Por que nos falta o tempo?

Amigos, por que sempre dizemos que não temos tempo? Não tenho tempo de visitar os amigos que moram em outra cidade. Não tenho tempo para caminhar. Não tenho tempo para orar, para ler a Bíblia. Não tenho tempo para ficar com a família, não tenho tempo para terminar a faculdade. Não tenho tempo para sair com as crianças. Não tenho tempo para conversar com meus pais. Não tenho tempo para me dedicar ao ministério. Não tenho tempo para o futebolzinho que evita a barriguinha. Não tenho tempo. Não tenho tempo nem para escrever esta coluna.

A verdade é quando alguém coloca uma ponte de safena e o médico diz que se não caminhar vai morrer, aí o sujeito arruma tempo. Quando morre aquele parente que a gente não conseguia visitar, a gente pára tudo e vai ao velório. Quando a coisa aperta, a primeira coisa que a gente lembra é clamar por Deus. Sem contar que a gente arruma um tempo para ver televisão, elas arrumam tempo para ir ao cabeleireiro, todos arrumam tempo para dar uma “olhadinha” na Internet. Se bobear, a gente consegue até um tempinho para ver o programa eleitoral gratuito. Em suma, encontramos tempo para tudo que queremos.

Tempo é uma questão de disciplina.

Tempo é uma questão de prioridade.

Tempo é uma questão de mordomia.

Todos os dias, à meia-noite, recebemos um depósito na conta-corrente de nossas vidas. 86.400 unidades caem na conta de todo mundo, rico ou pobre, analfabeto ou letrado, escravo ou livre, homem ou mulher, brasileiro ou argentino. É igual para todos. Você pode gastar onde quiser. É um enorme recurso que nos é concedido, que fica sob nossa responsabilidade. São sábios apenas aqueles que aprendem ao longo de suas vidas a fazer deles o melhor uso possível.

Então, não posso dizer que não cumpri minha obrigação porque faltou tempo. Não posso dizer que não consigo ir ao encontro semanal da minha célula porque estou sem tempo. Não posso dizer que não escrevi minha coluna porque não tive tempo. Que não preparei direito a minha aula da escola dominical; que não ensaiei o suficiente a execução daquele cântico; que não estudei para a prova; que não tirei carta; que não visitei minha tia Vanda; que não entreguei o relatório; que atrasei o TCC e perdi a colação de grau; que não fiz qualquer outra coisa por falta de tempo. Se outros fizeram e eu não fiz, ou até mesmo se eles também não fizeram, a culpa não é do tempo. Ele, como sabemos, é todo dia igual para todo mundo. Desde Adão e Eva, o dia tem 24 horas, 1440 minutos, 86.400 segundos. Para todos nós.

Que me resta, senão reconhecer que tudo aquilo que deixei de fazer não foi por falta de tempo, mas por falta de organização da minha agenda? Como posso culpar o relógio, se a culpa é da minha indisciplina, da ausência de estratégia, de planejamento, do estabelecimento daquilo que é importante, urgente ou absolutamente frívolo e dispensável?

Como discipulador, um dos temas que sempre abordo é a mordomia do tempo. Nesta lição, a atividade que o discípulo é solicitado a fazer é escrever minuciosamente sua agenda durante uma semana. A idéia é refletir com eles se sua agenda reflete valores eternos ou efêmeros e se existe alguma medida a ser tomada para, se necessário, inverter a situação. 90% dos alunos jamais trouxeram a tarefa. Curiosamente, a explicação foi sempre a mesma: “não tive tempo”. Nada mais didático.

Chega a ser surpreendente que um Deus eterno, para quem o tempo simplesmente não afeta em nada, nos eduque para cuidarmos bem do mais precioso tesouro que recebemos. Uma riqueza que, uma vez perdida, jamais pode ser recuperada. Por isso, entendo que ao administrar o tempo, estamos exercendo nossa espiritualidade. A forma como empregamos nossa cota diária de segundos reflete diretamente os valores, princípios e crenças que norteiam nossas vidas.

Agora preciso finalizar. Senão você não vai ter tempo de ler as outras colunas.

Pensando bem:

“Eu gostaria de poder ficar numa esquina bem movimentada, de chapéu na mão, a pedir às pessoas que me jogassem todas as suas horas desperdiçadas”.

Bernard Berenson