Pois, que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?
Jesus nos ensina que sempre é possível, no afã de conquistar algo, perdermos outro bem de muito maior valor. É possível ganhar o mundo e perder a salvação. É também possível vencer profissionalmente e perder a família. É possível ganhar destaque em relação às pessoas e, ao mesmo tempo, perder a aprovação de Deus.
Vivemos grandes antagonismos em nosso tempo caótico de demonstrações ridículas de uma espiritualidade afro-mística-espírita-católica-neopentecostal. Depois de criar essa palavra monstro, não sei por que ainda sinto que caberiam outros termos…
Realmente vivemos um tempo em que as pessoas tratam Deus como ídolo, gênio da lâmpada, velhinho aposentado, cartão de crédito, empregado, marionete, mágico de circo, etc. Se passarmos a igreja evangélica brasileira pelas peneiras da seriedade doutrinária, equilíbrio teológico, necessidade de vida santa, amor a Deus em primeiro lugar, disposição para servir no Reino de Cristo, infelizmente, poucos restarão. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?
A conclusão a que chego é que, muito mais do que erros teológicos e doutrinários, o problema do crente brasileiro é que a alma genuinamente cristã de muitos se perdeu pelos caminhos da ganância, da necessidade de ver demonstrações pirotécnicas de poder e da ignorância quase completa de quem seja o Deus Todo-Poder que é, antes de tudo e principalmente, amor. Erramos por não conhecermos as Escrituras.
Perdemos a alma cristã e nem mais lembramos em que altura do caminho isso aconteceu. A impressão que tenho é que entre a geração dos nossos pais e nós, perdemos alguma aula muito importante e não conseguimos mais viver o Evangelho com a mesma coragem, com a mesma entrega, com a mesma paixão, com a mesma determinação.
Hoje, a nossa geração é desenhada com os contornos do consumismo, do imediatismo, do egoísmo e outros ismos que dão essa cara horrível para a relação com Deus e a igreja.
Perdemos a alma simples da busca, sem segredos reservados apenas para os gurus da religião. Esquecemos que todo o que busca encontra e a todo que bater, abrir-se-á. Esquecemos que a vida cristã não possui segredos dominados pelos mais elevados espiritualmente, pois o Evangelho é para os humildes, para vergonha dos orgulhosos.
Perdemos a alma boa que fazia o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé. E isso sem fazer muitas perguntas, sem levar os holofotes para apresentar aos outros as nossas boas obras.
Sabe aquele tempo que não ficávamos fazendo contas para saber se o dízimo é do bruto ou do líquido? Não fazíamos contas porque não tínhamos dúvidas de que o que importava mesmo era qual o máximo que poderíamos oferecer, não o mínimo! Esquecemos que o dízimo é o padrão medíocre. Não desfrutamos da bênção de ofertar com alegria, fidelidade e generosidade. Entregamos o dízimo como quem faz uma aplicação financeira e ficamos preocupados com rentabilidade, segurança e liquidez. Mas não se enganem: Deus não faz barganhas e suas bênçãos não estão à venda.
Perdemos a alma aberta que confessava pecados e agia com misericórdia em relação aos irmãos que pecavam. E era assim pelo simples fato de termos certeza de que, em matéria de pecados, sempre seremos iguais.
Perdemos a alma que clamava e chorava diante do Senhor, se derramando em oração. Não oramos mais, perdemos a simplicidade da súplica que não fica medindo palavras para que a oração seja bem elaborada e inclua pedidos razoáveis. Não oramos mais pelo impossível. Qual foi a última vez que você orou por algo humanamente impossível de acontecer?
Perdemos a alma que ama a Deus sobre todas as coisas, que é fiel primeiro no pouco, mas também no muito. Perdemos a alma da vida em comunidade. Optamos pela indiferença, pelo isolamento, pelo julgamento sem compaixão. Pecamos contra a unidade do Corpo de Cristo, sabotamos a comunhão.
De fato, perdemos a nossa alma em muitas áreas da vida. Não nos importamos mais, não é algo que nos incomoda, nos tira o sono. O tempo nos fez acostumar com a frieza e a falta de amor. O fogo inicial se apagou, o Espírito foi impedido de agir, não ouvimos mais a Voz, não sabemos o significado das palavras compromisso, causas, Reino de Deus, entre outras.
Mas ainda há tempo, ainda podemos voltar no caminho e tentar redescobrir nossa alma. Ela deve estar em algum lugar escuro da nossa vida. O Espírito pode ajudar na procura. E quando encontrar o lugar onde sua alma se perdeu, leve a luz do Evangelho até lá e a Luz vai renovar a sua alma e, mais uma vez, presenciaremos o extraordinário acontecer.
Pois todos os que se permitem renovar pelo Toque, pela Luz, pela Voz, nunca mais são os mesmos e passam a caminhar com paixão infinita na dimensão do sobrenatural e no nível de vida em que o Poder e o Amor se manifestam extraordinariamente fazendo o céu tocar a terra.
por Clóvis Jr.