Amigos, estou me identificando com Noé. Faz mais de mês que chove todo dia, quase o dia inteiro. Daqui a pouco, a gente vira sapo. Falta pouco. Barbaridade, que aguaceiro e chuvarada. A galera que andou pedindo chuva aí nas suas canções pode parar. Agora comecem a cantar outra coisa, por favor. É nessa época que a gente descobre que precisa trocar a palheta do limpador de pára-brisas, que está na hora de trocar alguns sapatos e que os guarda-chuvas precisam ser aposentados, antes que as varetas rebeldes ataquem impiedosamente os pedestres que cruzam com a gente.
Tem horas que a gente fica pensando que nunca mais vai parar de chover. Dá a impressão que o negócio é ir se adaptando, adequando a vida a esta realidade. Carro sujo, aeroporto fechado, buracos nas ruas, trânsito lento, preço das verduras lá nas alturas, nada de piscina. Se ameaça sair um solzinho, você está preso no trabalho. Quando chega o fim-de-semana, é chuva que não acaba mais. Já até nos esquecemos daquele brilho do sol.
Sabe que existem tempos na vida em que a gente pensa que a situação não vai mais se alterar. Que aquele estado é permanente, que não tem jeito. Do mesmo modo que a chuva, sobre a qual não temos a mínima possibilidade de influência, chegam tempos em que as coisas fogem completamente ao nosso controle. Não há nada a ser feito, a não ser sentar e esperar. Não sei quanto a você, mas estes tempos são, para mim, os mais difíceis. Não é fácil esperar. Não é fácil ficar olhando o céu cheio de nuvens carregadas prometendo mais água a qualquer momento.
A única coisa que sabemos sobre a estação das águas é que um dia ela vai passar. Não sabemos quando, mas sabemos que isto é apenas uma temporada. Às vezes dura um mês ou dois, às vezes mais. Mas vai passar. Um dia a chuva pára e a vida volta ao normal. Sempre contando com a possibilidade de uma frente fria vinda da Argentina chegar sem aviso para fechar o tempo. Mas o sol brilhará logo. Mesmo quando as nuvens escurecem o dia, a gente sabe que o sol continua lá.
É aquela frase famosa nas Escrituras: “depois destas coisas”. Uma hora as coisas vão ter que mudar. Como é difícil ver esse dia chegar, mesmo sabendo de tudo isso. Como demanda paciência, calma, tranqüilidade, quietude. Não combina com nosso estilo de vida. Hoje em dia até o strogonoff já vem no saquinho. Pizza pronta, batata congelada, Sara Lee de caixinha, salada de fruta em porção individual. Faculdade à distância, caixa automático, Internet 24 horas, CNN live, fast food. Aprender inglês em um ano (isso é mentira!). Até os programas de humor já vêm ridos! Não gosto de dificuldades. Não fui treinado a esperar. Fui condicionado a querer tudo na hora. Não gosto de nada para depois. Eu quero e quero agora. Minha mãe dizia que quem tem pressa, come cru. Ou queima a língua.
Então a gente se vê no meio de uma temporada de chuvas infindáveis, de tempos difíceis, de longos períodos sem resposta, sem nada a fazer senão esperar. Esperar que pare de chover, que o irmão perceba seu erro, que um amigo ponha a mão na consciência, que um líder perceba que aquela não é a dele, que o rapaz resolva se tocar e assumir um namoro de verdade, que o patrão se lembre da promessa de aumento, que o fornecedor cumpra o combinado e assine o contrato, que ela finalmente reconheça e peça perdão, que ele pare de reclamar, que cheguem clientes novos, que o projeto seja aceito para o mestrado, que a liderança confirme o chamado, que a igreja aceite a mudança sem traumas, que o vizinho pare de arrastar móveis à meia-noite, que saia logo o visto. Esperar. Só esperar. Porque o que tinha de ser feito foi feito e tudo o que podemos fazer agora é esperar. Rola uma impaciência insuportável (como a minha filha mais nova no seu primeiro dia de aula na escola nova: levantou às 8h00 da matina, tomou banho e pôs uniforme… para entrar às 13h00). A gente começa a se coçar de desespero. Sai na janela, volta pra sala, vai pra cozinha e nada. “Senhor, o que eu fiz de errado agora? Até quando vai isso?” Benza, Deus (no bom sentido)! Quem sabe alguém me arruma uma receita daqueles bolinhos de chuva? Se eu conseguir ir até à padaria debaixo dessa água, eu posso comprar os ingredientes e tentar fazer para distrair até esse dia chegar.
Acho que não é à toa que estou lendo novamente a história de dois homens que têm muito a nos ensinar sobre o que eu chamo de “Esperar com Classe”: Noé e Abraão. Quem sabe uma hora dessas eu compartilho com você algumas coisas que eles me ensinaram sobre isso.
Ficou curioso? Calma. Espere um pouco. Amanhã, depois da chuva.