Detesto Olimpíadas

Amigos, não é de hoje. Minha birra vem de tempos. Inclusive há quatro anos já destilava meu fel contra os Jogos Olímpicos aqui mesmo, nesta coluna (Olim-piada, de 15/05/2004). Não consegui mudar de idéia neste tempo. Para mim, as Olimpíadas são um dos espetáculos mais deprimentes da humanidade. Feita para mostrar o que os povos não são. Por exemplo, a China do Ninho do Pássaro não é a China de verdade. Disso ninguém mais duvida. Se bem que, em alguns momentos, eles nem fazem mais questão de esconder. É censura de jornalista, é pirataria até na abertura. Coitada da menininha cantora foi trocada por uma dublê, porque era gordinha e dentuça. Isso não se faz. É uma desumanidade.

Conforme os jogos iam acontecendo, vi outros motivos para não gostar deles. Como é que pode? Na Geórgia, todas as duplas de vôlei de praia são brasileiras! Dois brasileiríssimos, nordestinos, que nem se sabe se um dia pisaram naquele lugar, jogando como mercenários (uso o termo não ofensivamente, mas o que ele significa: gente contratada para lutar por outro país, ganhando para isso). Ridículo. Tem duas moças também que fizeram o mesmo. Ridículo também.

Aí sumiu a vara da saltadora brasileira. Ela não ia ganhar mesmo, mas isso não pode. Se fosse no Brasil, o mundo ia falar que somos despreparados, mal-educados e não sei mais o quê. Como é na China, uma cartinha de desculpas, mas sem assumir a culpa e estamos conversados. Queria ver se fosse a vara da russa Izimbayeva se ia acontecer a mesma coisa.

E então, vem a pífia participação do nosso querido Brasil. E aqui se esgotaram definitivamente as minhas chances de gostar de Olimpíadas. Fomos envergonhados. Passamos a maior parte do tempo para baixo do 40º lugar e conseguimos terminar atrás de “potências mundiais” como a Jamaica, o Quênia, a Bielo-Rússia e a Etiópia. Pelo menos ficamos na frente da Argentina, que também só consegue ganhar no futebol. Fazer Jogos Olímpicos no Brasil para quê? Para enriquecer os bolsos de uma meia dúzia? Qual a nossa tradição olímpica? O Brasil é um fracasso com aquele nojento do Nuzzman se achando uma potência. O cara é arrogante e prepotente para dizer o mínimo. Sem contar que em quase todas as federações desportivas do Brasil, incluindo a CBF, a história se repete. Cada uma é um feudo, uma terra com figurinhas carimbadas.

Mas estamos tão carentes de heróis, a mídia tão sedenta por novas vinhetas e imagens, que quase mataram o pobre Cielo (de quem, aliás, pouco se ouvira falar antes, a não ser aqueles ligados diretamente à natação). Foi ridículo ter que passar o rapaz na TV em todas as situações possíveis e imagináveis, já que só tem ele. “Agora vamos ver o Cielo acordando”. “Agora o Cielo vai dormir”. “Agora vamos ver o que a mãe do Cielo cozinha”. “Agora vamos entrevistar a vó da vizinha do Cielo”. Pela madrugada! O cara não agüenta mais e nós também não! Sabemos tudo e mais um pouco sobre o sujeito. Que coisa mais sem assunto.

Aí veio a Sopa Maggi. Essa até que foi legal. Ela é uma moça simpática, parece humilde. E depois as meninas do vôlei, que estavam visivelmente mais preocupadas em dar uma resposta aos que as criticaram quando perderam na última Olimpíada. Fazendo sinalzinho de “cala-boca” para as câmeras. Não vejo que resposta elas deram. Perderam muito mais do que ganharam e quando foram criticadas, as críticas eram corretas. Na Olimpíada anterior, depois de estarem ganhando o último set por 24 a 19 elas conseguiram perder a vaga na final e ainda jogaram a decisão do bronze com uma má vontade incrível, tomando uma tunda de Cuba. É claro que faltava equilíbrio emocional. Desta vez não foi assim, parabéns para elas. Mas não deram resposta nenhuma. Não fizeram mais do que obrigação. O vôlei é um esporte que no Brasil tem a melhor estrutura, os jogadores ganham muito bem, obrigado, jogam fora do país, tem um centro de treinamento de Primeiro Mundo e tem mais é que ganhar mesmo.

Ótimo também foi baixar a crista do Bernardinho, cuja arrogância estava ficando insuportável. Ele, a quem elogiei aqui mesmo nesta coluna (O Dream Team está aqui, de 01/09/2004, onde antecipava o passeio chinês na Olimpíada do pequinês), passou do ponto. Já estava se achando. Eles não ganharam a prata. Quem ganhou a prata foi a geração de 84. Eles perderem o ouro mesmo.

Faço esta reflexão, primeiro por ser o assunto do mês. Não porque esteja exatamente preocupado com o Comitê Olímpico Brasileiro. Mas principalmente porque vejo lições que podemos aprender, oportunas, para a nossa geração de cristãos. Ora, analise comigo.

Nossos resultados olímpicos são proporcionais aos investimentos feitos. O Gavião Bueno citou domingo no encerramento da Olimpíada estudos europeus mostrando que são precisos 2000 atletas amadores para formar um olímpico. Ou seja, enquanto não tivermos uma cultura olímpica, não podemos esperar melhores resultados. Em toda e qualquer área da vida é assim que funciona. Fazer sempre do mesmo jeito vai gerar sempre os mesmos resultados. Quem não investe, não ganha. Quem não semeia, não colhe. Tem gente que acha que é só sentar, olhar os outros e orar. Tudo se resolverá automaticamente. Em nenhum lugar funciona assim, nem na igreja. Os que com lágrimas semeiam são os que com júbilo ceifarão. Os que oram e cantam pedindo chuva, mas não jogam a semente, não vão colher nada. Não vai brotar nada de torrões de terra.

Nossos resultados olímpicos são proporcionais ao planejamento feito. Os países que ficaram na nossa frente têm alguma coisa em comum. Mesmo que por motivos errados, como a propaganda política, eles se organizaram, planejaram, construíram centros de treinamento, contrataram técnicos, nutricionistas, especialistas, os melhores em cada esporte. Nada aconteceu por acaso. A China, por exemplo, se preparou tanto que até exagerou. O planejamento é fundamental. É incrível que até hoje ainda há pessoas que pensam que a organização é coisa “do mundo”. É que estamos tão acostumados ao improviso, à chamada “gambiarra”, ao padrão onde tudo está bom e, especialmente, a achar que qualquer resultado serve, que qualquer movimento no sentido de fazer a coisa bem feita já é logo rotulada como “pretensão do homem, tentando fazer o papel do Espírito Santo”. Ai de nós.

Nossos resultados olímpicos são resultado de esforços individuais, não de um trabalho coletivo. As medalhas de ouro da Sopa Maggi e do Cielo vieram porque eles foram atrás. Não foi fruto de uma coordenação bem feita, porque esta, como vimos, simplesmente não existe. Não foi o Brasil que ganhou ouro, foram os dois atletas e suas famílias. A do vôlei feminino ainda vai. Mas as outras, não. Da mesma forma, o que mais vejo nas igrejas que conheço é uma meia dúzia de abnegados se matando para carregar nas costas um bando de gente sem compromisso. Os que querem conseguir alguma coisa são heróis solitários. Ao contrário de apoio, recebem paulada de tudo quanto é lado. Se ousam brilhar, são logo atacados. Parece que trabalhar em equipe, dividir os elogios, andar ao lado de outros é coisa que interessa a poucos.

Pode ser que um dia o Comitê Olímpico Brasileiro acorde. Os cristãos? Quem sabe…