Os velhinhos no futebol

Amigo, ainda no assunto futebol, chama a atenção os contratos que alguns clubes de grande expressão e torcida andam fazendo com jogadores acima de 30 anos, considerados como “velhos” para o futebol. Aqui no estado de São Paulo, Ronaldo Gorducho, Roberto Carlos (não o cantor), Giovani, Marcelinho Paraíba, Juninho Paulista entre outros estão ocupando espaço. Marcelinho Carioca jogou profissionalmente até o ano passado. Antigamente, jogadores acima de 30 anos só conseguiam encerrar suas carreiras em times do interior, onde a pressão da torcida não era tão grande e eles acabavam, mesmo em decadência, se constituindo em uma atração interessante para clubes menores.

Este fenômeno está ligado principalmente, em minha opinião, à queda no nível técnico do futebol moderno. Muitos especialistas e comentaristas profissionais concordam com isso, ou eu com eles, talvez. O que ocorre é que a boleirada, em geral, anda jogando tão mal, mas tão mal (vejam que até um time como o Flamengo consegue ser campeão nacional!!), que se um sujeito tem um mínimo de técnica, ele consegue seguir jogando. Se bobear, o Romário pode calçar uma chuteira e ainda vai ser artilheiro, porque os zagueiros são péssimos. Não há uma renovação em alto nível dos planteis nos times de futebol. Hoje em dia, para se chegar a um clube de elite, é muito mais importante ter um empresário forte e influente do que saber jogar futebol. Eu me lembro do tempo em que os destaques dos times do interior, as chamadas revelações, eram contratados pelos times grandes da capital. Eram contratados pela bola que jogavam, não em função dos empresários que detinham seus passes. É possível que esses chamados “velhinhos” ainda tenham como jogar algum tempo e obter resultados para seus times, mas a má notícia é que eles só têm espaço porque os novos valores nem sempre têm oportunidade de mostrar seu valor e talento. Vale mais o interesse econômico da máfia dos empresários.

Outra mudança tem relação com a novo estilo de jogo. Nos últimos 20 anos, a ênfase passou a ser exagerada no aspecto físico dos atletas. O jogo hoje em dia é muito mais rápido. Estudos de fisiologistas demonstram que um atleta corre quase em média quase quatro vezes mais do que um jogador nos anos 70. Vale mais aprender a marcar e destruir jogadas, do que saber criá-las. Acontece que, no futebol – assim como na vida toda – saber destruir é muito mais fácil do que saber criar. Qualquer brucutu consegue marcar, mas só um craque consegue criar. E mesmo com toda esta truculência do esporte, todo mundo sabe que não há esquema tático que resista ao talento. É por isso que, mesmo com toda a desorganização de sua estrutura extracampo, o Brasil é o único pentacampeão mundial e é sempre um dos favoritos da próxima Copa do Mundo.

Se você não é ligado em futebol, talvez esteja pensando nesse momento em mudar de canal. Mas espere. Aprendo algumas lições para a vida com esta análise do esporte mais popular do planeta.

Olhando por este ângulo fica uma lição que vale para todos os setores de atividade organizada, inclusive a igreja: não precisamos prescindir nem descartar a experiência, os anos de vida, o tempo útil daqueles que atingem uma certa idade. Os mais velhos não precisam ser tratados como “gente atrasada” ou como um fator de retardamento do futuro. Tudo aquilo que fizeram ou construíram não precisa ser simplesmente descartado. Eles tiveram seu valor a ainda poderão contribuir sempre com a pavimentação de uma estrada rumo a um futuro brilhante.

Agora, o que precisa ser analisado é se a “eternalização” de alguém se dá em função do nome que conquistou e da dificuldade de alguns mais velhos em dar espaço a quem está chegando ou se da falta de novos talentos e do desinteresse dos mais novos em assumir responsabilidades. O natural, no caso do futebol, seria que os “velhinhos” que, por seu talento, realizaram proezas no campo, pudessem ocupar outros espaços no setor. Poderiam pensar em renovar as equipes técnicas, uma vez que as opções nesta área são cada vez menores. Poderiam passar a ser dirigentes esportivos, para agregarem sua experiência de dentro do campo com a administração fora dele. Não precisaria ser dentro do campo, necessariamente. Seria muito mais útil e saudável.

Da mesma forma, em qualquer organização, é preciso usar o que cada um tem de melhor, na sua função certa. Não dá para jogar só com o nome. O ideal é que a experiência, a resistência e o legado dos mais velhos convivam harmonicamente com a energia, o vigor e a inovação dos mais novos. Se os mais experientes não precisam e não devem ser descartados, também não é saudável fossilizar modelos e métodos somente porque “sempre foi feito assim” ou porque alguma alteração neste sentido seja um desrespeito à memória e ao trabalho dos que vieram antes de nós. O antigo não é bom só por ser antigo nem o novo é ruim só por ser novo. E o contrário também é verdadeiro.

Mas tem um outro lado. Olho para a minha geração de cristãos e percebo que, à semelhança do futebol, parecem rarear os elementos que podem substituir e tocar a bola para frente. Não que falte talento. A turma de jovens hoje, moçada entre 20 e 35 anos, talvez seja uma das gerações mais privilegiadas que já tivemos no Brasil. É gente que estudou, que conseguiu melhorar sua condição de vida, que arranja bons empregos, que galgou postos de influência em áreas mais diversas da sociedade. Mas é uma geração que não é muito dada a compromissos. Não sabe direito o que quer. E por isso, quando assume os postos que tanto almejaram, acabam fazendo um servicinho tão merreca, que abrem espaço para a volta daqueles que já tinham ido…

No Reino de Deus, ninguém é velho demais que precise ser descartado, nem novo demais que não possa ser aproveitado.

E bola pra frente, que é ano de Copa do Mundo!