Língua solta

Mas Pedro e João responderam: “Julguem os senhores mesmos se é justo aos olhos de Deus obedecer aos senhores e não a Deus. Pois não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos.[1]

Nunca fui fã de rádio. Ultimamente, no entanto, devido ao corre-corre da rotina, tenho preferido ouvir o noticiário pelo rádio (assim posso chegar em casa e fazer outras coisas). Fiquei surpreso ao ver a excelente cobertura radiofônica do caso “Renan Calheiros”. Desde a denúncia da jornalista e o subseqüente processo de apuração, culminando com o julgamento do último dia 12 de Setembro, a imprensa divulgou indícios, fatos e versões dos envolvidos no escândalo.

Uma denúncia desencadeia um processo como esse. O endosso da denúncia deve ser feito com provas materiais e contra-provas que contam com a fé pública, além do depoimento de testemunhas que fundamentam ou desqualificam a denúncia (a Thaíse pode me corrigir se estiver errado!).

Logo após o pentencoste, os discípulos foram tomados de um notável fervor evangélico e se puseram a pregar o nome de Jesus para testemunho em toda a microrregião de Jerusalém. Seguiram-se vários sinais e milagres inegáveis e tais fatos incomodaram o alto Sinédrio judeu. Uma CCI – Comissão Clerical de Inquérito – resolveu investigar o conteúdo dos supostos “fatos” proclamados por Pedro e João. Com autoridade para prender e interrogar, a CCI ordena a prisão de Pedro e João para interrogatório.

Começa o interrogatório. À primeira pergunta, os simples homens do populacho dão uma resposta eloqüente – frases firmes em um testemunho sólido e consistente. “Que faremos com esses homens?”.[2] A reação dos clérigos denuncia que a resposta dos discípulos de fato possuía credibilidade, não só pela firmeza das afirmações, como pela prova material – afinal, o homem curado por eles estava ali no momento do interrogatório.

Numa quebra de decoro clara, os clérigos ordenaram aos discípulos que não ensinassem sobre a ressurreição no Nome de Jesus, ao que corajosamente responderam: Não podemos deixar de falar do que ouvimos!

Esta passagem bíblica também me fez pensar no evangelista John Bunyan (1628-1688), pastor e escritor puritano inglês. Nascido em um lar pobre, ele adquiriu o domínio da língua inglesa através da leitura da Bíblia. Após lutar na Guerra Civil, filiou-se a uma igreja independente do tipo batista e pouco depois começou a pregar, o que era proibido a quem não pertencia à igreja oficial. Por esse motivo, as autoridades o lançaram na prisão. Seu encarceramento se estendeu de modo intermitente por doze anos (1660-1672). Nesse período, ele escreveu a sua obra prima, O Peregrino. Esse clássico, publicado em 1678, foi um dos livros mais lidos de todos os tempos. No final da vida, Bunyan continuou a pregar e a evangelizar em sua região[3].

A autoridade humana não suporta a soberania de Deus e resiste a ela. A ortodoxia nos usos e costumes e o culto do ritual litúrgico tentaram calar a chama da Boa Nova do Reino de Deus. Bunyan seguiu pregando o evangelho, tendo produzido sua obra prima enquanto estava na prisão. Os apóstolos João e Pedro enfrentaram com a autoridade da Verdade os clérigos munidos com armas e um exército[4].

Prezados, não precisamos temer a Verdade, muito menos tentar melhorá-la, pois é através dela (pregada como de fato é) que Deus opera no homem a regeneração para a Vida Eterna.

No mundo da CPI, votações secretas podem escusar indivíduos de arcar com as responsabilidades da verdade. No Reino de Deus, a Verdade não esconde o erro, mas pela Verdade há perdão e restauração. (…) “lembrem-se disso: Quem converte um pecador do erro do seu caminho, salvará a vida dessa pessoa e fará que muitíssimos pecados sejam perdoados”.[5]

Que o Senhor nos dê ousadia para testemunhar, “Porque dele, e por ele, e para ele são todas as coisas; glória, pois, a ele eternamente. Amém!” [6]

Notas:

[1] Atos 4:19-20 [2] Atos 4:16 [3] ULTIMATO Ed 301 [4] 1Sm 17:45, At 5:41 [5] Tiago 5:20 [6] Romanos 11:36