Para algumas pessoas, ciência e religião são totalmente heterogêneas. Não para Fred Heeren, jornalista científico e autor do livro “Mostre-me Deus”, lançado pela Clio Editora no último 27 de agosto, em São Paulo. A obra utiliza o ceticismo para tentar mesclar fatos comprovados cientificamente com eventos baseados na fé, como descritos na Bíblia.
Para escrever o livro, o jornalista passou sete anos realizando pesquisas e conversou com alguns dos maiores cientistas da atualidade, como Stephen Hawking, e os ganhadores do Nobel de Física George Smoot e Arno Penzias.
Heeren, que já publicou trabalhos em jornais como “Boston Globe”, “Chicago Tribune”, “Wall Street Journal” e “Washington Times”, esteve no Brasil para ministrar palestra sobre os dois temas antagônicos e promover o lançamento do livro. Aproveitando sua estadia em São Paulo, o portal eBand conversou com o autor sobre o livro, sua visão da ciência e da religião e no que ele, de fato, acredita.
O que o levou a escrever o livro “Mostre-me Deus”?
Eu acho que tudo começou quando eu estava em uma época difícil da minha vida, quando perdi três membros da minha família e muito dinheiro no emprego. Em um dia, eu lembro que olhei para as estrelas à noite e me perguntei se haveria um Deus ou não. Isso se transformou em uma pesquisa de sete anos pela resposta.
Você acha que poderia haver algum tipo de confirmação da existência de Deus? Por exemplo, um telescópio poderia conseguir uma imagem de antes do Big Bang (teoria que explica a criação do Universo após uma grande explosão de matéria condensada)?
Fisicamente, é impossível. Não podemos ver o que aconteceu antes do Big Bang, a relatividade de Einstein impede de vermos o que acontece antes. Acho que Ele quer que realmente acreditemos nEle sem provas. A ciência provavelmente nunca irá provar isso.
Quando a ciência cruza a linha da religião?
Ciência é estudo empírico, geralmente no universo físico. Se tentarmos cruzar a linha, não seríamos objetivos, pois haveria a ciência de cada religião e não teríamos um modelo único para ser analisado. O que acontece é que as pessoas estão erradas em tentar provar Deus. Nós podemos escolher no que acreditar, se estamos sozinhos, se tudo foi por acidente. Eu acho que muita gente procura ciência moderna na Bíblia, e isso está errado. Não estamos tentando endereçar pontos, mas entender os que queriam dizer.
Até o século 19, havia a idéia de que o Universo era eterno. Mas descobrimos que isso está errado, pois sabemos que houve um começo – e aí vemos que algo deve ter causado isso. Sem contar que há o problema da sintonia fina. As constantes necessárias para que as estrelas e a vida existam foram muito improváveis.
Você acredita que exista vida fora da Terra?
Muitos astrônomos acham que não podemos estar sozinhos, pois as condições de vida estão lá fora e são possíveis. Eu acredito que há 50% de chance. Se existe um Deus, e ele criou um universo tão grande e tão velho para haver vida em único lugar, seria estranho. Mas isso tudo poderia ter acontecido porque teria que ser dessa forma para que a vida surgisse.
E vida inteligente?
Em termos científicos, não sabemos. Só temos um exemplo de vida inteligente. Poderia haver muita vida no universo inteiro, mas poderíamos ser os únicos a ter inteligência. Se houver um Deus, seria obra dele fazer isso, ou ao menos manter-nos separados: precisamos de centenas de anos luz para chegar até a próxima estrela e é difícil superar a distância.
Por que as pessoas encaram a ciência como um assunto complicado?
Por milênios, elas podiam ver as estrelas. Agora não mais por causa da poluição. Isso as faz esquecer sobre o universo acima de nós. Mas se não respondermos às grandes questões da humanidade, quem vai? Responder coisas como “como diabos cheguei aqui?”, saber como fomos criados… são perguntas naturais do ser humano.
Você segue a mesma linha do astrônomo e escritor Carl Sagan (famoso pela série televisiva Cosmos nos anos 80)?
Ele tinha o mesmo respeito pela ciência, tínhamos muitas coisas em comum. Mas ele é agnóstico e eu sou cristão e acredito em Deus e Jesus.