No Egito, um atentado terrorista deixa dezenas de mortos e feridos. Um químico residente nos EUA é tido como suspeito e é “desaparecido” pelo FBI. As autoridades estadunidenses se recusam a dar qualquer tipo de explicação para a desesperada esposa do rapaz. E, enquanto isso, um agente especial do governo tenta descobrir algum resquício de humanidade em meio a este caos mundial e pessoal. Este é o painel de relacionamentos humanos e políticos proposto pelo filme O Suspeito.
Apesar do elenco contar com algumas “figurinhas carimbadas” de Hollywood (incluindo os premiados Jake Gyllenhaal, Reese Witherspoon e Meryl Streep) e do forte lançamento no mercado norte-americano (onde estreou em mais de 2 mil salas), “O Suspeito” não conseguiu captar o interesse do público, que deixou menos de US$ 10 milhões nas bilheterias daquele país. Tamanha frieza pode ser explicada por dois fatores básicos. Primeiro: as platéias americanas de uma maneira geral não estão preparadas para ver, num filme estilo blockbuster*, que seu país também usa métodos cruéis e desumanos de tortura para arrancar informações sigilosas de quem quer que seja. Também não faz parte do paladar médio americano ver seu governo praticando as mais impensadas atrocidades contra as liberdades humanas. Tais temas “caem muito bem” quando os filmes enfocam republiquetas latino-americanas ou, como reza a moda ultimamente, um país qualquer da África. A própria sujeira, na própria casa, ninguém quer ver.
O segundo motivo – talvez mais claro e certamente menos político – pode ser explicado por questões meramente cinematográficas: o filme, na verdade, não emociona. Seu roteiro é matemático e esquemático e sua direção fria e burocrática passa longe de qualquer criatividade estilística e/ou narrativa, muitas vezes assemelhando-se, estruturalmente, a uma mediana minissérie feita para televisão. Por mais que Jake Gyllenhaal e Reese Witherspoon caprichem em suas interpretações, “O Suspeito” não decola e não arrepia, assim como a atuação de Merryl Strip: tecnicamente impecável, mas cadê a emoção?
* O termo blockbuster não se refere àquela locadora multinacional mas sim a um grande sucesso do cinema feito pensando em atingir o grande público.