Leia antes: Preparando para o brado Amigos, há alguns meses fui visitar uma feira de bovinos em São Paulo. Animais colossais ali estavam, expostos num enorme galpão climatizado e preparado para esse fim. Era impressionante o tamanho de alguns daqueles bichos. Todos eles estavam ali, passivamente quietos e bem comportados. Alguns estavam amarrados por pequenas cordinhas, através da qual vez por outra algum tratador os puxava para mudar de lugar ou para apresentá-los a compradores, interessados e curiosos. Eles obedeciam prontamente ao comando da cordinha e, quando o pequeno desfile terminava, ficavam novamente presos a um pequeno toco de amarrar. Ao ser indagado sobre como eles ficavam presos por uma corda tão frágil, a explicação de um dos expositores foi muito curiosa: eles podem ficar assim porque não sabem a força que têm. Interessante. Um gigante amarrado por uma cordinha, porque não sabe o potencial que está à sua disposição. Sem querer de forma alguma comparar homens com animais, podemos nos lembrar de que parte significativa do argumento que sustentava a “moralidade” da escravidão humana era que os escravos não possuíam alma. Eram como animais. Nada havia, portanto, de impiedade no sistema que os oprimia duramente. Até mesmo crentes ingleses famosos, entre eles o grande John Newton, autor de “Sublime Graça”, justificava o odioso tráfico de escravos com o qual muitos fizeram fortunas com argumentos desse naipe. A questão é que esta “verdade” era tão forte que muitos escravos acreditaram nela. Não encontravam força para reagir nem para sacudir o jugo de sobre si. Mais ou menos o que aconteceu quando o povo de Israel foi chamado por Moisés para sair do Egito. Em dado momento, o pessoal começou a achar que aquela história de ganhar a liberdade não era para eles. Era melhor ficar por ali mesmo, onde eles já estavam acostumados com o ambiente, com o trabalho duro e com a vida de servidão. Este quadro fala muito vivamente sobre a situação em que se encontram muitos cristãos. São livres, mas não sabem disso. Nasceram para viver como filhos amados, livres e guiados pela Luz. Mas vivem, inexplicavelmente, submissos a uma escravidão deplorável. Não conseguiram ainda se desvencilhar dos seus antigos hábitos, de sua maneira de ser (existem até aqueles que querem exigir que os outros os aceitem como são, “porque eu nasci assim e vou morrer assim”), de sua ruindade, de seu mau humor, de sua mania de dominar, de sua tendência a manipular as pessoas para conseguirem o que querem e assim por diante. Ainda são escravos. As mesmas coisas que os faziam sofrer e chorar, ainda estão lá. Eles não lutam mais para sair disso. Já se acostumaram a elas e vão deixar por isso mesmo. É triste, porque a Bíblia nos ensina que existe um outro tipo de atitude. Há uma vida de outra qualidade: a vida dos libertos. Encontramos pelo menos três coisas extraordinárias que a Bíblia revela a respeito da nossa liberdade em Cristo:
- Somos remidos. Basicamente, a Redenção quer dizer que fomos comprados. Temos um dono. Pertencemos a Deus agora. Aprendi que na língua em que o Novo Testamento foi escrito, existem 3 palavras que são traduzidas como “remido”.
- agorazo: “comprar no mercado” (Rm 7:14).
- exagorazo: “comprar e retirar do mercado” (1 Co 6:20).
- lutroo: “soltar, libertar mediante o pagamento de um preço” (Jo 8:32; Rm 8:21; Gl 4:5)
São termos comerciais, do mercado de escravos. Falam da maneira como Deus nos “tirou de circulação” deste mundo de pecado, escravidão e miséria. Fomos comprados por um alto preço: o sangue de Cristo. Isto não se refere meramente ao sangue que vazou dos seus ferimentos sobre a cruz. É muito mais do que isso. Quando falamos do sangue de Cristo, estamos nos referindo à sua vida, que foi dada por nós.
- Somos libertos. A ênfase agora passa a ser do que estamos livres. A Bíblia ensina que:
- Somos livres do peso da culpa (Rm 8:1). A culpa, neste caso, refere-se à nossa condição de réus. Nós nascemos como pecadores. Não somos tornados em pecadores por causa de alguma coisa errada que fazemos. Por causa disso, nascemos condenados. Culpados. Perdidos. Quando Cristo comprou nossas vidas, com seu sacrifício, ele levou sobre a nossa culpa. “O castigo que nos traz a paz estava sobre ele”, disse Isaias. Não temos mais condenação sobre nós. Não precisamos quebrar maldição nenhuma. Não precisamos fazer regressão, nem perdoar nossos pais, nem pedir perdão pelos nossos colonizadores nem fazer qualquer outro tipo de loucura que se anda pregando por aí. Em Cristo, somos livres. “Não há condenação para os que estão em Cristo Jesus!” Aleluia! Bendito seja o seu Santo nome por isso.
- Somos livres da escravidão do pecado (Rm 7:15 – Rm 8:17). Jesus Cristo afirmou que “todo o que comete pecado, é escravo do pecado”. Quer dizer, não somos pecadores porque pecamos, mas pecamos porque somos pecadores. É a historia da árvore e seus frutos. Você só pode colher manga de uma mangueira. Não dá para colher uvas. Ela é pé de manga. Você e eu somos um pé de pecado. Dali só pode sair pecado. É uma lei natural. Só que quando Jesus nos salva, ficamos livres desse ciclo odioso. Somos livres para escolher não pecar. Não estamos mais sujeitos à lei do pecado. Podemos viver em santidade. Agora, passa a ser uma questão de escolha.
- Somos livres da punição eterna (1 Te 1:10). É por isso que podemos ter certeza de que somos salvos para sempre. Nossa salvação não depende da nossa fidelidade, mas depende do poder de Deus para nos guardar. A garantia de que não seremos condenados nunca mais é da Palavra de Deus. Ninguém precisa viver aterrorizado e muito menos aterrorizando os outros com a possibilidade do inferno para aqueles que uma vez foram salvos. Isto faz parte do nosso pacote de libertos. Nunca permita que alguém lhe escravize com essa história de perda da salvação. Nem o diabo, nem seus demônios, nem mesmo aqueles ensinadores que, talvez bem intencionados, querem fazer você acreditar nisso.
- Somos guiados. É privilegio dos remidos serem guiados por Deus, através do seu Espírito. Não precisamos viver mais sob a batuta de ditadores de qualquer sorte (Rm 8:12-15). Não precisamos ficar dependentes das “revelações” que surgem da boca de espertalhões que se auto-intitulam “apóstolos” ou detentores de uma luz superior à dos outros mortais. Quando fomos remidos, recebemos o Espírito Santo. Nele fomos batizados e por ele somos guiados a toda verdade. Não precisamos mais ser joguetes nas mãos de ninguém. Assim era antes (1 Co 12:2). Agora, é outra história.
Em que medida você tem aproveitado sua doce liberdade, sua posição privilegiada como remido de Deus? Pense nisso. No próximo artigo, vamos falar sobre os LIMITES da nossa liberdade cristã.