O cheiro de mofo faz coro com a frase “No tempo em que eu era moço!”.
Cabelo branco, andar manco, pele enrugada, olhos no fundo do poço.
Paredes limpinhas, o chão brilhando, cheiro de desinfetante, de hospital.
A última impressão que se tem dessa terra, talvez seja a mais real!
Impotência, desventura, não há mais em que se gloriar, o sonho acabou.
As marcas revelam um passado intenso, a esperança num tempo que nunca chegou.
Quando eu crescer, quando me casar, quando eu for rico, quando eu emagrecer…
O futuro quando chega é presente e o que importa é o “quando eu morrer”.
Móveis antigos, sonhos antigos embolorando num canto do quarto.
Cabelos, músculos, comida, tudo é ralo, só o estoque de remédios é farto.
A pax romana decretou o toque de recolher, o fim da correria.
A tirania, o braço de ferro da velhice, é o que dita o ritmo do dia-a-dia.
O tempo do ronca, que se amarrava cachorro com lingüiça, tempo bom, não volta mais!
Passaram a vida correndo atrás do futuro, agora o que mais querem é voltar atrás.
O asilo é o salão de espera do cemitério, a conclusão de uma vida sem Deus.
Abriga o pai, enquanto espera o filho, como o menino da música “O couro de boi” entendeu.
Mas, pra quem espera a ressurreição, a qualquer idade ainda se é criança.
O asilo é o saguão de embarque, do trem que parte, rumo à gloriosa esperança!
Os olhos baços rebrilham mais uma vez; a mão trêmula e suada aperta o bilhete ao coração!
Do fundo do baú, uma canção empoeirada:
“Depois da luta, ganho a coroa, pra tras não volto, não volto não!”.
Para ruminar vida afora:
“Lembra-te do teu criador nos dias da tua mocidade, antes que venham os maus dias, e cheguem os anos dos quais dirás: Não tenho neles prazer; antes que se escureçam: o sol, a lua e as estrelas do resplendor da tua vida, e tornem a vir as nuvens depois do aguaceiro; no dia em que tremerem os guardas da casa, os teus braços, e se curvarem os homens outrora fortes, as tuas pernas, e cessarem os teus moedores da boca, por já serem poucos, e se escurecerem os teus olhos nas janelas; e os teus lábios, quais portas da rua, se fecharem; no dia em que não puderes falar em alta voz, te levantares à voz das aves, e todas as harmonias filhas da música, te diminuírem; como também, quando temeres o que é alto, e te espantares no caminho, e te embranqueceres, como floresce a amendoeira, e o gafanhoto te for um peso, e te perecer o apetite; porque vais à casa eterna, e os pranteadores andem rodeando pela praça; antes que se rompa o fio de prata, e se despedace o copo de ouro, e se quebre o cântaro junto a fonte, e se desfaça a roda junto ao poço, e o pó volte à terra, como era, e o espírito volte a Deus, que o deu. Vaidade de vaidade, diz o pregador, tudo é vaidade” Eclesiastes 12:1-8.