“Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, pensava como menino…” (1 Cor 13:11)
Tri… trimmmmm! Trimmmmm!
– Alô?!
– Alô, Ananda?
– É…
– Tudo bem, querida? Aqui é a Lica, sua discípula amada…!
– Oi, Lica. Tudo bem…?
– Como está o neném?
– Ele anda meio enjoadinho, acho que ele tá com…
– Ananda, eu te liguei por causa de uns lances que estão acontecendo aqui em casa, sabe, com o meu tio. Ananda, eu não agüento mais o meu tio. Toda vez que ele vem aqui, a gente se desentende.
– Lica, eu acho que…
– O meu tio, sabe… ele não deixa você falar, entendeu? Ele é barra… ontem eu quis só pedir um livro emprestado dele, sabe… é que eu vou fazer um trabalho no colégio, e ele tem um livro que, tipo assim, ia ajudar demais. Aí, sabe o que ele disse? Ele disse que… alô, Ananda?!
– Alô.
– Ah, tá! Ele disse que não ia me emprestar não, que se eu quisesse eu que comprasse ou pegasse numa biblioteca. Sabe, Ananda, eu fiquei tão chateada com ele… toda vez é assim, entende?
– Lica, eu…
– Te falei da viagem que a gente vai fazer, eu e os meus primos? Ora pela gente, viu? A gente sai na quinta agora. Faltam só alguns dias. A gente sai de noite. Vamuvê se a gente conversa melhor sobre isso depois do culto.
– Eu não sabia dessa via…
– Preocupa não, Ananda!!! Desculpa eu não ter te falado antes, sabe?! Olha, é de Deus! Eu senti de Deus, entende?! É tipo assim, o dinheiro eu arranjei com a minha prima, né… que ela recebe pelo BRB agora. Eu só vou ter que pagar a ela na volta. Eu preciso viajar, sabe?! Preciso mesmo, Ananda! Minha cabeça vai tipo estourar, tô muito estressada. Aí, quando a Dona Aldenora me pagar – ela me deve das férias, entendeu? – aí eu acerto com a minha prima. Essa minha prima não é aquela que você conhece não, é outra. Gente finíssima! Aquela eu nem quero mais papo. Sabe, Ananda… de repente até rola d´eu pregar pros meus primos, né? Eu pensei nisso também. Ora aí, viu? Ah, eu falei com o meu chefe.
– Humm…
– Pra falar a verdade, ele não queria me dar a sexta–feira. Aí eu orei antes e falei com a Dona Aldenora. Ele respeita muito a Dona Aldenora, sabe? Aí eu falei com ela… eu já te falei da Dona Aldenora, num já?
– Falou…
– Pois é, a Dona Aldenora foi hiperlegal comigo. Ela vai com a minha cara. Daí ela disse que ia falar com o meu chefe.
– E aí você comprou passagem.
– O meu primo já tinha comprado. Eu fiquei meio, tipo assim, pela fé, né?!
– Mas, Lica…
– Pela fé, Ananda, pela fé!! Olha, eu vou trazer uma lembrancinha de lá pra você…
– Não precisa se preocupar, Lica. O problema é que você…
– Ô, menina, eu não vou pro acampamento dos jovens.
– Puxa, mas eu falei com você que…
– Menina, com que dinheiro eu vou? Sente só: eu vou tá devendo pra minha prima e ainda vou batalhar o dinheiro pra voltar!
– Mas, Lica…
– Ananda, só esta vez! Vamos fazer assim, eu apareço lá no sábado e almoço lá. Aí a gente conversa um pouquinho e eu tenho discipulado com você. Eu não quero ficar sem o seu aconselhamento por muito tempo… e tem mais uma, a Dona Aldenora me falou que o meu chefe vai querer que eu trabalhe no sábado pra repor a sexta que ele não quer me dispensar, entende? Eu não posso me queimar com esse cara, muito menos com a Dona Aldenora. Ela tem sido muito legal comigo. Se brincar, por causa disso nem rola de eu ir lá no sábado. Só se for de carona com alguém.
– Bom, eu…
– Olha, na verdade eu só vou poder te ver no domingo, lá no acampamento.
– Só que vai terminar cedo.
– Cedo…tipo que horas? Não vai ter encerramento?
– Não, termina logo depois do café.
– Hummm…
– Humm…
– É…
– E aí?
– E aí digo eu! Aí, Ananda, você me espera, que eu… não, deixa… deixa pra lá. Aí é melhor a gente conversar de noite, depois do culto, né?!
– É…
– Eu sempre falo que vou conversar com você e nunca converso, né?! Mas olha, Ananda, deixa eu desligar. Eu só te liguei mesmo pra te dizer que você é uma bênção pra mim, sabe… Acho que eu tenho crescido muito, desde que eu comecei a ter você como conselheira. Sinto que meu caráter, minha vida cristã deram uma virada, entende? Espero que isso não mude nunca. Você é muito especial pra mim, Ananda!
– Obrigada…
– Não tem de quê. Só estou falando a verdade.
por Zazo, o Nego