Eu ainda não tinha visto nenhuma comédia romântica este ano e não estava disposto a fechá-lo desse jeito, principalmente depois de ter visto o treiler de O Amor Não Tira Férias (The Holiday, 2006).
Pra piorar, olha como o filme está sendo vendido: “Amanda (Cameron Diaz) é uma norte-americana que tem sérios problemas com o sexo oposto, assim como a inglesa Iris (Kate Winslet). Elas trocam de país durante as férias e cada uma acaba se apaixonando por rapazes de outro país.” É assim que está no site do Cinemark, a maior rede de cinemas do Brasil.
Por último, repare bem no cartaz do filme. Dá pra esperar algo além de encontros e desencontros repletos de clichês e piadas infantis culminando num desfecho onde todos ficam felizes e passam o melhor natal de suas vidas?
Mas bastou uma pessoa de confiança me dizer que o filme é bom pra eu ficar com muita vontade de vê-lo. É, porque não dá pra seguir o conselho de qualquer pessoa quando se trata de opinião sobre filmes, certo?
Comédias românticas geralmente são melosas e previsíveis. E não se engane pois esta também é melosa e previsível… mas é muito mais do que uma comédia romântica. O filme é uma homenagem cheia de estilo ao cinema. Alguns dos personagens são ligados à indústria de filmes e eles dão uma aula de história da 7ª arte. A responsável por isso é a diretora Nancy Meyers que já fez os bacaninhas “Do Que As Mulheres Gostam” e “Alguém Tem Que Ceder”. Mayers aproveita um filme aparentemente água-com-açúcar para encantar os cinéfilos de plantão.
“O Amor Não Tira Férias” parece dois filmes não somente por apresentar duas histórias paralelas. Enquanto que a história protagonizada por Amanda, apesar de fofinha (estou falando da história), é repleta de situações esperadas e clichês do gênero, a história de Iris é tão charmosa como um filme da década de 30. Talvez seja pelo fato dela ter construído uma personagem que logo cria empatia junto ao público, especialmente entre as pessoas que sabem como é difícil e incontrolável nutrir uma paixão não correspondida. Sua amizade com Arthur Abbott (Eli Wallach) é cercada de magia e essa é a maior paixão que ela encontra em sua estada nos EUA: o roteirista cria na inglesa o hábito de ver filmes, especialmente os antigos, e é nas fortes mulheres dessas produções que ela encontra forças nela mesma para dar um basta em algumas situações desagradáveis. Enquanto Amanda vive no superficial mundo dos treilers e, workaholic1, não consegue sair deles mesmo estando em férias, Iris mergulha no fascinante e glamuroso mundo do cinema antigo, conduzida pela mão por um personagem que conhece como poucos esse universo. Também merece destaque o trabalho de Jack Black. Conhecido por sua faceta de comediante, sempre exagerado, aqui ele consegue se controlar, compondo um personagem adorável e, acredite, charmoso.
O plot2, por si só, não anima muito, o treiler muito menos e o cartaz… aff! Mas, se você me considera um amigo de confiança, siga meu conselho: “O Amor Não Tira Férias” é altamente recomendado para dois tipos de pessoas: 1) Apaixonadas por outra pessoa; 2) Apaixonadas por cinema.
1workaholic é um termo em inglês que designa a pessoa viciada em trabalho.
2plot é o a-que-o-filme-se-propõe que geralmente é divulgado pela mídia, mais ou menos como retratado no segundo parágrafo desta matéria.