A diferença entre uma pequena embarcação e um transatlântico é que o pequeno barco pode mudar sua direção em 180º numa manobra rápida e radical, mas o transatlântico, para dar meia volta completa tem que navegar aproximadamente uns dez quilômetros.
Esse princípio pode ser aplicado a uma igreja que quer crescer. Ora, crescer é um desejo nosso. Nós queremos ser uma igreja grande, alcançar muita gente com o Evangelho, ter muitos outros ministérios, realizar grandes trabalhos evangelísticos, etc. Mas devemos desejar, antes de apenas sermos uma igreja grande, sermos uma grande igreja.
Isso diz respeito à alma da igreja, aos anseios de sua liderança e,
principalmente, à sensibilidade que seus membros têm à voz de Deus. Isso porque, para ser uma igreja grande apenas, poderíamos vender nossa consciência diante de Deus e fazer do ser igreja um processo de barganhar bênçãos, de explorar a boa vontade e a ingenuidade das pessoas, entrar em algumas ondas do momento e esquecer que qualquer cristão para seguir a Jesus deve tomar a sua cruz a cada dia e O seguir.
Não se trata de dar uma de raposa na fábula de La Fontaine que, por não conseguir alcançar as uvas, dá de ombros e diz: “Ah, estão verdes mesmo!” Não é que não reconhecemos que existem virtudes a serem imitadas nas igrejas que crescem por aí, mas, sim, que nós queremos crescer, mas jamais negociarmos a nossa alma.
Assim, nós queremos ser uma grande igreja, mas sabemos que muitas mudanças que sonhamos fazer, muitos sonhos que intentamos realizar e que muitos projetos que o nosso Deus ainda fará brotar em nossos corações, são mudanças, sonhos e projetos que, para realizá-los, teremos que navegar uns dez quilômetros para a frente. Não são alvos que alcançaremos com rapidez. Mas para sermos uma grande igreja não podemos desistir dos alvos mais nobres por eles serem mais difíceis de alcançar.
Nós queremos crescer, mas sem descuidar do discipulado, sem perder os ambientes de comunhão, sem baratear o Evangelho, sem esquecer que ser cristão ainda é dar amor aos pobres, aos órfãos e às viúvas. Nós queremos crescer, mas não a qualquer custo.
Ser uma igreja grande não é tão difícil, mas ser uma grande igreja é. Queremos crescer, mas para isso preferimos trilhar o caminho apertado do esforço digno, do respeito às pessoas, enxergando nelas o que Deus vê, se revoltando contra as injustiças, nunca diluindo o conteúdo do Evangelho que ainda diz: “arrependam-se e creiam”, se posicionando claramente contra os mercadores das Igrejas que preferiram ser apenas uma igreja grande e não uma grande igreja.
Uma grande igreja é obra do Deus Eterno, é projeto sobrenatural, não esforço humano, da carne. Como alguém bem disse a respeito das lições aprendidas com a Arca de Noé: “Lembre-se: a Arca foi construída por amadores, o Titanic por profissionais”. Nada tem o poder de substituir o poder de Deus na igreja. Absolutamente nada. Uma grande igreja é totalmente dependente do Senhor da
igreja, daquele que é o cabeça.
Uma grande igreja tem o coração e a mente de Cristo. Ela sonha os sonhos de Deus, é composta de pessoas que sabem que Deus não suporta o ajuntamento com iniqüidade. Apesar de possuir muitos membros, ela ainda é uma família onde todos podem receber sua porção de cuidado. Numa igreja assim, os membros já aprenderam a alegria da generosidade e do serviço. Quem deseja ser uma grande igreja está preocupado apenas em agradar a Deus e não a clientes que esperam só receber e nunca oferecer. O coração de uma grande igreja pulsa o amor e a entrega de tudo o que temos e somos. Uma grande igreja sabe que não pode agradar a dois senhores e não perde de vista a sua missão, mesmo que ela ainda esteja há uns dez quilômetros de distância.
por Clóvis Jr.