Na província central de Hubei foi preso, na véspera do Natal, um grupo de órfãos e voluntários cristãos que se preparavam para celebrar o feriado. Os agentes confinaram as crianças em um hotel e “convenceram” o dono do imóvel a despejar os locatários.
O caso foi denunciado pela Associação de Ajuda à China (CAA, sigla em inglês), uma ONG fundada nos Estados Unidos que trabalha pela liberdade religiosa no país.
O pastor protestante Ming Xuan Zhang – responsável pelo cuidado dos órfãos – passou os dias depois do Natal à procura de um novo local para o instituto dele, mas sem sucesso. O orfanato já funcionava há cinco anos no mesmo lugar.
Isso porque o diretor de segurança pública da aldeia de Sanhe, junto com funcionários da Agência Religiosa e do Departamento Unido do Trabalho, ameaçou os proprietários de terras que “ajudassem Ming.”
Líder de igrejas domésticas
Esta perseguição é justificada por causa do papel que o pastor Zhang tem nas igrejas domésticas não-registradas da China. Afetuosamente conhecido como “bicicleta”, o líder protestante já foi preso por 12 vezes pelas autoridades que estão tentando separá-lo das comunidades cristãs.
Em 2006, o presidente americano George W. Bush pediu para se encontrar com Zhang durante uma visita oficial na China. A permissão não foi concedida, por causa do “desaparecimento” inesperado de Zhang e de seu filho ( leia sobre o encontro de Bush com outros cristãos).
Na realidade, segundo a CAA, a polícia de Hubei o deteve e o manteve longe durante toda a estada do presidente norte-americano na China.
O líder protestante escreveu por duas vezes ao presidente chinês Hu Jintao em busca de justiça e pedindo uma trégua nesta campanha de perseguição contra ele e os órfãos. Ele não recebeu nenhuma resposta e as crianças continuam vivendo sem uma casa própria para elas.
Exigência de registro
O governo de Beijing só permite a prática do cristianismo evangélico se estiver subordinado, ou seja, registrado, ao Movimento Patriótico das Três Autonomias (MPTA) criado em 1950 depois que Mao Tsé Tung chegou ao poder. Nesse período, foram expulsos os missionários estrangeiros e presos os líderes cristãos chineses. Estatísticas extra oficiais dizem que na China há 10 milhões de protestantes oficiais, ligados ao MPTA.
Os protestantes não-registrados se encontram em igrejas domésticas clandestinas e são estimados em mais 50 milhões. Durante o último ano, o governo prendeu 1958 deles, entre os pastores e crentes.
Campanha
Segundo um documento secreto do partido Comunista da província de Hubei, que veio a público em novembro passado, há uma campanha em curso na China para legalizar as igrejas protestantes clandestinas lhes oferecendo duas possibilidades: unir-se ao Movimento Patriótico das Três Autonomias ou ser suprimida.
A campanha está em oposição clara às diretrizes da ONU sobre liberdade religiosa, que proíbem a distinção entre atividades religiosas que são lícitas (porque são controladas pelo estado) e atividades que só são ilícitas porque não são controladas pelo governo.