Quando amanheceu o dia,
Pensei que seria como os demais.
Tomei meu café, li o jornal,
Voltei ao quarto, troquei-me,
Como todo mundo faz.
Liguei o carro, acelerei o motor.
Mais um dia de trabalho,
Mais uma vez obedecer o patrão.
Como sempre, olhei pelo retrovisor.
Lá vou eu pela estrada,
Ter dignidade, ganhar o pão…
Mas os dias nunca são os mesmos.
Tem sempre um que nos faz cair na real.
Pobreza, fome, drogas, roubo.
Ali estão. Isso não pode ser normal!
Isso não pode ser ideal!
A criança corre, criança é pureza! Bem…
Deveria ser! Mas a gente descobre
Que a sociedade faz ela se perder, roubando,
Matando, fumando, querendo algo pra comer.
Como não vi isso antes? Não sei te explicar.
Talvez isso não me chamasse a atenção,
Poderia ser minha mãe, meu pai,
Quem sabe meu irmão.
Mas como não era, eu passava adiante,
Virava o rosto, aumentava o som do rádio.
Assim como quem não acredita em Deus,
Vivi um ateísmo.
Numa humanidade sem humanismo.
Dormia, acordava, trabalhava, comia. Dormia, acordava…
Pensei que seria como os demais,
Quando amanheceu o dia…
por Guilherme Andrino