Amigos, podem me achar um atrasado, um analfabeto tecnológico, um dinossauro digital. Mas detesto celular. Que me perdoem grandes amigos que trabalham na área das teles, mas se dependessem de mim, faliriam todas. Não gosto e só uso por estrita obrigação profissional. Fora desse âmbito, não uso, não ligo, não recebo, não envio pager, não mando mensagem. Nem sei como faz isso.
Essa coisa de ligação fora de hora mais cria um monte de problemas do que soluções. Esticaram nossa jornada de trabalho, criaram uma necessidade de avisar que “estou chegando em meia hora” (oras, pipocas, para que avisar?) ou ainda que “já cheguei” (oras, se chegou, apareça e pronto!). Criou mais uma fonte de desculpas esfarrapadas para justificar a incompetência (“Ah, eu tentei ligar mas deu caixa postal” ou “Não consegui avisar porque você estava fora de área” ou ainda, a mais tosca de todas: “Acabou minha bateria”. Gerou manias ridículas, sem pé nem cabeça. Tem aquele lance do cara que atende e fala: “Me desculpe, mas não posso te atender agora”. Ou estou ficando louco ou esse povo não tem miolo! Por que atendeu o telefone para dizer que não podia atender? E aquela gente que leva o celular na igreja e no meio do culto levanta para atender lá fora? No cinema, no teatro, no jogo de futebol, se fizerem isso, levam uma vaia. Na igreja somos obrigados a aguentar até isso. Pior ainda é que tem certas abençoadas irmãzinhas que conseguem esconder a praga do celular no lugar mais escondido da muvuca de suas bolsas. O bicho toca aquelas musiquetas horrorosas, sem eira nem beira, na maior altura, enquanto todo mundo se olha, perguntando-se lá no intimo “quem será o imbecil?”. Aí a infeliz sai, com a bolsa aberta pendurada pela mão, vai ali fora, fala baixinho “Ai, agora não posso, estou na igreja…”. Desliga o treco e volta. Não dava para lembrar de desligar essa porcaria antes de entrar? E quando a mana esquece de desligar e dali a pouco toca de novo?
Deus que me perdoe! Podem me chamar de chato também, incluindo este adjetivo à extensa lista que você a esta altura já deve ter usado para me cognominar. Mas vou deixando claro: não suporto isso. Acho essas coisas uma breguice, uma deselegância, uma coisa de barata que se lambuza do melado depois de muito tempo sem provar doce. Não é questão de ter nascido na época errada. É questão de saber usar direito o que a época de hoje oferece.
Já não bastava a implicância crônica de minha parte com os tais telefones móveis, a respeito dos quais já existem pessoas dizendo que “não se imaginam sem”, ainda há o pior de todos os agravantes: quando você realmente precisa dele, quando vai fechar o pedido, quando vai anotar o endereço, quando vai falar o número do voo, quando vai… bingo! A bendita linha cai. Só emergência. Sem sinal. Diz-se que há somente um lugar no país onde os celulares funcionam ininterruptamente, sinal maravilha, interferência zero: os presídios. Ali você consegue falar com qualquer pessoa, de norte a sul, de leste a oeste, sem ser incomodado. O serviço é cada vez mais caro e menos eficiente. Que o digam as reclamações do PROCON. Operadoras batem todos os recordes de queixas de todos os tipos. Só conseguem equiparar-se aos bancos e cartões de créditos, a respeito dos quais recuso-me a comentar neste espaço, em consideração ao meu seleto e educado público leitor.
Muito bom. Agora que desopilei o fígado e lavei a alma, deixe-me encontrar alguma relação disso tudo com Colunet. Não é que faltem aplicações. É que são tantas as vertentes que me perco em meio às possibilidades. Começo falando sobre as necessidades que a mídia e o marketing criam para nós, sem que precisemos absolutamente. Por que razão preciso de um telefone com vídeo, câmera, ventilador de teto e filtro solar, se o de que realmente preciso é apenas ligar e desligar? Acontece que seu filho vai sofrer como se fosse um idiota caso, aos 8 anos, não tenha trocado de aparelho pelo menos 3 vezes desde o começo do ano. É chique. É antenado. É moderno. E, obviamente, é caro pra burro. O aparelho pode até sair de graça, mas o custo para mantê-lo, certamente não. Necessidade ou imposição?
Prossigo sugerindo que, embora seja desejavelmente irreversível a convivência com a tecnologia de comunicações – uma vez que certamente ela não traz somente desvantagens, mas sem dúvida é útil até mesmo para salvar vidas e agilizar as verdadeiras necessidades da vida moderna – é mais do que necessário que paralelamente ao seu avanço, sejamos conscientes o mínimo possível para desenvolver uma ética social para convivermos com essas coisas. Isto vai desde o respeito ao tempo de descanso, de almoço, de horário de trabalho dos outros, até ao bom senso a respeito dos locais onde se pode ou não atender a um telefone. Professores estão às voltas com alunos desde o Ensino Fundamental, porque a praga do celular tem que ficar ligada na hora da aula; e se a escola toma alguma medida restritiva, os pais são os primeiros a reclamar. O sujeito está dentro do avião e precisa ligar. Dá a impressão que ele vai conseguir fazer a aeronave taxiar mais depressa se ele ligar o bendito!
Concluo dizendo que o problema não é a tecnologia, nem o celular, nem as empresas de telefonia (das quais não gosto, mas se quiserem patrocinar o Efeito Estufa, aceito com prazer, desde que não seja obrigado a mudar de opinião a respeito do que expus acima). O problema é que a gente ainda não aprendeu a usar seus benefícios em nosso benefício, com o perdão do trocadilho. Ao invés de facilitar a nossa vida, de nos ajudar, de tornar a vida mais leve e solta, criamos uma algema a mais. Já viu aquela pessoa que fica na tal “Fora de Área” e fica quase maluco quando percebe que não tem mensagem alguma na Caixa Postal? O sujeito fica quase pirado. Mas como ninguém ligou? Mas por que não tem mensagem? Será que ligou e a caixa estava cheia? Aí ele começa a ligar de volta para aqueles que ele achava que tinham que ter ligado. Fala sério! É ou não é uma escravidão?
Se não concordarem, liguem para mim.