O que nos faz irmãos: De Jesus a Cristo

Leia antes:
Introdução
Capítulo 1 – Exórdio

Capítulo 2

A tradição cristã, ao longo dos séculos, tenta traçar um perfil para a personalidade de Jesus e até mesmo para sua aparência. Lembro-me recentemente de uma foto computadorizada que circulou na internet que mostrava como seria a face típica de um palestino do século I. Pele parda, grandes olhos castanhos centrados na face, nariz largo, eminências malares bem protuberantes; constituição magra. Assim os arqueólogos imaginam que seria a aparência de Jesus.

Os evangelhos são ricos ao relatar o nascimento, a doutrina, os atos de Jesus, sua morte e ressurreição, mas notadamente não encontramos qualquer texto descritivo sobre sua aparência física nos Evangelhos. A referência bíblica que poderia servir a este propósito não se encontra no evangelho, mas no livro de Isaías – (“Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos.”- Isaías 53:2) – e, longe de exaltar quaisquer atributos físicos, deixa claro que o messias não seria admirado pela sua beleza cosmética.

Os cristãos crêem que o que torna Jesus mais do que um ordinário homem, explica-se por sua natureza. O apóstolo Paulo, escrevendo aos Colossenses, diz que “nele habita corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2:9), deixando claro que Jesus posuía natureza plena da divindade. De igual forma, o escritor aos Hebreus comenta: “E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo” (Hb 2:14); evidenciando também a plena natureza humana existente em Jesus.

    O cristianismo bíblico afirma que Cristo possui duas naturezas, que ele é tanto divino quanto humano. Ele existe junto com Deus Pai na eternidade como a segunda pessoa da Trindade, mas tomou a natureza humana na ENCARNAÇÃO. O que resulta disso não compromete nem confunde, seja a natureza divina, seja a humana, de modo que Cristo era totalmente Deus e totalmente homem, e permanecerá nessa condição para sempre.[1]

Quando Jesus se tornou homem, ele acrescentou à Sua natureza divina pré-existente, a natureza humana, ou seja, o conjunto de atributos que definem o homem. Na encarnação, a natureza divina não foi humanizada, nem a humana divinizada. Jesus de fato possuía duas naturezas distintas em si mesmo.

Cremos que Jesus Cristo é Deus desde a Eternidade, nascido da virgem Maria na cidade de Belém como um ser humano pleno de seus atributos.

Quanto ao ministério de Jesus, ele foi caracterizado pela pregação, ensino e cura:

    Jesus foi por toda a Galiléia, ensinando nas sinagogas deles, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças entre o povo. (Mateus 4.23)

    Jesus ia passando por todas as cidades e povoados, ensinando nas sinagogas, pregando as boas novas do Reino e curando todas as enfermidades e doenças. (Mateus 9.35)

    Mas ele disse: “É necessário que eu pregue as boas novas do Reino de Deus noutras cidades também, porque para isso fui enviado”. (Lucas 4.43)

    Embora a concepção virginal testifique que ele não era um ser humano ordinário, por si mesma ela era insuficiente para proteger a criança de toda contaminação. Portanto, a impecabilidade de Cristo não pode ser devido à concepção virginal somente, mas foi o decreto soberano de Deus de que nenhuma culpa seria imputada sobre Cristo e que nenhuma corrupção seria herdada por ele. O “poder do Altíssimo” não somente causou a concepção de Cristo sem um pai humano, mas também guardou a criança tanto da culpa legal de Adão como da natureza corrupta resultante do pecado. Isso foi assim para que a criança pudesse ser corretamente chamada de “o santo” (Lucas 1.35).[2]

Como ser humano literal e físico, Jesus também sofreu uma morte literal e física. No entanto, pelo fato de não ter pecado (releia o comentário de Cheung acima), sua morte na cruz lhe concede crédito expiatório para imputar seus méritos e, assim fazendo, salvar tantos quantos se acheguem a Ele por meio da fé.

Capítulo 3 – A centralidade da cruz de Cristo

Notas:

[1] Vincent Cheung. Teologia Reformada, pg 118 [2] Idem