O psiquiatra de um padre pedófilo alemão, acolhido há 30 anos na diocese onde atuava o então cardeal Joseph Ratzinger, atual Papa Bento XVI, para fazer terapia, afirmou sexta-feira passada que a Igreja ignorou seus alertas, durante anos.
Quebrando o segredo médico, o neurologista e psicanalista Werner Huth conta na edição online do jornal alemão Süddeutsche Zeitung ter aconselhado o arcebispo de Munique-Freising a proibir o padre H. de trabalhar em contato com adolescentes.
O padre, identificado pela imprensa alemã como Peter Hullermann, “era narcisista como costumam ser os pedófilos”; não possuía “a capacidade de introspecção” e “não tinha o sentimento de que deveria mudar”, descreveu o psiquiatra que o acompanhou de 1980 a 1992.
Não se integrava verdadeiramente durante terapia de grupo, comparecendo às sessões “não por convicção, mas porque sentia a pressão de seus superiores”, acrescentou o médico no Süddeutsche Zeitung.
Em 1985, quando o cardeal Ratzinger já estava em Roma, o arcebispado alemão recebeu um laudo de 60 páginas assinado pelo doutor Huth com a seguinte conclusão: “considero que se exclua a possibilidade de o padre H. trabalhar com adolescentes”, conta o Süddeutsche Zeitung.
Há uma semana, no momento da revelação do fato, o arcebispo havia afirmado que “os conselhos do psiquiatra foram determinantes” em sua decisão de oferecer ao padre novas funções, o que chamou de “grave erro”.
Em 2008, o arcebispo de Munique-Freising havia pedido um novo parecer a um outro especialista, que considerou que o padre estava inteiramente apto a cumprir suas funções eclesiásticas. Desprezando o conselho positivo, as autoridades diocesanas acabaram por proibir o sacerdote de trabalhar com jovens e o nomearam capelão.
De novembro de 1986 a outubro de 1987, o padre H. atuou como abade num asilo de velhos, tendo sido nomeado, depois, administrador do conselho paroquial na comunidade bávara de Garching.