Depois de seis dias de silêncio, a primeira dama e coordenadora de comunicação do governo do presidente Daniel Ortega, Rosario Murillo, afirmou que o documento sobre relações da Igreja Católica com a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) foi enviado por um hacker que sabotou sua caixa de e-mail. Ela também culpou a direita e aos meios de comunicação pelo vazamento.
Rosário disse que o documento é uma “manobra midiática”. O governo não tem nem um minuto de tempo para fazer eco a fantasias políticas e perversas campanhas -só o esvaziamento espiritual pode conceber em lançar esse tipo de campanha perniciosa, argumentou a primeira dama.
Os supostos implicados no envio do e-mail de imediato esclareceram que não enviaram nenhum correio e qualificaram fora de toda realidade o argumento de Rosário.
O deputado sandinista e chefe de bancada da Assembléia Nacional, Edwin Castro, disse que era uma opinião de Orlando Nuñez e que deve respeitar-se como tal.
O governo enviou um emissário para conversar com a hierarquia da igreja pedindo uma reunião com os bispos antes do dia 12 de maio.
Até a terça-feira não se tinha conhecimento por que o governo não emitira palavra oficial sobre o documento que circulou na quinta-feira, 30 de abril, remetido por correio eletrônico da Presidência.
O mail mostrava uma carta da primeira dama Rosario Murillo e uma entrevista assinada pelo assessor presidencial, Orlando Nuñez Soto, a qual dizia que os bispos eram corruptos, ambiciosos, mulherengos, pais de vários filhos e beberrões.
Nuñez teria entrevistado o padre Gregorio Risca, da igreja San Martin, da cidade de Juigalpa (a 144 quilômetros da capital), que lhe teria dito que a Santa Sé considera a Igreja Católica da Nicarágua como a mais corrupta da região. Risca assegurou à imprensa que nunca viu nem se encontrou com Nuñez.
Em reunião extraordinária na segunda-feira, 4, a Conferência Episcopal emitiu nota qualificando o documento como um ensaio de novela cheio de falsidades, com a intenção de deteriorar a imagem da igreja.
Os bispos pediram ao governo que esclareça a origem do texto difamatório.
Uma outra versão foi apresentada pela ex-comandante Doris Tijerino, da FSLN, alegando que o documento era obra de um hacker, que invadira o correio eletrônico da presidência da República.
Tijerino argumentou que a FSLN fez esforços incríveis para alcançar uma boa relação com a igreja, assim que não acredita que a autoria do texto seja oficial.
O bispo de Leon qualificou de cruéis e satânicos personagens do governo que, em repetidas ocasiões, verteram afirmações caluniosas contra a igreja Católica.
O bispo Bosco Vivas disse, ao Novo Diário, edição de 4 de maio, que a o governo quer destruir e desprestigiar a igreja, atingindo seus pastores com afirmações gratuitas.
O bispo de Manágua, Leopoldo Brenes, disse que o documento está cheio de falsidades porque os bispos vivem de forma singela. Brenes revelou que ora todos os dias para que não expulsem bispos do país, como ocorreu no passado.
Ele alegou, também, que a Igreja não é inimiga do governo, e adiantou que reuniu-se com autoridades para tratar da visita de 60 bispos do Conselho Episcopal Latino-Americano (Celam), que estarão na capital de 12 a 16 de maio.
Para o bispo Abelardo Matta, o documento faz parte de plano do governo para dar um golpe na igreja e tomar represálias contra sacerdotes estrangeiros, com o intuito de tirá-los do país.
O procurador dos Direitos Humanos, Omar Cabeças, conclamou igreja e governo à prudência.