Metanoia – Mães de Joelhos, Filhos de Pé

A gente assiste tanto a filmes de Hollywood, que quando vemos algo “diferente”, sentimos certa estranheza. Isso se dá por conta do formato de atuação e linguagem americano do qual já fomos domesticados desde cedo, incluindo os tantos efeitos especiais, movimentos de câmera “espetaculosos”, fotografias impecáveis e – alguns – roteiros bem elaborados. Por isso, de forma geral, nosso senso crítico costuma ser bastante elevado.

Também trabalho com vídeo e sou um estudante da sétima arte, por isso não consigo deixar os aspectos técnicos de lado. Foi com esse olhar que eu entrei na sessão de Metanoia e, devo dizer, fui surpreendido!

O primeiro ponto que estranhei um pouco foi o tratamento de cor, mas depois de alguns minutos fui envolvido pela trama e isso acabou se tornando atraente e condizente com a história.

O filme é muito bem montado e o formato não-linear (recurso de edição que não segue uma linha cronológica comum) me agrada muito. Apenas alguns poucos trechos poderiam sim ser alterados ou mostrados de forma mais compreensível, mas gosto do fato de não subestimarem a inteligência do espectador.

Tenho um pouco de contato com esse mundo do crack por meio de familiares e amigos, e posso atestar o quanto a história do filme parece real. Sem precisar ser apelativo, o diretor Miguel Nagle soube conduzir a trama de forma muito verossímel.

O drama é instigante e bem elaborado. Me vi imerso e com sentimento de identificação com os personagens. Para manter o ritmo até o fim, pequenas cenas poderiam ser descartadas, mas ainda assim não causam muita dispersão.

A trilha sonora não é nada espetacular, mas cumpre totalmente seu papel ajudando na imersão, além da sensibilidade para manter certas cenas com o silêncio que elas pedem. Todo tratamento de áudio está num nível muito bom, acima da média nacional.

As atuações também são um caso a parte. Todos os atores estão muito bem nos papéis, e o Caique Oliveira incorporou o personagem de forma incrível.

Destaque especial para a cena com o Cadu (Silvio Guindane) com sua mãe Clara (Solange Couto) que ficou incrível e conseguiu me arrancar algumas lágrimas. E também para a cena com o Eduardo correndo desenfreadamente que me tirou um sorriso extra pelo aspecto técnico e pela carga emocional do momento.

Merece ser assistido no cinema, inclusive para estimular a produção nacional de filmes como este, que, como um ponto fora da curva, vem mostrar que temos condições sim de fazer cinema no Brasil do forma inteligente e com qualidade.

Finalizo com palmas para a decisão acertada de fazer de um filme com princípio cristão, algo acessível a todos os públicos, sem jargões, caricaturas ou apelo “gospel”. Não é um filme para crente, e isso eu valorizo muito.

Tecnicamente, dou uma nota 7 de 10. Considerando o fato de ser um filme nacional feito com recursos independentes, com certeza merece um 8, quase 9.

Parabéns à equipe!

Ouça nossa entrevista com os diretores do filme no Podcast irmaos.com