Amigos, como sempre faço pelo menos uma vez por ano, estava folheando meu exemplar do Livro dos Mártires, de John Foxe. Se não me ouviu dizendo ou não me leu escrevendo isso, então fica a dica: compre este livro, pegue na biblioteca da sua igreja, faça qualquer coisa para tê-lo em suas mãos. Será um extraordinário investimento. Leia-o devagar, poucas páginas por dia. Até porque, se você precisa dosar suas emoções, vai ter que ir com calma. É o livro que conta os feitos daqueles nossos irmãos que pagaram com sua vida por professarem sua fé em Cristo Jesus. O autor abre esta mundialmente famosa coletânea de relatos de homens e mulheres que morreram das maneiras mais cruéis que se possa imaginar afirmando que o propósito desta obra é comprovar a veracidade da profecia do Senhor Jesus, quando este afirmou quem nem mesmo contra as portas do inferno a igreja sucumbiria. A igreja triunfante iria prosseguir, a despeito de tudo e de todos.
Estas palavras mais uma vez fizeram eco no meu coração. Imediatamente minha mente foi levada de volta para as palavras de Pedro, na tradução NVI: “alegrem-se à medida que participam dos sofrimentos de Cristo”. Era um privilégio, muitas vezes expresso com palavras pelo mártir diante dos seus algozes, morrer pela fé em Jesus. Morrer para não negar sua fé era considerada uma graça por aqueles gigantes da Igreja. Costumo dizer duas coisas diante destes fatos históricos: 1) eles davam a vida por coisas para as quais hoje não damos nem bola. 2) eles estavam dispostos a morrer por Jesus, sendo que nós não estamos dispostos sequer a viver por Jesus.
Leia este livro, por favor. Ouça a voz daqueles que, como Abel, depois de mortos ainda falam. E enquanto faz isso, abra os jornais, as páginas de notícias da Internet e as revistas semanais. Vai encontrar homens e mulheres cristãos, no Brasil e no exterior, presos também. Só que os que são noticiados pela imprensa, lamentavelmente, estão mais cumprindo a segunda parte do versículo de Pedro do que a primeira. Porque o apóstolo continua: “se algum de vocês sofre, que não seja como assassino, ladrão, criminoso, ou como alguém que se intromete em negócios de outros”. Estão na mídia. Não acusados por aquilo que pregam, ou pelo Evangelho que anunciam, ou pela revolução que propõem a uma sociedade sem referência. Alguns estão sofrendo como sonegadores de impostos, outros como lavadores de dinheiro sujo, corruptores de menores, envolvimento com prostituição e por aí vai. Esses dias, foi um figurão “evangélico” nos Estados Unidos. Por aqui a nova onda são os “apóstolos e bispos”.
Não me venha com este nhém-nhém-nhém de que “não nos cabe julgar os outros”. Primeiro, porque não estou mesmo julgando. Quem prendeu ou mandou prender foi a justiça. O que digo é segundo a imprensa. Segundo, porque não estou acusando ninguém de nada. Mas também não dá para arriscar pôr a mão no fogo para defendê-los. Terceiro, porque se não é nosso dever julgar, certamente é nosso dever discernir o certo do errado, o que serve a Deus e o que não serve. Jesus mesmo nos deu os parâmetros para fazermos isso: “pelos seus frutos os conhecereis”. As epístolas estão fartas de recomendações e ensinos sobre o fato de haveriam falsos mestres, obreiros fraudulentos, embrenhando-se nas igrejas com o objetivo de enganar os incautos (ou aqueles que gostam de ser enganados) e como identificá-los e denunciá-los. Ninguém precisa ficar com medo de falar o que a Bíblia já alertou, inspirada. Independente das pendengas judiciais que pairam sobre a cabeça dessa gente, é preciso olhar para o que eles pregam, a ética de suas decisões, os objetivos que estabelecem. Fica muito evidente quem está trabalhando para o Reino de Deus e quem está construindo seu próprio império.
Quando alguns desses escândalos começaram a aparecer nos jornais, alguém comentou comigo que agora os templos desse povo iam ficar às moscas. Retruquei de imediato. Porque Paulo já avisou que sempre haveria um ouvido com comichão para receber o vômito desses cães. Não deu outra. Não faltou nem vai faltar quem os defenda. Não faltarão os que reivindicarão a eles o que chamam de “direito da graça”. Resta saber se surgirá entre esses alguém que os levem à sensatez e ao arrependimento, que os confronte em seu pecado, que os leve a reconstruir suas vidas diante de Deus pelo caminho da contrição, do abandono daquilo que se opõe à sã doutrina, do retorno ao caminho do verdadeiro e único Evangelho da nossa salvação.
Outros famosos pastores e pregadores caíram. Sempre que se troca o Evangelho da cruz pelo Evangelho da mídia este risco aumenta sobremodo. Tendo deixado o sucesso e a fama subir à cabeça, envolveram-se em escândalos morais, políticos e éticos. Não os critico por terem caído. Poderia ter sido e ainda poderá ser qualquer um de nós. E que se levante aquele que vai dizer “isso nunca vai acontecer comigo porque eu ando com Deus o tempo todo”. O maior problema não é a queda. O problema é a maneira como eles têm tentado se levantar, se é que reconhecem que caíram. Você os encontra, cínicos, em seus blogs e sites, nos púlpitos das igrejas de ocasião (aquelas onde alguém que não tem nada para falar ajunta uma multidão que não quer nada para ouvir). Eles falam muito em “graça”, criticam a igreja como instituição, vão na onda de dizer que é todo mundo hipócrita, desacreditam a Igreja (projeto eterno de Deus sobre o qual até pouco tempo atrás eles mesmos enchiam as livrarias com seus livros para defender). Tudo para justificar o fato de que caíram no pecado e gostaram tanto que nunca mais quiseram livrar-se dele. Posam agora de “restauradores do evangelho da graça”. Pregam a graça abundante como se ela fosse salvo-conduto para o pecado abundante. Escrevem, gravam, pregam, desencaminham, apresentam meias-verdades sobre si mesmos, sobre a Palavra de Deus e até sobre o próprio Deus. A si mesmos se pastoreiam. E nunca falta quem lhes dê (muito) dinheiro e espaço.
Quero, sinceramente, queimar a língua. Assumo aqui o compromisso de dar a mão à palmatória. Mas duvido que a vergonha toda que essa gente tem passado vai modificar um milímetro o seu orgulho, vaidade e objetivos. O grandão lá nos Estados Unidos que foi pego marcando programas com prostitutos (isso mesmo: ele pregava contra o homossexualismo e supostamente mantinha romances desta natureza) escreveu uma carta de demissão do seu cargo na igreja pedindo aos fiéis que “continuassem a dar suas ofertas para que a igreja pudesse continuar sua obra”. Com um pingo de vergonha na cara, se havia alguma coisa com que se preocupar nesse instante, certamente não era com oferta.
É só aguardar: já, já surgirão “Marchas para Jesus” para celebrar a “libertação e a vitória”, tão logo os advogados paguem as devidas fianças, o assunto perca espaço na mídia e voltem às ruas os que mentiram à justiça. E multidões estarão nas ruas repetindo, feito papagaios treinados, as palavras de ordem que os carros de som estarão gritando. Sim, Deus é fiel. Infiéis são alguns que se auto-proclamam seus enviados.
Meu coração chora ao ver tudo isso. Não é possível que exista gente com coragem de afrontar de tal maneira o Deus dos céus. Alguém precisa ler para eles a história de Nabucodonozor e seu filho Belsazar.
Pensando bem:
“Os falsos chamados apostolados, Do lado oposto da fé; Dinheiro, saúde, felicidade, Aquele que tem contra aquele que é. Rádios, TVs, auditórios lotados, Ouvindo o Evangelho da marcha-à-ré” João Alexandre, na música Tudo é vaidade