“Falar de Jesus”

“Acaso, não foram os etíopes e os líbios grande exército, com muitíssimos carros e cavaleiros? Porém, tendo tu confiado no SENHOR, ele os entregou nas tuas mãos. Porque, quanto ao SENHOR, seus olhos passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é totalmente dele; nisto procedeste loucamente; por isso, desde agora, haverá guerras contra ti.” 2Crônicas 16:8-9

Conheci o Luiz quando era criança. Não entendia bem qual era a função dele na igreja. Ele vinha de Vitória (ES) para Resplendor (MG) – cerca de 200 Km quase todos os finais de semana de trem. Sempre ficava hospedado na casa de algum irmão da igreja. Passava o dia todo visitando alguns irmãos. De vez em quando se juntava a algum irmão e, juntos, iam passando visita nos irmãos da zona rural da nossa pequenina cidade.

Meio doido aquele cara! Se ficasse na fila da estação de trem para comprar passagem, antes de chegar a sua vez, ele falava de Jesus para os três caras da frente e para os dois de trás!

Uma ou duas vezes por ano ele me levava para participar de um acampamento em Vitória organizado por uma das igrejas locais. Ele se responsabilizava com meus pais pela minha segurança e, graças à sua tutela, conheci muitos irmãos de várias igrejas fora do meu pequeno nicho.

Certa vez ele me disse que queria ser missionário na Albânia. Estava orando para que o Senhor lhe abrisse as portas e ele pudesse entrar naquele país até então completamente fechado para o Evangelho. Eu nem sabia onde ficava a tal Albânia.

Nossa família se mudou de Resplendor em 1991. Algum tempo depois (não sei precisar bem), Luiz atendeu o chamado do Senhor. Deus não o enviou para a Albânia. Sua missão estava reservada junto aos povos indígenas. Ingressou na Missão Novas Tribos do Brasil, submetendo-se a vários anos de treinamento em missiologia, teologia, lingüística e enfermagem para “falar de Jesus” aos índios.

Antes de partir, casou-se com Cleide, uma enviada do Senhor com um chamado missionário semelhante, companheira idônea. Tive o privilégio de presenciar o casamento deles em Vitória da Conquista (BA). A partir de então eles partiram para a tribo da etnia Ka´apor em Santa Luzia do Paruá (MA). A proposta é que eles permaneceriam na tribo e teriam férias a cada cinco anos. Freqüentemente recebia e-mails com notícias do campo missionário onde o Luiz relatava as lutas, ressaltando as conquistas, glorificando a Deus pela provisão que sempre se mostrou presente em todo este tempo.

Na última semana, porém, recebi um e-mail do meu pai dizendo que o Luiz estava doente. Após um período súbito de emagrecimento, diarréia e dores abdominais, Luiz foi investigado por um médico em Teresina (PI). Luiz está com um tumor no intestino grosso com vários implantes secundários (metástases) no fígado. O e-mail pedia as orações dos irmãos e também que pudéssemos levantar uma oferta para cobrir a cirurgia que aliviaria o trânsito intestinal no valor de treze mil reais.

Tive dó. Fiquei indignado. Confesso. Não queria ligar pra lá. Não queria falar com ele. Não. Meu discipulador, o cara que me ensinou como estudar a Bíblia, que me ensinou como me comportar em um acampamento de jovens com uma doença tão terrível!

Amados, o amor de Cristo nos constrange verdadeiramente. O Senhor falou profundamente ao meu coração ao ler aquele email. Não era pelo pedido de oração ou pelo desafio da oferta. Mas o desejo intenso de honrar aquele irmão pela sua imensa dedicação à Causa do Mestre. “Falar de Jesus” é tudo o que o Luiz quer!

“Então, perguntarão os justos: Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou com sede e te demos de beber? E quando te vimos forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar? O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes.” Mateus 25:37-40.

Liguei para ele para me inteirar da doença (cujos detalhes vou me abster de contar aqui neste espaço) e orar com meu amigo. Conversei muito com ele. Como já trabalhei com pacientes oncológicos, conheço um pouco sobre as expectativas de vida de tumores como o dele. Disse a ele que depois da cirurgia ele seria submetido a sessões de quimioterapia para controlar as lesões tumorais. Sem rodeios ele me perguntou quanto tempo teria de vida caso todo o tratamento tivesse êxito. Respondi a ele que a expectativa de vida livre de doença no caso dele, quando o tratamento é bem realizado é em torno de três a cinco anos.

Preciosos irmãos, meu coração disparou ao ouvir a resposta deste servo do Senhor: “Fabrício, então você acha que eu poderei “falar de Jesus” ainda por mais três anos? Isto está muito bom!!”

EU SOU mostrou sua força e certamente está sendo glorificado através deste servo fiel a quem presto grata homenagem neste humilde artigo. As ofertas financeiras são necessárias, mas não quero falar delas para que não se pense que estou aqui choramingando por um pobre coitadinho. NÃO. Estou aqui prestando honra a um homem que entregou-se inteiramente ao Senhor, nisto procedendo loucamente (2Cr 16:8-9), porém alcançando eterno peso de glória e testemunho fiel do Evangelho de Cristo Jesus.

“Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” Romanos 11:36.

Amém

Para ajudar

Luiz Antônio Severino

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