta de dizer, “Obediência a Deus sempre nos coloca em apuros”. No entanto, é um tipo bom de apuro – o tipo que nos força a dependermos da graça de Deus ao invés de o excluirmos com nossos próprios planos mesquinhos, limites e regras. Deixar de lado o perfeccionismo nos liberta para buscarmos a verdadeira santidade, ao invés de sua falsidade hipócrita.

Ao contrário da busca pelo perfeccionismo, uma vida que visa alcançar a perfeição cristã provavelmente não impressionará o mundo ou até mesmo nossos amigos na igreja. Os santos que percorreram este caminho antes de nós enfrentaram o ridículo, o mal-entendido e o sofrimento, e suas vidas frequentemente terminaram em aparente fracasso.

Pense em Francisco de Assis, largando suas roupas na disputa com seu pai e marchando pelado, para abraçar a pobreza evangélica. Olhe para Madre Teresa de Calcutá, saindo sozinha aos 37 anos para começar um ministério de rua nas favelas da Índia, depois passando os 50 anos seguintes sofrendo desolação secreta enquanto trabalhava para um Deus cujo amor ela não podia mais sentir. Considere Santa Teresa de Lisieux, morrendo aos 24 anos em um convento francês onde as outras freiras estavam preocupadas por não terem nada para escrever em seu obituário porque ela era comum demais.

Depois, há Paulo, que desistiu de viver e prosperar pela lei mosaica para se tornar um pregador itinerante de um evangelho que fez com que ele fosse açoitado, espancado com varas, apedrejado, naufragado, roubado, caçado, traído, atormentado pela ansiedade, deixado no frio, e privado de comida, água e sono – sem contar perturbado por aquele “espinho em minha carne, um mensageiro de Satanás, para me ferir e me atormentar, e para esvaziar meu orgulho” (2 Coríntios 12:7 – Bíblia Viva).

O caminho da perfeição do evangelho é o caminho estreito, e ele nem sempre faz sentido. Muitos dos santos lutaram durante anos para se renderem a Deus, para darem permissão para que ele mostrasse seu poder através da fraqueza deles. Entretanto, quando começaram a fazer essa rendição, descobriram a alegria profunda e duradoura que vem somente de Deus. Até mesmo Madre Teresa, atormentada por sentimentos de rejeição divina, escreveu estas palavras em meio a sua escuridão: “Hoje realmente senti uma alegria profunda – que Jesus não pode mais passar pela agonia – mas que Ele quer passar por ela comigo. – Mais do que nunca eu me rendo a Ele. – Sim – mais do que nunca eu estarei à Sua disposição”.

Rendição é o centro da perfeição do evangelho e a antítese do perfeccionismo. Não podemos alcançar santidade sem a graça de Deus. Com ele, entretanto, “tudo é possível” (Mateus 19:26) – até mesmo a libertação do perfeccionismo.

COLLEEN CARROLL CAMPBELL

Colleen Carroll Campbell é uma autora premiada, jornalista impressa e de mídia e ex-redatora de discursos presidenciais. Seu último livro é O Centro da Perfeição: Como os Santos me Ensinaram a Trocar Meu Sonho do que é Perfeito pelo de Deus.

Este artigo foi adaptado de O Centro da Perfeição de Colleen Carroll Campbell.
Traduzido por Cynthia Rosa de Andrade Marques.
Usado com permissão.