Clô e as verborragias

Amigos, que país é esse? Vocês me matam de vergonha! Depois, quando a gente escreve alguma coisa contra os deputados, ainda aparece gente para defendê-los. Aqueles que acompanham alguma coisa do noticiário já estão devidamente informados do barraco parlamentar recentemente protagonizado pelo Excelentíssimo Senhor Deputado Clodovil Hernandez (nenhum parentesco conhecido com apóstolos e bispas) e Cida, a Feia.

Foi um bate-boca danado, quase rolaram arranhões, puxões de cabelos. Uma loucura. De repente, a sentença: “A senhora é feia”. Começa o berreiro. A seção é interrompida pelos prantos da ofendida. A suprema Casa de Leis da nação pára. Fosse uma escola primária, onde a cena mais facilmente se encaixaria, talvez ela poderia ter respondido apenas “chato, bobo, burro”. A inspetora teria interferido e presto encerrar-se-ia a celeuma. Porém, como são dois adultos, representantes do povo, era preciso mais holofotes sobre a baixaria.

Já se falou e escreveu o suficiente sobre o episódio. É apenas mais uma demonstração do nível das nossas instituições, dos nossos valores e daquilo que merecemos. Afinal, ambos estão lá porque foram eleitos pelo povo. Deixemos isso de lado.

No caso em epígrafe, a “verdade” é uma questão de estética e gosto e, portanto, bastante relativa. O marido da deputada ficou até ofendido, porque disse que “os defeitos” da esposa são outros que não a feiúra. Era uma opinião pessoal de Clodovil, que ele bem poderia ter guardado para si mesmo. Perdeu, como tantas outras vezes, ocasião para ficar de boca fechada. Ele justificou-se dizendo que “ela é feia mesmo”. Pior a emenda que o soneto.

Quando falamos de outras pessoas, seria bom levar isso em conta. Em que medida a informação é relevante? Tem gente que se acha no direito de sair dando seus conceitos sobre os outros, quem é bonito ou feio, gordo ou magro, narigudo ou careca. Quando não, emitindo julgamentos sobre coisas que não sabe, pensamentos que não lê, atitudes que não prova. Pense bem. O que você tem a ver com isso? Será que não passamos dos limites quando emitimos nossas opiniões sobre as pessoas que nunca nos pediram e não estão nem um pouco interessados nelas? Essa história de usar a franqueza como desculpa para a grosseria está por fora.

Isto quando o que dizemos não é verdade. Você ouve, repassa e pronto. Lá se vai uma reputação. É engraçado que Provérbios fala que muitas vezes nossas palavras são levadas pelo vento e acabam caindo nos ouvidos de que a gente nunca imaginaria. Chega a dar dó quando se confronta alguém que falou mal de você e nunca, mas nunca pensou que você poderia ficar sabendo. Já vi gente quase ter um infarto por causa disso. Teve um cidadão que pediu “pelo amor de Deus” para que eu relevasse certo assunto quando percebeu que seria desmascarado como um tremendo mentiroso e caluniador. É fácil bater com a língua nos dentes e acabar com a moral de uma pessoa. Difícil mesmo é ter que morder a língua depois e engolir o próprio veneno.

E ainda tem coisa que é verdade, que é relevante, mas que não nos compete em absoluto. Pessoas sem papas na língua (sei do que estou falando) uma hora ou outra acabam passando dos limites. Porque nem tudo pode ser dito sobre todos, nem tudo o que é verdade precisa ser dito, nem todos os assuntos são para todas as horas e nem todos os assuntos são para qualquer um. Não se meta naquilo em que não foi chamado, coloque-se no seu lugar e evite encrencas. Faz um bem danado ao fígado. Ao seu e ao dos outros também.

Tiago, o apóstolo, já advertia os que querem viver uma fé viva, mostrada e provada, que uma das demonstrações desse tipo de fé é exatamente saber refrear a língua. Tanta gente ainda preocupada com o comprimento da saia ou com o comprimento do louvor. Tanta gente discutindo a calça comprida. Seria melhor passar a discutir a língua comprida, ao invés.

Meu Novo Dicionário da Língua Portuguesa, o Aurelião, assim define “verborragia”:
“[De verb(o)] S.f. Grande abundância de palavras, mas com poucas idéias, no falar ou discutir.”

Nem mais uma palavra.

Pensando bem:

Quem fala muito dá bom dia a cavalo (Provérbio popular)