E o que tens preparado?

Amigos, há uma música sertaneja chamada “de raiz” que diz: “Este mundo é uma bola, esta vida é um buraco/ Quando nóis tem a farinha, o diabo carrega o saco”. Nada é perfeito debaixo deste sol. Acabo de ver na Internet que o camarada que ganhou R$ 54 milhões sozinho na Mega Sena há um ano e pouco atrás foi assassinado numa suposta tentativa de assalto no último domingo de manhã. A polícia suspeita de que na verdade tenha sido alguma coisa mais a ver com a sua recém e inesperadamente adquirida fortuna e que possivelmente os assassinos eram seus conhecidos. O homem que ganhou a vida como açougueiro, teve pouco tempo para desfrutar do que ganhou. Que triste ironia.

Não quero aqui tripudiar em cima dos chamados jogos de azar só porque este felizardo de repente virou infeliz. Não acho que ele teve esse fim por ter ganho dinheiro na loteria. Afinal, toda semana alguém ganha e ninguém tinha morrido com 5 tiros no rosto ou atropelado. Gente rica sempre corre o risco de ser alvo da inveja alheia. Ademais, morre um monte de gente assassinada que nunca jogou.

Há quem diga que a Bíblia condena o jogo de azar, porque isto não é ajuntar à força do trabalho, como diz Provérbios. Mas nesse caso, ninguém poderia receber uma herança ou um prêmio sorteado numa promoção de uma grande empresa. Também não cola o fato de que são lançadas sortes, porque até para se escolher apóstolo já se lançaram sortes.

Pessoalmente, sou contra jogar na loteria, bingos, rifas ou qualquer outro tipo de jogo dessa natureza por outro e único motivo: é que nesses jogos para alguém ganhar, todos os outros têm que perder. Não consigo ver nenhuma outra razão e esta me basta. É um motivo cristão suficiente, que não precisa forçar a Bíblia para dizer o que me interessa. Você sabe, com absoluta certeza, que teve gente que deixou de pagar a conta da água ou de comprar o gás de cozinha para “fazer a fezinha”. Diferente de um supermercado ou um shopping center. Quando uma dessas empresas sorteia um carro, está pagando do próprio bolso. Claro que isso vem dos lucros que obterá com o aumento nas vendas, mas de qualquer modo ninguém é obrigado a comprar ali e, se comprar, vai levar alguma coisa em troca. Quando se compra um bilhete, ou você ganha o prêmio ou perderá tudo.

De volta ao caso em referência, fiquei imaginando se a gente não passa a vida inteira correndo atrás de achar alguma coisa, seja o primeiro prêmio da Mega Sena, a promoção, o marido, a casa própria, o carro importado, a moto Biz, a viagem da vida. Como alguns amigos que tenho e que jogam na loteria semanalmente, sempre na esperança de que “alguém tem que ganhar, então quem sabe serei eu”, muitas vezes a gente se permite uma verdadeira obsessão por alguma coisa. Fixação mesmo. Como o jogador de golfe busca a tacada perfeita, a gente espera aquela grande chance na vida. Criamos até uma expressão para definir isso: “sonhos de consumo”. Aquilo que queremos muito. Mas em geral este objetivo vira um fim em si mesmo.

E de repente, a gente até o alcança. Mas por quanto tempo? Com que propósito? Para que utilidade? Lembro-me de quando uma das minhas filhas resolveu, apesar de todos os conselhos contrários que recebeu, torrar suas economias para fazer sua festa de aniversário do McDonald’s. Procuramos mostrar que não valia a pena. Era muito dinheiro para tão pouco retorno. Mesmo sabendo que não teria qualquer auxílio financeiro, pelos motivos sobejamente apresentados, ela bateu pé até fazer o que pretendia. Nunca me esqueço (e espero que ela também não) da sua intensa frustração, quando a ficha caiu. No banco de trás do carro, voltando para casa depois da velocíssima 1 hora e meia da “extraordinária” festa do Ronald, com seu bolo horroroso e seco, ela finalmente chegou à mesma conclusão que nós: “mas isso não vale a pena. Tanto dinheiro pra ficar meia hora e ir embora para casa?” É a mesma sensação dos que gastam rios de dinheiro para fazerem sua cerimônia de casamento “entrar para a história” e depois ficam só com as dívidas, um álbum de fotos, um DVD e um monte de gente falando mal da festa.

Aí é que está o “X” da questão. Quem busca alguma coisa sem ter um propósito, uma diretriz bem definida para a vida, vai buscar muito até eventualmente conseguir, apenas para se frustrar, seja pela perda repentina, seja pela experiência adquirida de que não valeu tanto a pena como se esperava.

Lembrei-me, então, do conselho do Senhor aos filhos da luz: usar os recursos de origem iníqua para fazer amigos que nos recebam nos tabernáculos eternos, quando estes nos faltarem. Quer dizer, se os seus propósitos forem eternos, suas conquistas transcenderão a sua própria existência. Não haverá frustração pela perda, porque na verdade você não vai considerar nada do que passar na sua mão como sua propriedade. Não haverá frustração de não ter valido a pena, porque não existe nada que comece na terra e continue no céu que não valha a pena.

Lembrei-me do fazendeiro rico da parábola de Jesus. Ele não jogou na loteria. Ele trabalhou duro. Emprestou dinheiro do Banco do Brasil, comprou trator, contratou assessoria técnica, adubou o campo com avião agrícola, fez irrigação. Tinha um plano logístico de primeiro mundo para estocar e escoar a produção. Tinha assessores na Bolsa de Nova York para saber a melhor hora para vender os grãos. Seu problema não era o jogo de azar. Era o jogo da vida. Leia a parábola na sua Bíblia e veja quantas vezes o pronome da primeira pessoa é usado. “Eu, meu, minha”. Não havia espaço nos seus planos para ninguém mais. E assim como o ex-milionário da Mega Sena enterrado hoje, de um dia para outro deixou para trás toda a sua fortuna e partiu. Nunca mais voltou.

Lembrei-me de mim e de você, que podemos partir nesta mesma noite. A pergunta que fica, solene, única e que não quer calar é a mesma:

“E o que tens preparado, para quem será?