A jornalista Zineb el Rhazaoui, de 28 anos, não teve tempo sequer de colocar na boca o sanduíche com que pretendia romper em público, junto com um punhado de seguidores, o jejum do Ramadã no Marrocos. No entanto, El Rhazaoui e outros cinco jovens marroquinos serão julgados por descumprir essa abstinência sagrada para os muçulmanos, segundo anunciou a agência de imprensa marroquina MAP.
Através da rede do Facebook, El Rhazaoui convocou para domingo, na estação de trens de Mohamedia, a 20 km ao norte de Casablanca, um pequeno grupo de jovens laicos para “reivindicar a liberdade de culto prevista na Constituição marroquina”, salienta.
“Mais concretamente”, continua a fundadora do Movimento para a Defesa das Liberdades Individuais, “pedimos a abolição do artigo 222 do Código Penal, que pune a inobservância do jejum com uma pena de um a seis meses de prisão”, além de uma multa simbólica.
Da estação, pretendiam caminhar até um bosque próximo para comer um sanduíche nesse lugar afastado “e evitar cair na provocação”. Mas já na plataforma eram esperados por dezenas de policiais que também navegam no Facebook e que os obrigaram a tomar o primeiro trem de volta a Casablanca. Eles mesmos também embarcaram para garantir que fossem embora.
Na estação de trem também estiveram alguns islâmicos que desejavam agredir os “pecadores” e vários jornalistas marroquinos e estrangeiros, avisados por El Rhazaoui.
Essa presença estrangeira transformou, aos olhos do poder, o pequeno protesto laico em um complô. O conselheiro real Mohamed Moatassim se reuniu com os chefes dos principais partidos políticos, segundo revelou na quarta-feira o jornal “Akhbar al Youm”, de Casablanca.
“Os que querem comer em público contam com cúmplices estrangeiros”, revelou. “São os mesmos que estiveram antes por trás dos distúrbios contra a unidade territorial”, isto é, a favor da independência do Saara.