Desculpe o neologismo, mas diante do quadro atual das nossas igrejas, algumas posturas doutrinárias e a prática dos membros de igrejas evangélicas, desinverter é urgente e absolutamente necessário. Desinverter é, como dá para perceber, o contrário de inverter. Desinverter é voltar ao padrão original, depois da inversão.
Mas o que é preciso desinverter? Ora, muitas coisas. Os evangélicos têm invertido muitas verdades bíblicas que precisam ser remoldadas na forma original. Distorções gritantes que acabam criando verdadeiras aberrações.
Por exemplo, ao invés de obedecer o “Ide” de Jesus, muitos inverteram o mandamento e estão dizendo “Vinde”. Evangelizar virou um negócio que só pode acontecer como um projeto oraganizado pela igreja. Evangelismo se tornou projeto, trabalho coordenado por ministérios ou departamentos. Evangelismo se transformou em convidar alguém para vir à igreja. E assim, a maioria dos cristãos fica confortavelmente sentada nos bancos esperando que os perdidos caiam de pára-quedas na comunidade cristã. Evangelismo se tornou um projeto para alcançar apenas as massas, com convites impressos, dia marcado. O único trabalho dos crentes, isso quando há trabalho, é passar um convite por baixo da porta do vizinho.
É preciso desinverter e resgatar o evangelismo pessoal que todo o crente deve praticar, compartilhando a Jesus de uma forma natural, em casa, no trabalho ou em qualquer outra parte. Isso iria contribuir grandemente com o trabalho coletivo, que é uma coisa boa (não estou criticando os projetos evangelísticos, pois eles são uma estratégia muito útil). O que não dá é dizer que todo o evangelismo que uma igreja faz é no atacado. O evangelismo tem que ser no varejo, individualmente. Cada crente sendo um “ganhador de almas”, falando do amor de Jesus e Sua salvação a todos os que Deus pôs em seu caminho.
Mas ainda há mais coisas que precisamos desinverter. Como já disse o poeta cristão, “eu sinto verdadeiro espanto em meu coração ao constatar que o Evangelho já mudou. Quem antes era servo, agora acha-se senhor. E diz a Deus como Ele tem que ser” (Paulo César – Grupo Logos). Tem muita gente querendo mandar em Deus. Já marcam hora, dia e local para Ele se manifestar. Os caras têm a ousadia de querer fazer a agenda de Deus! É o fim da picada mesmo. Desinverter isso e colocar cada peça no seu lugar, servo no lugar de servo e Deus no lugar de Deus, é de suma importância. Decretar, declarar, exigir, pressionar ou seja qualquer outro sinônimo, não são palavras apropriadas para sair da boca de um servo. A gente precisa desinverter e começar a usar mais “clamar”, “suplicar”. Humildade para reconhecer que não temos a mínima condição de exigir nada de Deus, pelo contrário, a gente tem é que se humilhar mesmo, até o pó, e esperar que, por misericórdia, Deus nos abençoe. Sabendo que Ele não é obrigado a nada, nós é que somos. Basta dizer que Ele é Deus e nós não somos nada perto disso.
Também é preciso desinverter o discurso que diz que “mais bem-aventurado é receber do que dar”. Os crentes estão se transformando em consumidores. E ainda são exigentes. Muita gente está na igreja querendo ser servida, buscando “o que a igreja pode me oferecer?”. “O que eu ganho com isso, quais são as minhas garantias de sair satisfeito?” Daqui a pouco vai ter igreja propagando “satisfação garantida ou seu dinheiro de volta”!
Tudo isso é uma verdadeira aberração. Estamos criando monstros. Tudo distorcido, violentado. Mudamos a nossa própria natureza, o objetivo para o qual fomos criados e invertemos tudo o que Deus estabeleceu na ordem certa.
Precisamos desinverter tudo, começando dentro do nosso coração e recolocando as peças em seus devidos lugares, cumprindo o propósito para o qual fomos criados e salvos e reconhecendo, de uma vez por todas, que não temos mérito e condição alguma de exigir nada de Deus.
E que esse trabalho de desinverter o que foi invertido comece em meu coração, e no seu, e no do outro… Quem sabe assim Deus não será misericordioso para não nos dar o castigo que merecemos e será gracioso para nos dar o que nenhum de nós merece.
por Clóvis Jr.