Dezenas de cristãos são presos na Eritréia por causa da fé

A polícia e autoridades militares prenderam mais 68 cristãos em três operações de busca realizadas na primeira semana de janeiro.

As novas prisões de membros do movimento renovado da Igreja Ortodoxa e de igrejas protestantes sinalizaram para a ampla perseguição do governo eritreu contra os cristãos, cuja religião e liberdade de culto são consideradas ilegais há aproximadamente cinco anos.

Em uma onda de prisões sem precedentes, no dia 5 de janeiro, oficiais da polícia de Keren, norte do pais, detiveram oito funcionários de ministérios governamentais.

Os cristãos presos eram todos membros da Medhane Alem, um movimento renovado dentro da Igreja Ortodoxa Copta.

Os interrogatórios policiais tentavam forçar os oito presos – cinco homens e três mulheres – a identificar os líderes locais do movimento e a dar os nomes de todas as pessoas conhecidas por apoiá-lo.

Três sacerdotes da Medhane Alen estão presos há quase dois anos, e, há dez meses, 65 líderes leigos do grupo foram excomungados pela igreja por ordem do governo.

O comandante da delegacia de Keren disse às famílias dos oito presos que a ordem de prisão tinha partido de instâncias superiores.

“Essa é uma nova estratégia do governo”, comentou um cristão local, fazendo coro com o que pensam fiéis de outras áreas. Essa foi a primeira prisão que se tem notícia de funcionários do governo somente por causa de sua religião.

Mais prisões e Bíblias queimadas

No mesmo dia, a polícia da cidade de Assab, no sul, prendeu 25 cristãos que estavam em casa, no trabalho e na escola. Todos os 25 foram levados para o campo militar de Wi’a e submetidos a intensas pressões para renegar sua fé. Sete dos 25 cristãos presos são mulheres.

Advertências das autoridades de segurança de Assab indicam que as operações de busca de protestantes devem continuar.

Em outro incidente, ocorrido em 4 de janeiro, comandantes militares do Centro Militar de Sawa conduziram o que chamam de “verificação aleatória das atividades de cristãos extremistas” entre os recrutas.

Durante a revista de objetos pessoais dos jovens, funcionários militares encontraram 250 Bíblias que os estudantes cristãos usavam em seus momentos devocionais pessoais. Depois de queimar todas as Bíblias diante de toda base militar, os comandantes prenderam 35 dos estudantes adolescentes e ordenaram que eles fossem submetidos a severa punição militar, incluindo tortura física.

Presos espalhados por todo país

Em maio de 2002, a Eritréia fechou todos os grupos religiosos independentes que não estavam sob a liderança das religiões ortodoxa, católica, luterana ou muçulmana, as únicas autorizadas pelo governo. Qualquer pessoa flagrada prestando culto fora das quatro instituições religiosas, mesmo em sua casa, está sujeita a prisão, tortura e intensa pressão para negar sua fé.

As igrejas protestantes ilegais não conseguem registro legal, e, atualmente, a igreja ortodoxa e seu próspero movimento renovado também perderam a permissão.

No mês passado, o governo da Eritréia retirou da Igreja Ortodoxa Eritréia o controle financeiro e de pessoal. De fato, a denominação está sob o controle do governo desde que o patriarca Abune Antonios foi colocado sob prisão domiciliar e perdeu sua autoridade eclesiástica há 18 meses.

Mais de 2 mil cristãos, incluindo pastores e sacerdotes de igrejas protestantes e ortodoxas, estão presos em delegacias, campos militares e prisões espalhados por todo o país por causa de sua religião. Embora muitos estejam presos por meses e até anos, ninguém foi acusado oficial nem teve acesso a um processo judicial.

Em seu relatório de 2006 sobre liberdade religiosa, o Departamento de Estado dos Estados Unidos, colocou a Eritréia pelo terceiro ano consecutivo como um “país de preocupação específica”, designando-o como um dos piores violadores da liberdade religiosa no mundo.

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