“O Humilde conhecimento de si mesmo é mais curto caminho para Deus que as investigações profundas da ciência”.
Quem lê essa frase assim, do jeitinho que está, pensa: Ao ser humilde Deus vai me aceitar como sou. Minhas “obras” me levam a Ele. Calma, querido leitor, já explico: não é nada disso, mas ao mesmo tempo, é. HÃ? Agora complicou mesmo!!!
Nosso único mediador é Jesus. Até aí todo mundo concorda comigo. Para achegar-se a Jesus, existe a necessidade de reconhecimento de que eu sou um pecador, necessidade de humilhar-me, reconhecendo de fato quem sou, que sem Cristo não posso e não sou nada.
O que é humilhar-se? Daqui pra frente será explicado diversas vezes.
Você se lembra do seu encontro pessoal com o Amado? Aquele reconhecimento de si mesmo e que de fato você não presta (o tempo verbal presente continua valendo…). Isso é humilhar-se. Não é colocar-me abaixo, nem acima do que realmente sou. É reconhecer minha condição real. De fato, ao olharmos para dentro de nós, veremos o tamanho do rombo que o pecado fez, o tamanho do estrago em nossas vidas. Humilhar-se é reconhecer o tamanho real disso.
A frase que dá título a essa reflexão está certa, então. O humilhar-se diante de Deus, ou o reconhecimento do meu Húmus (terreno) faz-me próximo dEle.
Mas parece que essa disposição tão benéfica esgota-se no momento de conversão. Passamos a investigar a Palavra de Deus, seja na Escola Dominical, no discipulado, em algum curso ou estudo bíblico, e passamos a ver como os demais estão errados, como eu sou bonzinho, como “posso TODAS as coisas naquele que me fortalece…”. Desse momento em diante, o nosso Deus funcional é uma pessoa que está para fazer o que quero, o que acho que preciso, o que penso que necessito. E então, já que sou crente, mudo meu comportamento, meu modo de vestir, assumo uma ética, uma moral cristã. Será que é por aí?
Sou salva há 9 anos, mas só de 3 anos pra cá comecei a entender de fato o que Deus queria comigo me salvando. (Não se assuste) Ele não queria que eu mudasse meu modo de vestir, nem de falar, nem queria que eu passasse a agir de acordo com a ética ou a moral cristã e os bons COSTUMES que me são ensinados desde o púlpito. Vai me desculpar quem pensa assim. O que Deus quer, de fato, é relacionamento conosco. A salvação é só o primeiro passo de transformação na minha vida. A caminhada que vem a seguir, ao lado de Jesus, é baseada na transformação e não na informação. Vem de dentro e não começa do lado de fora. Tudo o que estiver fora é conseqüência do que houve lá dentro. Jesus nos quer semelhantes a Ele. Quer moldar nosso caráter, quer mexer em minha vida em áreas onde eu menos imaginaria. É aí que entra a humilhação.
Tratar de pecados morais como fornicação, adultério, uso de drogas, jugo desigual, é fácil. Tratar do lado de fora é ‘bico’, como dizem meus queridos adolescentes. Eu quero ver é tratar o coração. Começar de dentro.
Ao sermos salvos, passam a habitar em nós duas naturezas (nova, transformada e velha, pecaminosa) e é obvio que gostamos mais de alimentar a velha. Se de fato eu me humilhar diante do Senhor vou perceber isso. Em Tiago a Palavra de Deus é comparada a um espelho. Para olhar nesse espelho eu preciso me humilhar, eu preciso aceitar a imagem refletida ali e tomar uma atitude. Senão sou como aquele imprudente que olhou e já esqueceu como era mesmo. É como de manhã, ao acordar, ir ao banheiro e ascender a luz. Ao olhar naquele espelho e ver meu estado, não saio dali sem antes tomar uma atitude drástica. Enfim, tomar as providências devidas para que, ao sair de casa, os vizinhos não chamem a polícia de denunciem um código 13 (um fugido do hospício). Com a Palavra de Deus é a mesma coisa. Meus amados, um dia alguém disse que a Palavra de Deus não serve para fins de informação, mas para transformação. Estamos sentando todos os Domingos para acumular conhecimento sobre Deus, fazendo muitas vezes profundas investigações, acumulando bastante informação, sem nenhum resultado de transformação. Eu te digo que se aquela informação não for espelho para sua vida, não haverá transformação. Como vou aceitar aquilo refletido no espelho? Humilhando-me diante de Deus. Essa humilhação traz proximidade maior no relacionamento com o Amado; eu permito que Ele trabalhe meu caráter. Daí, sim, do lado de fora aparece alguém que fala diferente, veste-se diferente, age diferente, e não só quando vai à igreja aos Domingos. Esse alguém também não estagnou nessa caminhada. Há muitas coisas em nossas vidas a serem mudadas. Ao humilhar-me e reconhecer diariamente o estrago do pecado na minha vida, vou permitir que o Senhor vá fazendo a faxina necessária e que Ele arrume a casa do jeito que Lhe glorifique (afinal, pedimos que Ele viesse habitar em nossos corações e tomasse conta de nossas vidas. Seria injusto não permitir-lhe arrumar a casa de seu jeito).
“Quem quiser vir após mim, CADA DIA NEGUE-SE A SI MESMO, tome a sua cruz, e siga-me”. Humilha-se é isso, negar-se a si mesmo.
Aí vai um exemplo onde é preciso humilhar-se: Quando é citado o assunto de idolatria sempre é lembrado que os católicos são idólatras por adorar imagens. Que nós corremos o risco de sermos idólatras quando colocamos algo no lugar de Deus como um emprego ou um bem material. Eu digo com certeza que, meus queridos, todos nós somos idólatras, porque não gostamos de negarmos a nós mesmos, tampouco o Senhor ocupa primeiro lugar em nossas vidas. O Deus que mais gostamos de adorar não é Jesus, mas a nós mesmos. A prova está em tantas contendas e disputas dentro das igrejas, e entre irmãos. Um e outro não arredam o pé. Sustentam seus melindres até o fim. A prova está em que gastamos mais energia alimentando disputas que em trabalharmos juntos pra o Reino. A prova está em que nos preocupamos mais com o modo de vestir do que com o relacionamento com Jesus. Julgamos aqui e ali a nossos irmãos a partir de sua freqüência na igreja, nos cultos, em eventos. E não é assim? A fé acaba sendo calcada em eventos, não num relacionamento com Cristo.
O mesmo cara que disse a frase que dá título a esse artigo também disse “Procura sofrer, com paciência, os defeitos e quaisquer imperfeições alheias, pois tu tens muito que te sofram os outros.” Humilhar-se é isso. Eu reconheço o que sou, olho para mim e para minha vida diante de Deus, permitindo que Ele trabalhe nela, e fico sem tempo de julgar as imperfeições alheias. Eu sou flexível e cedo por amor a Jesus, porque sei o quanto Ele fez e faz por mim, então me nego, tomo minha cruz, conheço e reconheço diante do Senhor o que me leva a idolatrar-me, os pecado que mais gosto, meu orgulho pessoal e meus defeitos, e sigo minha caminhada.
A Palavra dEle é meu guia. Eu não sei tudo sobre a Palavra de Deus, mas na ação dEle eu descanso. É dura caminhada essa, é dura empreitada durante toda a vida. Não termina até que eu chegue à sua presença na Glória. O cajado dessa caminha é a fé. O chapéu que vai me proteger do sol forte é a oração. A água que vai matar a sede e me revigorar é a Palavra de Deus. Meu descanso é o carinho do Senhor, que me estende a mão cada vez que tropeço e me dá nova chance de recomeço. Meu alvo é o próprio Deus e a proximidade com essa pessoa que é a única que me satisfaz completamente.
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o Reino dos Céus.” Mateus 5:3
A propósito, a frase que dá título ao artigo foi tirada da coleção de livros “Imitação de Cristo”, escritos por volta de 1410 pelo monge holandês Thomas Kempis.
por Fernanda Vallim