No ano passado, o segmento da religiosidade foi o que mais cresceu em faturamento e em exemplares produzidos e vendidos. A maioria dos best-sellers deste mercado, que vendeu 50 milhões de exemplares e gerou receita de R$ 321 milhões no último ano.
A trajetória da literatura da fé segue um padrão. Começa tímida, com livros artesanais e restritos a pequenos núcleos – uma casa, uma igreja, um templo, uma sinagoga -, até que o tema se torna popular e desperta a atenção dos que estão de fora. É quando o livro religioso deixa a invisibilidade e ganha as prateleiras das grandes livrarias.
No ano passado, o segmento da religiosidade foi o que mais cresceu em faturamento e em exemplares produzidos e vendidos, segundo a pesquisa “Produção e vendas do mercado editorial brasileiro em 2008”, divulgada recentemente pela Câmara Brasileira do Livro (CBL). Ao contrário dos levantamentos anteriores, no último ano a CBL contabilizou a venda nas igrejas – responsáveis pela comercialização de três milhões de exemplares em 2008.
A venda de livros pela internet, em supermercados e bancas de revistas, também foi decisiva para atender a um grande público cada vez mais interessado pela espiritualidade. O boom foi impulsionado pelos novos livros da fé, que não se limitam à doutrina religiosa.
A maioria dos best-sellers deste mercado, que vendeu 50 milhões de exemplares e gerou receita de R$ 321 milhões no último ano, transita na fronteira entre a autoajuda e a ficção. “Há uma forte tendência de sensibilização espiritual e de leitores ávidos por livros que falem de fé, sem falar de igreja”, avalia Sinval Filho, diretor da Associação de Editores Cristãos (Asec).
Os livros espíritas lideram o ranking dos mais vendidos nas principais livrarias do País, seguidos pelas obras cristãs e judaicas. À margem dos pontos de venda de destaque – responsáveis por 45% do mercado -, os livros evangélicos se fortalecem nos canais alternativos de comercialização: livrarias especializadas, vendas de porta em porta e igrejas. Apesar da falta de visibilidade literária, são eles os principais responsáveis pelo crescimento do segmento religioso.
Segundo a Asec, o mercado editorial evangélico cresce 25% ao ano, em sintonia com o aumento do número de fiéis da doutrina na população – são mais de 40 milhões de seguidores e 200 mil igrejas. O faturamento somado das editoras ultrapassa os R$ 300 milhões. “A profissionalização do setor vai garantir a presença dos livros evangélicos nas prateleiras nos próximos anos”, aposta Sinval Filho.
A falta de profissionalização das obras pentecostais, primárias na apresentação visual e organização editorial, já foi realidade para as publicações espíritas, excluídas das grandes livrarias pela falta de apelo comercial e ações de marketing. “Há dez anos, havia um preconceito contra capas atraentes em livros de espiritismo”, afirma Ari Dourado, presidente da Associação de Editoras Espíritas (Adeler). “A venda dos livros se restringia aos centros.”
A profissionalização do segmento colocou o espiritismo no topo das vendas após a reedição dos títulos antigos numa nova roupagem. Se os livros pentecostais seguirem o mesmo caminho, o mercado da fé deverá render ainda mais frutos.