Escrever é uma das minhas grandes paixões e formar opinião sobre temas diversos é outra. É o tipo de coisa que preciso me conter para não passar dos limites. O tal do domínio próprio. Juro que lutei muito contra minha vontade para não lançar meu posicionamento a respeito da polêmica BelaRecatadaEDoLar. Pensei: a internet já está saturada, uma opinião a mais não vai fazer diferença. Li algumas coisas e até senti uma pontinha de orgulho de minha pessoa por não ter metido a língua entre os dentes (ou os dedos no teclado).
Eis que então, uma leitora fiel do blog Salve Meu Casamento atinge em cheio o meu calcanhar de Aquiles:
Dani, gostaria muito de ler uma opinião sua a respeito da polêmica BelaRecatadaEDoLar.
Puf! Todo o meu autocontrole foi por água abaixo. Cá estou eu… Caramba, como sou fraca!
Brincadeiras à parte, agradeço de coração a confiança dessa leitora. Sinto-me honrada em saber que minha opinião influencia e colabora de alguma forma. Peço a Deus sabedoria, pois essa é uma grande responsabilidade!
Bem, antes de prosseguir com o raciocínio, preciso confessar que tenho uma terceira paixão: a psicanálise. Há algum tempo venho – dentro dos meus limites e possibilidades – estudando o comportamento humano, o que me levou a analisar mais e julgar menos. Diante de uma situação polêmica como essa, a Dani de antigamente provavelmente encheria a boca para sentenciar sem ouvir com calma as partes usando de empatia, mas depois de um bocado de informações e estudos sobre os porquês de algumas ações e reações, fui sossegando a alma e me tornando um pouco mais compreensiva.
Olho então para a posição da revista Veja a respeito da possível nova primeira dama, Marcela Temer, e a reação que tenho é neutra. Não me causa raiva nem espanto. Muito menos admiração. Nada, zero, indiferença total. Uma das coisas que aprendi e venho exercitando com a psicanálise é não criar expectativa sobre coisa alguma, o que diminuiu drasticamente o nível e frequência de minhas frustrações e decepções (ficaadica).
E, caros leitores, digam-me, é possível criar algum tipo de expectativa positiva a respeito de veículos de informações tendenciosos como a Veja? Dentro dessa indústria poucos profissionais e emissoras se salvam. A verdade é que a grande maioria está focada em números, resultados, grana. Família, moral e ética? Em segundo plano, sempre. Pedras ou pétalas sobre a matéria? Pra eles tanto faz, o importante é que os holofotes permaneçam acesos.
Então, diante dessa constatação, recomendo a você que passe a olhar para o conteúdo oferecido pela mídia sem criar expectativa alguma. Faça isso com todos os veículos. Já fui vítima do sensacionalismo e descobri (apanhando) que o lado obscuro da indústria midiática é feio, muito feio mesmo. Sim, eles facilitam a comunicação e vez ou outra nos trazem boas matérias, algumas até dignas de aplausos, mas sugiro que exercite o “pé atrás” e expectativa zero, sempre.
Agora, vamos observar o outro lado da moeda, o público enfurecido da hashtag BelaRecatadaeDoLar. Bem, a fúria certamente não veio pelo bela. Dizer que uma moça é bonita não enfurece tanto assim, no máximo uma invejinha de leve. Nada digno de hashtag. Deixemos então o bela de lado e vamos ao dois últimos adjetivos: recatada e do lar.
Lendo alguns artigos e posicionamentos constatei que não foi o fato de terem-na denominado recatada e do lar que despertou a fúria de uma multidão de mulheres (e de alguns poucos homens também), mas sim o fato de isso ter sido citado como elogio, ressaltando que Temer seria um homem de sorte por ter uma mulher assim.
“O que? Recatada um elogio? E do Lar? Sorte ter uma mulher dessas? Céus, tantos anos de avanço para retroceder assim em tão pouco tempo? Será que nossa luta não valeu de nada? Não aceitamos tal disparate, vamos protestar e mostrar ao mundo para que viemos!”
E eis que surge a onda (na verdade o tsunami) BelaRecatadaEDoLar: fotos, artigos, comentários, reportagens, referências, críticas e xingamentos acompanhados da tal hashtag. Muitos pegaram a pranchinha e entraram na onda apenas por brincadeira. Pelo menos foi o que notei na minha timeline. Mas, indo direto ao ponto, eu me pergunto: Por que tal afirmação teve o poder de despertar tamanha indgnação?
Dicionário, nos dê uma mão, por favor: “Recatada = reservada, que possui pudor, prudente, que foge de holofotes.” Bem, é certo que as atitudes do corpo são os manifestos da alma, ou seja, o pudor e prudência são aspectos do comportamento que nos levam a apresentar-nos como seres com corpo e alma. É o que nos diferencia dos animais. Guarde essas informações, pois vamos utilizá-las mais adiante. Passemos agora a expressão “Do Lar”.
No caso da esposa de Temer, foco da reportagem, podemos considera-la uma Do Lar a parte. Aquele tipo de dona de casa que não lava banheiro e nem roupa no tanque. Provavelmente tem motoristas, babás e empregadas ao seu dispôr. Sem contar o tempo($) disponível para a prática de esportes, estética, entretenimento e saidinhas em restaurantes com paredes a prova de som. Não acho que a dama em questão represente a verdadeira mulher “Do Lar” que, em sua grande maioria, carrega sobre si 100% dos cuidados com a casa, roupas, educação, filhos, refeições, compras, consultas, reuniões escolares, exames e etc. Essas sim representam o time das “Senhoras do Lar”, do qual faço parte, diga-se de passagem.
Mas por que destacar esses adjetivos como virtude soa tão negativo para uma parcela da população? Por que incomoda tanto o elogio a uma mulher que optou pela vida – como dizem – à moda antiga? Talvez por parecer que só esse tipo de perfil tem valor? É uma possibilidade.
Sabe, me preocupo em ver que por medo de voltarmos a opressão de um sociedade machista estejamos migrando para o extremo oposto. É como ser picado por cobra e passar a vida fugindo de minhoca. A mulher conquistou o seu espaço e graças a isso hoje estou escrevendo esse artigo. Mas ainda não consigo enxergar como negativo (ou retrocesso) o fato de “recatada e do lar” terem sido citados como ponto positivo. Caramba, ter cacife pra ser “do lar” (do lar de verdade mesmo!) é mais do que um elogio, é virtude! E penso que admitir isso não faz com que uma workaholic ou uma “não do lar” seja defeito. Uma coisa não anula a outra, de forma alguma.
E quanto ao termo recatada, o raciocínio muda um pouco. Uma mulher não recatada, ou seja, sem pudor, sem reservas, que busca holofotes a custo inclusive dos próprios valores, que fala sem filtro, atropela a moral, não me parece ser algo que contribui positivamente para uma sociedade que anseia por equilíbrio e sobriedade. Me lembro agora de um provérbio interessante que diz: “Como anel de ouro em focinho de porco, assim é a mulher bonita, mas indiscreta.” Pv. 11.22. E veja bem, isso não se restringe ao sexo feminino. Nenhuma mulher sonha em ter como marido e pai dos seus filhos um homem narcisista, imprudente e sem pudores.
Noto que um numeroso grupo de mulheres sente calafrios só de pensar na possibilidade de receber tratamento diferenciado apenas por ter vagina ao invés de pênis. É o tal do medo da minhoca por causa da cobra. Em nome da total liberdade e igualdade, migra-se então para um outro extremo que penso não ser tão benéfico assim. Se visamos uma sociedade mais equilibrada, sinto que uma mãe, esposa e profissional recatada (o que não quer dizer sob o controle do mundo machista) e do lar, ou seja, presente na vida dos filhos e cuidados com a casa, venha a ser algo que constrói e não destrói.
E pensando na pequena sociedade, que é o nosso lar, onde aprendemos (ou não) as primeiras lições sobre moral e ética e recebemos boa parte das influências para a formação do caráter, ter como referência de mulher uma pessoa sem pudor algum, que não filtra suas palavras e ações, que expõe seu corpo de forma desnecessária e passa mais tempo fora de casa, longe da família, terceirizando a maternidade, me faz ter medo do futuro. Aliás, penso que o caos do presente fala muito sobre essa ausência. Em busca de uma igualdade, estamos pulando para um outro extremo e deixando um espaço vazio. Um espaço que deveria ser preenchido pela figura feminina que alcançou sim seus direitos e encontrou o seu espaço, mas para isso não precisou sacrificar seu caráter, comportamento, sua família e seu lar.
Não consigo de forma alguma dizer que estamos no caminho certo. Na verdade, sinto ser este um caminho que reserva muitas armadilhas. Então, como mulher, peço sabedoria a Deus. Se desejo ver um mundo melhor, começo com as minhas pequenas ações. A mulher sábia edifica o seu lar (sua pequena sociedade), a tola, com as próprias mãos o destrói. Opto pela sabedoria.
A beleza interior quando é estimulada e bem alimentada, produz o cuidado com as palavras, ações, prudência, faz o cérebro ser mais rápido que a boca e traz a real preocupação com o rumo que toma a humanidade. E isso, consequentemente, nos leva a um maior cuidado com o lar, afinal, como pais e responsáveis que somos, estamos (querendo ou não) contribuindo para a formação do caráter dos cidadãos do amanhã.
Então, se for para ser bela, que seja de alma. Se for para ser recatada, que seja na prudência com as palavras e ações. Se for para ser do lar, que seja no investimento da sua pequena sociedade. E se Temer tem mesmo uma mulher dessas em casa, sorte a dele. Doa a quem doer.