Um projeto de lei, conferindo ao Rabinato ortodoxo de Israel a autoridade exclusiva sobre a conversão de não-judeus ao judaísmo, divide o governo do país e ameaça gerar uma crise envolvendo o Estado e os judeus que moram fora de Israel.
De acordo com um projeto de lei elaborado pelo partido de extrema-direita Israel Beitenu e pelo partido ultra-ortodoxo Shas, o Rabinato de Israel deverá ser o único órgão responsável por autorizar a conversão de não-judeus ao judaísmo.
A lei poderá ter um impacto concreto sobre a vida de 300 mil imigrantes da ex-União Soviética, cuja identidade judaica é colocada em dúvida pelos rabinos ortodoxos, que exigem que a conversão seja realizada exclusivamente de acordo com os preceitos mais rígidos da ortodoxia.
Sem serem reconhecidos pelas autoridades locais como judeus, os imigrantes perdem o direito à cidadania automática e podem ter dificuldades de se casar e mesmo de ser enterrados em caso de morte, pois em Israel não existe casamento ou enterro civil.
A lei também exclui rabinos não-ortodoxos do processo de conversão, gerando protestos principalmente nos Estados Unidos, onde se encontra a maior comunidade judaica fora de Israel e onde a maioria dos judeus não é da linha ortodoxa mas sim de correntes consideradas mais moderadas do judaísmo, como a reformista e a conservadora.
União O primeiro ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, prometeu à liderança da comunidade judaica americana que fará todos os esforços para que o projeto de lei seja reformulado, para “preservar a união do povo judeu”.
O presidente das Federações Judaicas da America do Norte, Jerry Silverman, apoiou a posição do premiê israelense.
“Convocamos todas as partes a respeitar a direção proposta pelo primeiro ministro Netanyahu e iniciar um diálogo sério para superar as discordâncias sobre a lei”, declarou Silverman. “Acreditamos que por intermédio do diálogo seja possível preservar os elementos positivos da lei sem criar uma ruptura no povo judeu.” De acordo com o presidente da Agência Judaica, Nathan Sharansky, “o projeto de lei é profundamente prejudicial para o Estado de Israel”.
“Em um momento em que os judeus do mundo apoiam Israel contra uma campanha perversa de deslegitimação, essa proposta é vista por grande parte da diáspora como uma dúvida à própria legitimidade de sua religiosidade e identidade judaica”, declarou Sharansky.
A comunidade judaica dos Estados Unidos integra mais de 6 milhões de pessoas e mais de 80% delas não pertencem à linha ortodoxa do judaísmo.
A principal preocupação dos judeus americanos é com a possibilidade de que, após a aprovação da nova lei, judeus convertidos por rabinos reformistas ou conservadores não sejam reconhecidos pelo rabinato ortodoxo em Israel e não possam obter direitos de cidadania no país, assim desqualificando os principais líderes espirituais da comunidade judaica americana.
Se apoiar o projeto de lei, o primeiro ministro Netanyahu poderá gerar uma crise entre Israel e a comunidade judaica norte americana, que é um importante centro de apoio financeiro e político para o país.
Caso se oponha ao projeto e exija a igualdade de direitos para as correntes não- ortodoxas do judaísmo e seus líderes espirituais, o premiê correrá o risco de desestabilizar sua coalizão governamental que é baseada na parceria com o Shas e o Israel Beiteinu, autores da proposta de lei.