O vocabulário da liberdade – Exultação e Celebração

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Amigos, antes que alguém enfarte, vamos às duas últimas palavras da série. Elas são eletrizantes. Porque exultar quer dizer nada menos do que “dar pulos de alegria” e celebrar é o mesmo que “comemorar”. Estão, obviamente, intimamente ligadas às outras palavras que vimos até agora. Não é para menos. Como dissemos, esses termos fazem parte do vocabulário da liberdade.

Eu não recomendo a ninguém que repita a experiência, mas um dia resolvi explicar de maneira didática o sentido de “exultar”. Pedi que cantássemos um dos hinos mais conhecidos dos cristãos contemporâneos e que, na versão do hinário Hinos e Cânticos vai assim no seu estribilho:


“Exultai! Exultai, vós os filhos de Deus!
Exultai! Exultai todos vós que sois seus!
Oh! Vinde à presença de Deus vosso Pai
E, em nome de Cristo Jesus, adorai.”
(HC 607)

Antes de cantar a tradicional canção, que recebe a aprovação incondicional de todos, expliquei que durante a música, alguns de nós, previamente instruídos, iriam mostrar o que significava o que estávamos cantando. Até aí, tudo bem. Primeira estrofe, tudo normal. Quando chegou no estribilho, pedi que os jovens pulassem o mais forte que conseguissem. Era isso que eles estavam cantando, afinal: “Pulai de alegria, Pulai de alegria, vós os filhos de Deus”. Reconheço que foi uma dura lição para muitos. Alguns queriam rasgar aquela página do hinário. Outros queriam rasgar a minha cara em dois. Outros levantaram e foram embora. E, a propósito, resolvi a partir daí mudar a minha estratégia pedagógica. Até hoje tem gente que me olha torto por esta singela metodologia.

Entenda-me: a questão central não é se você pode ou não pode, que deve ou não deve, se está certo ou errado. Estou apenas dizendo que exultar é não poder conter sua alegria. É extravasá-la com toda expressão corporal que lhe for possível no momento. É lícito. Deveria ser normal.

Novamente repete-se o argumento e o contra-argumento. Todo mundo que pula, que dança, que se expressa corporalmente diante de Deus está sendo sincero? Estou certo de que todo mundo não. Tem muita gente que só quer o “oba-oba”. Tem muita gente cujo dia-a-dia denuncia que suas atitudes no culto não passam de manifestações da mais sincera hipocrisia, assim como as mentiras sinceras interessavam os Titãs. Tem muita gente que só está interessada em decibéis, passinhos, ritmo, acordes e sons. E, como diz o Ebenézer Bittencourt, “nem só de som viverá o homem…”

Entretanto, há outras áreas da igreja que são tratadas sem sinceridade, sem que isto incomode os mais conservadores. Por exemplo, você acha que todo mundo que contribui com a obra de Deus o faz com sinceridade? Ou alguém duvida que muitos dão dinheiro para controlar as coisas depois? Você acha que todo mundo que prega o faz com sinceridade? Ou alguém duvida que muita gente prega para mostrar como é bom de discurso? Vamos, por causa disso, eliminar as ofertas e a pregação do serviço cristão também?

Então, este não é um argumento justo com aqueles que são sinceros e que simplesmente escolheram um estilo diferente do nosso para louvar a Deus. O padrão do que é certo ou errado na nossa expressão de louvor não deveria ser o gosto de uma ou de outra geração, os esquemas importados ou impostos, que confundem Bíblia com cultura dos povos. A maneira de expressar sentimentos varia grandemente de povo para povo. Viajei para os estados do Nordeste e encontrei irmãos em Cristo cantando e louvando com sua música regional. Viajei para Angola e visitei igrejas onde jovens batiam seus atabaques e dançavam sua alegria de servirem a Deus. Viajei para o Illinois e, nas igrejas por onde passei, cantei clássicos como “Amazing Grace” e “How Great Thou Art”. Viajei para o Havaí e encontrei grupos locais louvando a Deus com suas roupas e danças típicas. Em nenhum dos casos entendi que era minha função julgar a sinceridade de cada um, só porque estavam expressando sua alegria em Deus de maneira algumas vezes diferentes da minha. Apenas entrei no ritmo e louvei a Deus com eles. Há tanto para comemorar, como libertos em Cristo, que não podemos mais ficar perdendo tempo em discutir como vamos fazer isso.

Imagine bem uma cena. Final de Copa do Mundo. Jogo empatado. Jogo duro. Brasil e Argentina. 48 minutos do segundo tempo, 30 segundos para o fim do tempo extra. Ronaldinho Gaúcho arranca pela direita, vai à linha de fundo e cruza. Sobe Kaká, de cabeça, com força, testa no canto direito do goleiro portenho. Gol do Brasil. Gol do título. O que você espera que vai acontecer de norte a sul do país e em cada canto do mundo onde houver um brasileiro que se preze?

Enganou-se. O Brasil pára e vamos fazer uma convenção de uma semana para discutir qual é o jeito certo de se comemorar um gol. Serão escritos artigos a respeito. Gol de Copa do Mundo é o mesmo que gol de Copa América? Gol no final do jogo pode ser comemorado com a mesma vibração que gol de começo de jogo? Será lícito pular para gritar gol quando o tento é conseguido de cabeça? Na Copa de 58, as pessoas comemoravam de que jeito? É certo mudar agora, depois de tantos anos?

Amigos, isso seria absolutamente inimaginável. Tem gente que vai sair pulando antes que a bola entre. Se você já foi a estádio de futebol, deve ter percebido que quando sai um gol, tem gente que você nunca viu mais gordo que te abraça como se você fosse o seu maior amigo. As pessoas simplesmente explodem de emoção, de alegria, de felicidade. Usando nossas palavras de hoje: as pessoas EXULTAM E CELEBRAM.

Acho que passou da hora de aprendermos isso. Muitos de nossos encontros se assemelham muito mais a um velório do que a uma celebração. Entoamos canções que parecem ladainhas. Quanto pior, melhor. Quanto mais horrível, mais espiritual. Sei que não é isto que aquele versículo quer dizer, mas para mim sacrifício de louvor é cantar em algumas igrejas que visito. Benza Deus!

Que o novo ano traga consigo o desejo de expressarmos com sinceridade e genuína alegria o prazer que sentimos por sermos o povo de Deus neste mundo, salvo por Sua imensa graça e amor.