Estados muçulmanos da Nigéria aplicam versão moderada da sharia

Com a população de aproximadamente 140 milhões, a Nigéria não só é o país mais populoso da África, como também é o único que tem quase o mesmo número de cristãos e muçulmanos. Esse é um dos motivos pelos quais a Nigéria é uma federação com 36 Estados que gozam de um alto grau de independência do governo central. Uma das conseqüências dessa independência foi a implementação da lei sharia, desde 1999, nos 12 Estados do norte onde predominam os Estados muçulmanos.

O islamismo voltou com força na época dos anos 80, quando jovens muçulmanos exilados pela revolução iraniana retornaram para fundar suas próprias mesquitas. Às vezes, mesquitas oficiais eram atacadas. O novo islamismo preencheu um espaço que estava à beira de um colapso de serviços locais e de federais, desde manutenção de estradas à educação, em uma época terrível de má administração. Os novos grupos muçulmanos assumiram e preencheram esse vazio, assim como fizeram igrejas evangélicas e pentecostais no sul onde predominam os cristãos.

A declaração da lei sharia foi apresentada como uma tentativa de restabelecer moralidade e integridade em uma terra corrupta. Mas com isso veio o que Sherba Garba, ex-muçulmano e agora membro do conselho geral das Igrejas Evangélicas da África Ocidental, descreve como políticas “muito discriminatórias”. Ele diz que os cristãos não conseguem terras no estado de Kano no qual construiriam igrejas; não há financiamento do Estado de escolas para cristãos. Milhares morreram em confrontos entre muçulmanos e cristãos. Em Dutse, capital do estado de Jigawa, 16 igrejas foram queimadas e milhares de pessoas ficaram desabrigadas em uma revolta no ano passado.

Possível mudança para melhor

Mas as coisas podem estar mudando para melhor. Alguns governos do Estado islâmico no norte têm respondido à pressão feita por seu próprio povo para mudar, implementando políticas baseadas na lei sharia, mas que até os Estados Unidos e a Inglaterra podem apoiar. Uma autoridade no estado de Kano afirma que um plano “mais pragmático e realista” está sendo traçado para reconciliar os valores muçulmanos e ocidentais.

A rede de educação oferece o exemplo mais perspicaz dessa nova abordagem. Cada vez mais, crianças em Kano estão sendo enviadas por seus pais para “escolas integradas Islamiya” privadas. Diferentemente das escolas do Estado baseadas no Alcorão, em que o currículo escolar é dedicado apenas para estudos árabes e do Alcorão, as escolas integradas, que são subsidiadas pelo governo do Estado, oferecem um currículo mais amplo, incluindo inglês, matemática, ciências, saúde, caligrafia e a língua local hausa. Muitas escolas, raramente, aceitam o número igualitário de meninos e meninas.

A Agência dos Estados Unidos para Desenvolvimento Internacional (USAID, sigla em inglês), aprecia a ênfase das escolas integradas na educação de meninas e sua tentativa de reconciliar a educação muçulmana e ocidental. Agora, a agência ajuda financiando uma dessas escolas. Umar Sanifagge, um dos dois comissários da lei sharia do Estado de Kano, acredita que essas escolas estão “chegando no momento certo… nós temos que alcançar o mundo globalizado e moderno.”

O programa educacional de Kano chamado “A Daidaita Sahu”, que significa, literalmente, “endireitem suas filas” (no mesmo sentido dos muçulmanos em uma mesquita), também busca a chamada “reorientação social” através de panfletos educacionais e programas de televisão que lidam com problemas tais como poluição, pequenos crimes e drogas. As pessoas são encorajadas, por exemplo, a reciclar as garrafas de plástico que estão amontoadas nas ruas.

O diretor desse programa, Bala Muhammad, diz que o programa é um sucesso porque tem suas raízes na mesma lei sharia que o Estado introduziu em 1999; de fato, os comissários da lei sharia estão com o diretor. E agora o ministério de assistência britânico, percebendo que a intenção do programa é aumentar os direitos femininos e reduzir a pobreza, está considerando a idéia de ajudar a promover o programa também.