Amigos, em pleno gozo de minhas merecidas férias de inverno, consegui tempo para me dedicar a uma atividade extremamente interessante. Tenho uma tese: a gente precisa manter a mente ativa, aprender coisas novas sempre, para não envelhecer muito rápido. Então, resolvi retomar meus estudos em espanhol e até em razão disso, descobri um dote de um velho amigo e companheiro de sala de aula, o Sérgio Ferreira (de Adolecrentes): pasmem os leitores, o homem é padeiro! Isso mesmo. Ele faz um pão da hora. A rigor, um pão de 6 horas. Como sou meio curioso nessa história de cozinha, fomos à luta.
Depois da aula de hoje, compramos os ingredientes, baratíssimos por sinal, e pusemos a mão na massa. E quanta massa! Tudo muito simples. Anotem aí a receita: para 1 Kg de farinha de trigo, você vai precisar de 10g de fermento em pó, água morna, farinha de trigo, açúcar, sal, um ovo (atenção moças e rapazes sem experiência: use apenas a parte de dentro e JOGUE A CASCA FORA). Só isso. Nem precisa de leite. Assim como você, achei que era só jogar tudo numa bacia, misturar a coisa e por para assar. Por um momento cheguei a sentir raiva de mim mesmo por ter gasto tanto dinheiro na padaria ao longo de toda a minha vida. Com tão pouco dinheiro, teria pão por três ou quatro dias, dependendo da fome. Mas eis que surgiu o “x” da questão.
O segredo não estava na receita e, a bem da verdade, nem na qualidade da matéria-prima. De fato, escolhemos os ingredientes não pela marca, mas pelo preço. Do melhor estilo “donas-de-casa-de-Belo-Horizonte”, nosso critério foi: a melhor farinha é a mais barata. Ovo, sendo de galinha, serve. Mas o pulo do gato não estava na farinha. Estava no processo.
Achei que seria mais fácil. Primeiro, dá-lhe amassar aquela bola. Amalgamar, juntar aquilo tudo numa massa uniforme, “sem caroços”, como insistentemente me cobrava o Sergião. Depois de envidar meus melhores esforços, ainda não estava bom. Tinha que amassar mais. Quando acabou, já estava me preparando para acender o forno. Que inocência! Tinha agora que ESPERAR DUAS HORAS para esta bendita massa crescer. Esperar duas horas para mim é uma eternidade. É quase o tempo de uma gestação. Quanta coisa se faz em duas horas. “Pois vá fazer”, dizia o mestre panificador. “Se não esperar, isto aqui não vira nada”.
Voltamos duas horas mais tarde. Incrível. A massa havia crescido mesmo, a ponto de podermos reparti-la em quatro pedaços. “Pronto”, pensei. “Agora vai. É só colocar na assadeira (quiçá no microondas para ir mais rápido) e correr pro abraço”. Nada. Toca abrir aquilo na raça, com rolo de macarrão (por que é rolo de macarrão, se a gente usa para fazer pão? Não sei ainda; fica para a lição 2). Estica daqui, puxa de lá. Não, não, assim não. Tem que ficar por igual. Estica mais, está muito grosso ainda. Mas como isso vai virar um pão? Que formato isso vai ter assim, esticado, desmilingüido, estrebuchado em cima da mesa fria, como um cadáver dissecado na aula de anatomia? Calma (ouvi muito esta palavra na aula). Você pode dar a ela o formato que quiser. Pode rechear. Pode fazer em quatro ou seis pães (fiz somente dois para não comer muito e engordar). O padeiro é quem decide o que vai ser e como vai ser. Pronto. Pode ligar o forno? Não! Incrível. Ainda não?
Não. Precisa agora esperar por mais DUAS HORAS. Verdadeiramente, esta foi a pior parte. A esta altura, depois de tudo isso, esperar mais duas horas? Esquece. Vou à padaria comprar pãozinho francês. Calma! Calma! Vai valer a pena, você vai ver.
Então chegou a hora do forno. Arre! Pré-aquecido. Asse por uma hora. Não seja curioso, não abra o forno enquanto assa, porque o ar frio de fora vai murchar o pão. Cuidado para não queimar. Não se esqueça de desligar quando dourar por cima. Dali a pouco, que delícia! Um pão de primeira, massa macia, uniforme, espetacular. Ah! Que obra de arte. Fora de série. Valeu a pena o esforço, a espera, a experiência.
O processo. O segredo é o processo. Se não seguir cada etapa direitinho, não vira nada. Precisa de tempo, esforço, dedicação e especialmente paciência. Dá de 10 a zero no pãozinho do seu Manoel da padaria. Nem se compara. Mas leva tempo e dá trabalho.
Se eu deixar que o Padeiro Celeste trabalhe na minha vida, ainda que ele encontre ali uma farinha de terceira, com o tempo ele me molda. Me amassa, estica, deixa esperando um tempão até que chega a hora de começar uma nova etapa. Me coloca no forno (se bem que ele é o único Padeiro que fica comigo no meio da fornalha) e faz virar alguma coisa boa.
Se eu souber esperar e confiar na sua capacidade, ele que começou boa obra em mim há de completá-la até o dia de Cristo. O processo é longo, demorado, difícil. Mas é o único jeito. A salvação não é algo estático. É um processo. Começa na minha conversão, mas segue com Deus operando em mim, atuando, trabalhando, interferindo, acrescentando, direcionando, falando muitas vezes e de muitas maneiras. Que paciência ele precisa ter comigo. Quantas vezes já repetiu as mesmas lições. Por vezes mesmo esqueço de que ELE é o padeiro, eu sou apenas a massa. Ele me fez e me faz do jeito que ele achar melhor.
Entendi porque certas coisas não acontecem tão rapidamente quanto esperamos.
Aprendi a lição do pão.
Pensando bem:
Something Beautiful
(Gloria Gaither)