Caverna

Há algumas semanas eu estive em uma caverna próxima ao salto de Corumbá, no interior de Goiás, com um grupo de pouco mais de cem pessoas. Um número demasiadamente grande para o tipo de passeio, ainda mais quando a grande maioria tinha pouca ou nenhuma experiência com trilhas e obstáculos no escuro.

Caverna por si só nos faz pensar em muitas coisas num primeiro momento. Cadeia, escuridão, silêncio, obstáculos, água fria, esconderijo, medo…

A Bíblia nos traz vários exemplos de grandes homens de Deus que se refugiaram, que se esconderam, que se isolaram do mundo, em cavernas.

Elias, depois de enfrentar um “exército” dos profetas de Baal, fugiu para uma caverna. Depois de ver a mão poderosa de Deus, temeu por sua vida e fugiu para se esconder em uma caverna. Davi, escondeu-se em cavernas fugindo de Saul. Foi também em uma caverna que formou e forjou seu poderoso exército de 400 valentes. Inclusive hoje, corre-se a notícia de que um dos terroristas mais procurados e temidos vive escondido… em cavernas!

Realmente, se você pretende se esconder, a caverna é um bom lugar. Lá não tem luz alguma e sem uma lanterna você não enxerga um palmo à sua frente e também ninguém pode ver você. Em uma caverna, o silêncio é ensurdecedor. Com bastante atenção você ainda pode ouvir o som emitido por ela mesma. Já esteve em lugar tão silencioso assim? Onde não há ao fundo carros apressados, pessoas andando freneticamente, vozes aleatórias, a cidade em ebulição? Um lugar onde o simples respirar pode ser ouvido?

A caverna não é um bom lugar para permanecer, mas passar por ela traz grandes reflexões, que na prática são marcadas como tatuagem dentro de nós.

Muitas vezes a nossa caminhada cristã exige de nós muito esforço físico, espiritual e emocional. Exige nosso tempo e nossa atenção, assim como andar em uma caverna escura, onde a única luz é da lanterna que você carrega e que deve projetar para os seus pés, para que você veja apenas o lugar onde deve pisar, pois se você a projeta para frente, pode atrapalhar a visão do seu amigo que está a sua frente, o que é um perigo para quando se está em uma caverna cheia de buracos e pedras escorregadias, bem como pode ficar com medo ao ver que lá na frente você terá que subir e subir, ou dar um grande salto.

Assim também é a Palavra de Deus, lâmpada para os nossos pés! Nosso Pai sabe de todas as nossas dificuldades, de todas as pedras e obstáculos que existem e surgem em nossas vidas e em nossa caminhada de fé, por isso Ele nos dá luz para os pés, para que possamos enxergar o caminho do hoje, onde pisaremos agora, e não para o amanhã, não para nos preocuparmos com a pedra mais alta lá na frente. Basta a cada dia o seu mal. E nós somos a luz do mundo, para guiarmos aqueles que precisam sair da escuridão, da prisão, serem salvos e libertos.

Em uma caverna o grupo que está ali precisa estar unido, todos precisam uns dos outros. Precisamos nos ajudar continuamente para conseguirmos sair de lá, para alcançarmos a saída com todos bem.

Assim como na nossa vida cristã, alguns irmãos são mais destemidos e corajosos, outros mais fracos e medrosos e precisam do incentivo, do estender das mãos para vencer as dificuldades, os temores, para prosseguir em frente.
Nessa caverna, com esse numeroso grupo eu pude perceber isso tão claramente, sem palavras ditas ou lançadas ao vento, mas nas atitudes de cada um.

Eu estava mais ou menos no meio do grupo, com quase cinqüenta pessoas a minha frente e quase cinqüenta atrás de mim. O primeiro grupo tinha mais homens e mais lanternas, passaram pelo trecho mais pedregoso, esburacado e escorregadio mais rápido, mas a outra metade do grupo tinha maior quantidade de mulheres e menor quantidade de lanternas.

A primeira lição: não vá para uma caverna sem lanternas. Não vá fazer a obra de Deus sem preparo (principalmente) espiritual. É Deus quem capacita? Sim! Mas, nós devemos fazer a nossa parte também. A lanterna conotativamente também é a nossa preparação com a leitura da Bíblia, com a busca incessante de conhecermos a Deus e vermos a vida como Ele vê. Que possamos aprender com as dez virgens que não esqueceram o azeite para encontrar-se com o noivo. Que possamos ser encontrados preparados e vigilantes com a chegada do nosso Deus.

Outra lição tão importante e tão bonita de ser vista e aprendida foi a ajuda permanente que eu presenciei. As mãos estendidas dos irmãos que voltaram pra ajudar o grupo de mulheres que entrou em pânico, para ajudá-las e incentivá-las. Vi quatro homens encorajando uma amiga que achava que não conseguiria descer uma pedra. Não eram necessários os quatro ali, mas ficaram os quatro! Um segurou a sua mão, o outro ficou atrás encorajando, e dois seguraram os seus pés para que ela tivesse apoio, até que ela pulou e passou. Eu fiquei tão emocionada com a cena. Fiquei apavorada por ela também, mas tudo isso foi tão bonito de se ver!

É assim que tem que ser na nossa vida cristã também. Nada de acusação, nada de “se vira”, nada de dar as costas pra quem está mais devagar ou tem dificuldades. Quem estava mais ágil e corajoso, voltou! Estenderam as mãos, ajudaram uns aos outros e todos prosseguiram. Ninguém ficou para trás. E com a ajuda, tudo ficou mais fácil. O caminho ficou mais iluminado, as dificuldades e tudo mais foi vencido em conjunto, como deve ser. O corpo todo unido é muito mais forte e poderoso do que apenas a mão, ou o dedo sozinho tentando levantar um enorme peso.

Alguns quiseram voltar atrás, pensaram em desistir, mas não tinham como. O grupo tinha prosseguido, já tínhamos descido muito dos 400 metros abaixo do solo, e a parte pela qual havíamos descido é muito mais difícil de subir para voltar. É muito escorregadia e para descê-la foi preciso fazê-lo de cócoras. Imagine como não seria a subida, já que em pé, a queda seria inevitável! Fora o fato de que era tudo muito escuro, e alguém completamente sozinho se perderia ali.

Assim é também a nossa vida espiritual. Uma vez salvos, uma vez conhecedores da verdade, uma vez libertos, uma vez experimentado o amor de Cristo e posto a mão no arado, olhar para trás não é opção, é morte, é perdição! Temos que seguir em frente. E o olhar confiante, as palavras animadoras, as mãos juntas de todos ali, fez o mais temeroso permanecer crendo que sairíamos dali bem e vitoriosos.

A Bíblia diz para não sermos pedra de tropeço para nossos irmãos. Será que alguém desistiu da caminhada cristã pelo seu mau testemunho, ou porque você tem um dedo indicador que vive querendo ser o “rei do pedaço”? Acusar é muito fácil e por vezes podemos fazer isso sem percebermos, mas suportar uns aos outros em amor, é aprendizado diário, em cada circunstância difícil que aparece, e isso é importante aprendermos, é importante querer e reconhecer que suas atitudes refletem para o bem ou para o mal na vida do seu irmão que caminha ao seu lado nesse mundo tenebroso, onde a luz de Cristo é o nosso guia, o nosso farol.

Mais à frente chegamos a um salão, onde paramos para descansar e ficar todos em completo silêncio. Com todas as lanternas desligadas, em um escuro e um silêncio absoluto. Estávamos todos juntos, mas completamente sozinhos. Ninguém segue com saúde na vida espiritual apenas trabalhando, apenas se dando, sem parar para ouvir a voz de Deus, sem se desligar e ficar a sós com o Pai. A voz do nosso grande, poderoso e amoroso Deus é suave e Ele fala no silêncio, fala na brisa suave. Como foi gostoso ficar aqueles poucos minutos desfrutando de uma solidão preenchida por Cristo.

O nosso lugar secreto é um dos melhores lugares para termos e buscarmos intimidade com o Pai.

Continuando a caminhada chegamos a um lago de água cristalina, límpida, pura e gelada! Ali naquela fonte de água pura pudemos nos refrescar, renovar nossas forças para nos sentirmos fortes o bastante e prosseguir.

Jesus é a fonte da água viva, a água limpa, a água que mata a nossa sede para todo sempre, e é nela que podemos nos renovar do cansaço da vida, da luta, da fadiga, nos refrescar com sua temperatura ideal e alimentarmos a esperança que nos faz ir em frente, acreditar no doador de toda vida, ter fé…

Algo mais impressionante ainda nos aguardava. Por incrível que pareça, e realmente o é, há nessa caverna uma pedra fundamental. Bem no centro… uma pedra angular, enorme, fincada ali, dividindo a caverna entre o início e o fim. Foi realmente uma caminhada especial, nos imprimindo, soprando todo pó sobre todas aquelas verdades que não podem ser esquecidas. Jesus é a pedra angular, Ele é quem deve ser o centro da nossa vida, o elo entre todas as coisas.

Para finalizar, no final da caminhada tivemos que subir um paredão enorme de pedras maravilhosamente encaixadas, como que esperando que alguém fosse ali subir, e um túnel, que à medida que prosseguíamos dentro dele, ia permitindo que a luz do sol brilhasse novamente.

Essa caminhada de pouco mais de cinco horas foi muito especial, tanto que resolvi compartilhar com todos vocês e lembrarmos juntos da nossa caminhada cristã.

Que a única rocha que nos firme seja Cristo, que o nosso único esconderijo seja debaixo das suas asas e que a nossa luz sempre brilhe com a vida de Deus refletida em nós.