Israelenses acompanham a evolução do conflito sírio

O ódio ao Estado judeu une apoiadores e adversários do presidente sírio Assad. Não importa quem ganhe, Israel precisa se preparar para tempos difíceis e imprevisíveis. A Síria é um campo de batalha que atrai terroristas de diversas facções. Extremistas sunitas lutam contra as tropas do presidente Bashar al-Assad por uma teocracia islâmica, e entre eles há combatentes do grupo terrorista Al Qaeda e suas ramificações. Do lado oposto estão combatentes xiitas do Hisbolá, oriundos do Líbano. Eles lutam para manter Assad no poder por interesses próprios. A Síria forma, junto com o Iraque, que também é majoritariamente xiita, a ligação geográfica e política entre o Irã e o Líbano. Se Assad cair, o corredor de ligação do Hisbolá com seus apoiadores em Teerã seria interrompido.

Diante da tensa situação no país vizinho, o governo israelense opta pela cautela. É verdade que a força aérea israelense bombardeou diversos alvos na Síria, mas, de acordo com fontes oficiais, isso aconteceu apenas para impedir a transferência de armas para o Hisbolá e, assim, defender a segurança interna.

Israel trabalha com vários cenários para o período após a guerra civil na Síria. Dependendo do resultado, o Estado judeu terá de se adaptar a governantes de estilos e posições bem diferentes em Damasco e cada um deles deve apresentar desafios bem peculiares para Israel.

Diante de tudo isso, parte dos israelenses acompanha a situação da Síria com muita preocupação, avalia o especialista em Oriente Médio Elie Podeh, da Universidade Hebraica de Jerusalém.

“Batalha entre o ruim e o pior”

No entanto, explica o especialista, há quem veja a situação com outros olhos. “Para os otimistas, a guerra civil significa que os sírios estão ocupados com seus próprios problemas e, portanto, não representam uma ameaça para Israel.”

Porém, é claro que essa situação é temporária. Um dia a guerra vai acabar, e ninguém sabe o que virá depois. Não se pode prever como será a alternativa política a Assad, avalia Podeh. A esperança da maioria dos israelenses é por um governo moderado em Damasco.

No entanto, outros cenários menos tranquilizadores também são possíveis. Para o professor de ciências políticas Mordeshai Kader, do Centro de Estudos Estratégicos Begin-Sadat, a situação pós-Assad será mais difícil para Israel. Ele lembra que o Estado judeu não tem boas relações nem com Assad nem com os jihadistas. Se pudessem, ambos acabariam com Israel. “Na Síria, a nosso ver, não há uma guerra entre o bem e o mal, mas sim entre o ruim e o ainda pior”, diz Kader. Se as tropas da oposição ganharem a guerra, não se pode excluir a hipótese de que os jihadistas reivindiquem uma parte do poder político no país. Para Kader, isso criaria uma situação nova para Israel, que teria de, pela primeira vez, lidar com grupos como a Al Qaeda, a Frente Al Nusra ou a organização Estado Islâmico no Iraque e na Síria. “Por isso, algumas pessoas em Israel preferem Assad”, completa.

“Assad é o diabo – mas um que conhecemos”

Entre eles, continua Kader, está o próprio governo de Israel, que no fundo prefere que Assad permaneça no poder – afinal, ele já é conhecido e sabe-se como lidar com ele. Podeh compartilha dessa opinião. “Assad é um diabo, mas é um que já conhecemos, e isso é melhor do que um que não conhecemos”, comenta.

Mas é claro que a permanência de Assad no poder também traria problemas para Israel, lembra Kader, já que o presidente sírio tem uma relação próxima com o Irã. “E o Irã representa uma ameaça estratégica para Israel e outros países.” Podeh diz não acreditar que os jihadistas triunfarão na Síria. Eles seriam fracos demais para isso. “Mas se a Al Qaeda chegar ao poder, seria uma ameaça não só para Israel, como para todo o Ocidente.”

Hisbolá enfraquecido

No que diz respeito à ameaça oferecida pelo Hisbolá, que esteve em guerra contra Israel em 2006, os israelenses fazem uma avaliação positiva, ainda que cautelosa. O Hisbolá ainda tem muita força no Líbano, diz Podeh. “Mas sua importância no mundo árabe vem diminuindo em decorrência do apoio ao regime de Assad.”

Por isso, muitos países de maioria sunita se voltaram contra o Hisbolá. Mas sobretudo o engajamento da organização no conflito sírio trouxe consequências para a imagem dela dentro do Líbano. “A imagem se deteriorou e eles estão mais fracos. Essa é uma boa notícia para Israel e o Ocidente”, afirma Podeh.

Kader também observa uma crescente crítica ao Hisbolá no Líbano, tendo como pano de fundo as tensões sectárias. “No Líbano, há uma guerra oculta entre xiitas, sunitas, cristãos e drusos, o que poderia colocar o país todo em chamas.” Segundo o especialista, o próprio Hisbolá é o responsável por essa situação. Por isso Kader diz não entender a atitude de vários países europeus, que continuam a reconhecer o braço político da organização. “Ao agir assim, eles ignoram o terror que o Hisbolá espalha por Líbano, Israel e Síria”, completa Kader.