Amigos, um dia desses perdi um vôo por causa do mau tempo. O avião no qual estava não conseguiu descer em Cumbica porque o aeroporto estava fechado. Mas, por estas coisas que nenhuma companhia aérea explica, o da conexão que eu pegaria no mesmo aeroporto conseguiu decolar e eu fiquei na mão. Como sou sorteado para ser atendido sempre pelo pior funcionário de cada empresa, seja a Telefônica, a TAM, a Kibon ou a Padaria do China, caí nas mãos do Robson. Este, até para levar um susto era mole. Tentando manter uma calma que o momento não pedia, me explicou que: 1.Embora fossem 10 horas da manhã, o próximo vôo para Vitória sairia somente às 17h10 (falou isso como se fosse a coisa mais normal do mundo, como se fosse dali a uns 15 minutos). 2. Tinha, sim, um vôo em outra companhia que sairia em 45 minutos, mas ele não ia correr para ir atrás da minha mala, porque “achava que não ia dar tempo”. 3. Minha mala seria entregue numa esteira (o que era de se esperar), mas que eu tinha que descobrir por mim mesmo qual seria. Tudo isso com aquela cara lavada, de quem está lhe fazendo um enorme favor. Era mesmo meu dia de sorte. Quem merece um funcionário desses? Ah, que saudade do Comandante Rolim. Depois que ele nos deixou, só sobrou o tapete vermelho.
Para minha sorte, acabei encontrando o Airton. Este, na mesma função do primeiro, embora sem ter nada a ver com o meu caso, percebeu que o atendimento do colega não tinha sido um primor e se ofereceu para me ajudar. Parou o que estava fazendo e me acompanhou até que eu tivesse achado minha mala e conseguido um vôo um pouco mais cedo, apesar de ter que mudar de aeroporto. Resumindo, na prática quase nada mudou. Porém, a atitude do Airton fez muita diferença. Era preciso apenas um funcionário com a maneira correta de encaminhar as coisas para que muitos atritos e estresse fossem evitados. O desleixo do outro aumentou a indignação de quem não tinha nada a ver com o que estava acontecendo e passaria o dia todo esquentando a cadeira da sala de espera. Entendo perfeitamente que nem todos os problemas podem ser resolvidos, mas não admito que alguém simplesmente dê de ombros e assuma que não vai nem tentar fazer alguma coisa. Esta é a parte inadmissível. Gente assim, sem compromisso, sem vontade, que trabalha de olho no relógio esperando a hora de ir embora, que se limita a fazer o mínimo e às vezes nem isso, gente que não está nem aí para o babado, que não liga a mínima, que dá de ombros e diz que não é com ele, gente assim ainda me irrita profundamente. Até muito mais do que o problema em si, é a postura de certos elementos que geram a maior parte da insatisfação. É como o caso das (que Deus as tenha) atendentes de telemarketing.
Não imagino estar enganado quando digo que existem na igreja muitos “funcionários” como o Robson e poucos como o Airton. Encontramos mais gente encostando o corpo e dizendo que isso não é problema seu, do que alguém que se apresente e diga: “pode contar comigo; vou tentar te ajudar no que for possível, mesmo que o resultado não seja o que se esperava”. Cada um com sua desculpa, cada um com seus problemas, cada um no seu quadrado. E todo mundo se achando no direito de fazer só o que quer, só o que não dá trabalho, só o que não exige nada além do básico, do elementar. Não dá vontade de pegar uns crentes pelo colarinho e chacoalhar até cair as moedas do bolso para ver se eles acordam? Não tem um monte de Robsons fazendo escola, que chegam a desanimar aqueles poucos Airtons abnegados que ainda não perderam a visão de fazer desta empresa a melhor companhia aérea do país? Até quando? É tão difícil assim, tão sofrido, tão dolorido, tão penoso, fazer as coisas com um pouco mais de vontade, dedicação, compromisso e excelência? Será que arranca pedaço? Parece que quanto mais se fala nisso, menos a turma se dispõe e tomar vergonha na cara e dar um jeito na vida. Fica a nítida impressão de que estamos diante de um bando de lordes, dos quais precisamos implorar os favores imerecidos da atenção.
Na verdade, tem gente na igreja achando que está fazendo um grande favor a Deus. Imagine, Senhor Todo-poderoso, que eu podia estar a essa hora no clube, na piscina, no jogo de futebol, na mesa do restaurante, mas VEJA BEM, estou aqui, ó. O Senhor tem noção do que isto significa? Deixei todas estas coisas, que me eram lícitas e até merecidas, dada a semana corrida de trabalho, estudo e canseira a que esta vida maluca me submete ano após ano, e aqui estou. Então, o Senhor anote bem isto na sua caderneta celestial, porque mais dia menos dia eu estarei por aí pedindo os dividendos deste imenso sacrifício que ora realizo.
Será que precisamos do quê? Mais ensino, mais despertamento, mais visão do alto, mais vergonha na cara, mais hora silenciosa, mais reuniões? Mais treinamento, mais metodologia, mais cursos, mais sites, mais o quê?
Eu não sei o que precisamos, mas sei que esta maldita mania de sermos como o Robson e ainda querermos aumento do final do mês está acabando com a minha paciência. Não espero encontrar nas igrejas gente notável, bem preparada, de fina estirpe. Estou consciente de que em toda igreja, de qualquer estilo ou cor denominacional, de qualquer país do mundo, encontraremos não pessoas brilhantes, mas quando muito pecadores perdoados que lutam por viver uma vida melhor e mais santa. Inclusive deste pobre miserável que lhes escreve. Ninguém estará pronto para servir a Deus do jeito certo até que ele conclua sua obra em nós. Mas, sejamos sinceros: não dá nem para deixar que ele pelo menos COMECE sua obra em nós? Precisamos esperar o céu para conseguir chegar uma vez na vida na hora? Precisamos do arrebatamento para cumprir compromissos que assumimos com um discipulador ou com uma classe de escola dominical ou com uma equipe de visitação ou com nossas ofertas? Será que não estamos usando esta história de obra inacabada para mascarar aquilo que cabe a nós mesmos fazer neste processo todo?
Temo pela sorte do Robson. Se ele tem contas a pagar ou uma família para sustentar, o melhor a fazer é tentar mudar o jeito de trabalhar. Disse isso a ele. Não imagino que ele tenha dado muita bola. Chego a pensar que gente assim não muda tão fácil. Nem sei se mudam. Pode parecer pessimista da minha parte, mas acho mais difícil um relaxado tomar jeito do que um viciado em crack ficar limpo em dois meses. Não se assuste com a comparação. Na verdade, a falta de compromisso é um vício também. Ela começa como quem não quer nada. É só hoje. Não vai ser sempre assim. A irmã fulana cobre a minha hoje e na semana que vem estarei lá outra vez. Mas na outra semana surge outra coisa e a gente fura de novo. Quando percebemos, já nos tornamos pessoas em quem não se pode confiar e a quem não se pode confiar nada.
Precisamos de mais Airtons. Nem precisam ser Airtons Sennas. Aí já seria pedir demais. Mesmo que tenhamos que suportar por mais algum tempo os Barrichellos sem chance alguma de vitória e os Massas amarelões, Senna é um a cada 100 anos. Mas que sejam pelo menos Airtons de Cumbica. Já dá para criar alguma esperança de que dias melhores virão.
E não tardarão.