Protestantes e católicos na Rússia esperam que a mudança de liderança da Igreja Ortodoxa com o novo patriarca, Kirill (foto), ocorrida nesse inverno, possa trazer paz às relações ecumênicas em 2009.
Em janeiro, a Igreja Ortodoxa Russa apresentou o primeiro novo patriarca desde os dias soviéticos. Kirill, que lidera as relações externas da igreja há vinte anos, sucedeu Alexy II, que morreu em dezembro.
Muitas igrejas evangélicas na Rússia atual experimentam discriminação. Organizações não-ortodoxas não são autorizadas a oferecer educação religiosa e algumas vezes têm problemas para se registrar e conseguir identidade legal. Mudanças do visto nas leis, feitas em 2007, têm afetado missões na Rússia, por exigir que estrangeiros deixem o país. Evangélicos, em particular, estão lutando contra o conceito de que cristianismo não-ortodoxo é estrangeiro e até não-patriótico. Willian Yoder, porta-voz da União Evangélica de Cristãos Batistas da Rússia (RUECB), explanou sobre a concepção popular de religião na Rússia: “Se você é russo, você tem que ser ortodoxo. Pela mesma equação, se você é batista, você deve ser americano”.
“Tecnicamente, a liberdade religiosa para todos os grupos é protegida por lei. Mas ela é frequentemente violada a nível local, com a instigação da hierarquia ortodoxa”, disse Anita Deyneka, presidente dos Ministérios Russos. “Protestantes e católicos são tratados como interesseiros. Pelo passado de Kirill, não acho provável que isso seja revertido”, completou.
Kirill, o décimo sexto patriarca de Moscou na história da igreja, é descrito pela mídia ocidental como um experiente, proeminente e até modernizador. Entretanto, ele dá ênfase ao próprio conservadorismo e, na campanha para a sua eleição, declarou em discursos que “Eu falo categoricamente que sou contra qualquer reforma”.
Não é claro o que o novo patriarca irá dizer sobre os batistas registrados da Rússia. Mas Yoder lembra o trabalho entre Kirill e a RUECB em promover os valores familiares e diz que, antes da eleição, Kirill havia sugerido retomar essas conversas.
Enquanto alguns consideram Kirill o mais independente dos candidatos para patriarca, a maioria assume que ele terá um relacionamento fechado com os líderes políticos da Rússia, mesmo se ajudar a igreja a readquirir alguma autonomia.
“O estado tem quase todo o controle nas mãos”, afirmou Felix Corley, editor da Forum 18 News, uma revista de liberdade religiosa. “Os ortodoxos não podem fazer com que o estado faça algo que ele já não queira fazer”. Ao invés da discriminação, observadores apontam que a liberdade religiosa tem melhorado muito na Rússia desde a queda da União Soviética. “Você pode desejar relações melhores, como o direito de construir igrejas melhores e maiores”, disse Michael Bordeaux, fundador do Instituto Keston, que estuda a religião em países que foram ou são comunistas. “Ao invés da lei restritiva de dez anos atrás, as condições estão boas para católicos e protestantes da Rússia atual”, completou.
Yoder concordou, especialmente quando a Rússia é comparada com países fronteiriços como Bielorrúsia e Uzbequistão, onde os direitos religiosos são piores. Hoje, ele disse, “protestantes estão correndo para a Rússia”.