Botox

Amigos, o Brasil é mesmo um país de contrastes. Vejam só, num dos países mais miseráveis do mundo, com péssima distribuição de renda, onde a maioria da população luta heroicamente para sobreviver, somos o segundo maior mercado consumidor de produtos para animais domésticos, perdendo somente para os Estados Unidos. Perdemos também apenas para a terra do Tio Sam quando o assunto é cirurgias plásticas. Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), são realizadas por aqui 400 mil plásticas por ano no Brasil. Especialistas afirmam que mais de 20% desse total são clinicamente desnecessárias, quer dizer, o cidadão (provavelmente mais a cidadã) vai na onda da mídia e gasta o que não tem para acertar o nariz, tirar o pneuzinho, ajeitar o beiço etc etc. A estimativa é que o setor cresça de 20% a 30% por ano, enquanto a economia não passa de 3,5%.

Já existe consórcio para pagar cirurgia. Fui ver o que achava sobre isso na Internet. Não precisei gastar mais do que 20 segundos para encontrar sites que publicam tabelas como esta, que copiei e colei, sem alteração alguma de conteúdo:

Maravilha! Nem poderia imaginar que agora se vende cirurgia plástica do mesmo jeito que se vende geladeira, material de construção ou um carro novo. Você escolhe pelo site, financia no banco ou no cartão de crédito e manda bala. Felicidade garantida ou seu dinheiro de volta. Quer dizer, de volta para o outro Pitanguy que vai fazer mais uns buraquinhos caso a Cinderela arrependida não tenha gostado do resultado. Sem contar aquelas que morrem nas mesas de cirurgia improvisadas.

Mais 10 segundos, encontrei também a singela transcrição deste diálogo, entre uma repórter e uma clínica de cirurgia plástica:

– Boa tarde, gostaria de informações a respeito de um tratamento.
– Tratamento? Não, aqui só fazemos cirurgias plásticas.
– É isso mesmo. Gostaria de saber o preço da lipoescultura.
– Ah, 3 mil reais.
– Vocês parcelam esse valor?
– Em até dez vezes.
– Se eu quiser fazer, qual é o procedimento?
– Você terá que passar por uma consulta que custa R$ 80,00. Mais alguma informação?
– Os médicos são especialistas?
– Todos. (silêncio acerca de mais detalhes da qualificação)
– Só mais uma dúvida, por favor. As cirurgias serão feitas em que hospital?
– Aqui na clínica mesmo.
– Obrigada.
– De nada. Boa tarde!

Não sou médico, mas também não sou burro. Qualquer pessoa com um mínimo de bom senso e informação escaparia de uma arapuca dessas. Saúde e estética são coisas bem diferentes. Não estou dizendo que quem faz plástica não sabe de nada, só estou dizendo (as estatísticas e estudos especializados também) que há um certo exagero nesta busca frenética e sem sentido por uma beleza artificial. Adolescentes recém-saídas das fraldas pedem de aniversário aos pais (e os imbecis atendem) cirurgias para colocar silicone aqui, ali e acolá (principalmente acolá!!). Tive alunas de 20, 25 anos de idade que economizaram durante 2 anos para fazer essas coisas. Sem contar as Hebes Camargos da vida, que se tirarem o Botox vão parecer uma ameixa em calda, daquelas que a gente coloca no manjar de coco. Tem gente que se desatar o nó da plástica, daria para fazer para canja para todos os internados no Hospital das Clínicas por uma semana, de tanto pé de galinha. E eu me pergunto: aonde nós vamos parar, meu amigo Jabesmar?

Ao ver esses site, fiquei pensando em como caminha o ser humano e sua incrível capacidade de andar no limiar da bestialidade. Então, curiosamente lembrei-me daquele texto de Paulo aos Efésios sobre a sua igreja e noiva. Ele disse uma coisa fantástica, de fazer inveja a qualquer mulher que se preze e que um dia já tenha pensado em ligar para os açougueiros do anúncio ali de cima. Veja só que fantástica declaração:

“Vós, maridos, amai a vossas mulheres, como também Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela, a fim de a santificar, tendo-a purificado com a lavagem da água, pela palavra, para apresentá-la a si mesmo igreja gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem qualquer coisa semelhante, mas santa e irrepreensível.”

Ora, essa! A Igreja, Noiva de Jesus não precisa de Botox. Quando Ele voltar para buscá-la, não haverá ruga nem coisa parecida. Quer dizer que a Igreja não cria pé de galinha, papada, pneuzinho, glúteos flácidos. Não fica nada caído que precise de lifting nem nada faltando que demande prótese. A igreja não sai de moda, não fica velha, não precisa de retoques, de plásticas, de remendos. Amigos, esta distinta senhora de quase 2000 anos de idade é SEM RUGAS!

Assim mesmo, surgiram os cirurgiões plásticos da Igreja. Querem a todo custo colocar um Botox na pobre. Tiram daqui, acrescentam ali, “corrigem de lá”. Acham que ela não é mais relevante. Acham que perdeu o encanto. Acham que saiu de moda. Negativo. A Noiva do Cordeiro está mais bela do que nunca, pelo menos aos olhos do Noivo.

Seria esta uma incoerência de quem sempre está pregando a mudança e a inovação? Será que este articulista está de volta ao passado e renegará tudo o que escreveu até agora? Estaríamos perdendo um aliado na luta contra as tradições humanas que sufocam nosso Cristianismo? De forma alguma, meus amigos. Continuo pensando tudo aquilo que vocês já sabem que penso sobre a igreja. Continuo fã incondicional da renovação, da circulação do ar, do questionamento sincero, da busca de bons motivos para se fazer o que se faz. Mas se alguém um dia achou que a proposta era de fazer plástica para mudar o nariz, enganou-se. Existem coisas pelas quais luto até morrer. Outras, no entanto, passo batido.

Não quero investir a minha vida para mudar perfumarias. Não me preocupa o estilo, a estética, as curvas. O que me interessa é a essência. É o projeto original. É o que Deus tinha em mente quando planejou estabelecer um povo que o represente com dignidade e relevância, para manifestar a sua glória a todas as nações. Quando vejo gente inventando moda, sem qualquer propósito, brigando por causa do estilo da música ao invés de brigar pelo nível da adoração; pela pluralidade de presbíteros ao invés de verificar suas qualificações; pelo tipo de roupa que se usa no culto ao invés de buscar a santidade no íntimo; pelo tamanho e quantidade do cálice ao invés do significado do vinho (para citar alguns exemplos que me vêm à mente agora), vejo nisso uma preocupação muito mais de forma do que de essência.

As mudanças que desejo ver são estruturais. São para mexer nas coisas que nós mesmos, na nossa teimosia, estreiteza de visão, orgulho e sensação de que sabemos tudo, fomos deixando entrar e ficar, de tal maneira que parece impossível ficar sem elas, mas que na realidade são absolutamente descartáveis, porque nunca não fizeram parte do que Deus pretendia. Sem a pretensão de achar que sei mais do que os que vieram antes de nós. Apenas crendo na revelação suficiente da Palavra de Deus e comparando, sem preconceitos, o que hoje chamamos de “sã doutrina” com aquilo que está escrito. Fazer isso é um exercício tremendo e muitas vezes surpreendente. Com honestidade, seremos obrigados a concluir que a maioria daquilo que fazemos tanta questão não tem nada de Bíblia. É bisturi de cirurgião plástico.

Se bem entendo o texto citado, percebo que não é à toa que a igreja será apresentada sem rugas. Isto não é obra do acaso. Pelo contrário, é produto da aplicação de um tônico rejuvenescedor imbatível: a lavagem de água pela Palavra. Por isso, convém questionar de onde estamos tirando o ensino que apresentamos aos cristãos: da Palavra de Deus mesmo, dos manuais de franquia metodológica, tão populares nos nossos dias ou da tradição oral, passada de pai para filho sem nenhum questionamento e que de Bíblia mesmo tem muito pouco.