Minha retrospectiva (2)

Amigos, desde os tempos de Salomão que já se conhece uma verdade inescapável: “quando não há uma liderança sábia, o povo cai”. O ser humano precisa de direção. Precisa de alguém a indicar-lhe o caminho. Precisa de uma referência. Ele será influenciado por quase qualquer coisa que apareça em sua frente. E este é o “X” da questão: “Se a luz que em ti há forem trevas, que grandes trevas serão!” (Mateus 6:23).

Acho fascinante a idéia de liderança. Tenho lido e estudado o assunto, até por dever de ofício, uma vez que tem sido tema de palestras que faço em empresas e igrejas (montei o mini-curso “Tornando a Segunda-feira Melhor” – palestras sobre relações humanas no ambiente de trabalho, em que um dos tópicos é Liderando com Excelência). Cada vez que leio um livro, que assisto a um filme ou que percebo alguma coisa que lance luz sobre a questão de liderança, mais me convenço de que liderança é, antes e acima de qualquer outra coisa, a possibilidade que se tem de influenciar pessoas. Este tem sido o meu enfoque ao abordar o tema.

Em 2006 cheguei a algumas conclusões surpreendentes, pelo menos para mim. Tão surpreendentes, que pode ser que eu venha a discordar de alguma delas daqui a algum tempo. Neste caso, deixariam de ser conclusões. Chame-as então, apesar da aparente contradição, de “definições provisórias”. Cabe discussão, cabe alteração. Mas para o momento, foram lições tão fortes para mim, que seu impacto mudou o rumo do meu trabalho, do meu ministério e da minha maneira de ver a vida. Por isso, considero que este é a parte mais intimista da minha retrospectiva. Compartilho com você na expectativa de tentar responder a alguns questionamentos que você guarde consigo, talvez por não ter com quem compartilhar, talvez por achar que é o único que pensa isso, talvez por achar que seria censurado por outros ao expor estes sentimentos.

Lição nº 1: liderança é, sobretudo, influência. Há um sentido em que todos nós somos líderes. Isso porque todos temos pessoas que sofrem a nossa influência. Em nossas múltiplas funções na vida, seja como pais, professores, amigos, colegas do time de vôlei da escola, ou até mesmo como fornecedores, clientes, conselheiros, temos um grupo de pessoas que olha para nós. Então, precisamos agir como líderes, como pessoas que influenciam positivamente, que levam os outros a seguirem bons passos. Você não precisa ser um chefe de seção, um gerente, um pastor, um presbítero, um síndico de prédio, um juiz de direito, o diretor da empresa ou o presidente da República para exercer liderança. Apenas exerça sua boa influência.

Lição nº 2: estamos carentes de líderes. Não é preciso ir muito longe nem fazer muita força para perceber que uma das maiores crises da sociedade pós-moderna no Brasil e no mundo inteiro é a ausência dessas pessoas que podem ser uma “sábia liderança”. Olhe para as eleições 2006, por exemplo. Veja a dificuldade que tivemos para escolher nossos governantes. A maioria de nós votou em quem votou não por convicção, mas por exclusão. “Na falta de outro melhor, vamos nesse mesmo”. Na igreja também não é muito diferente. Temos muitos caciques, muitos chefes de tribo ou de bando, talvez. Mas líderes, influência sábia que faz a igreja ficar de pé, esses faltam. Alguns, os piores, se auto-intitulam. Outros usurpam o lugar que não é seu. Mas a carestia de liderança permanece.

Lição nº 3: liderança (influência) vem antes da autoridade. Se estiver enganado, me corrijam. Mas não me lembro de ouvir Jesus afirmando sua autoridade aos discípulos, a não ser momentos antes de subir de volta ao céu, quando afirmou “Toda a autoridade me foi dada no céu e na terra”. Jesus, que sempre foi a Autoridade Máxima, em todos os sentidos positivos que essa expressão possa conter, exerceu antes disso uma influência transformadora na vida dos seus discípulos. O termo “líder” traz à nossa cabeça a idéia de uma autoridade. Alguém com poder de decisão. Sem dúvida, em alguns momentos isso é preciso para um líder, mas não é tudo. Mandar é mandar. Ser líder é mais. Portanto, quem se acha líder só porque determinou que nada se fará sem a sua palavra final, pode ser um bom manda-chuva, mas necessariamente não está liderando. Entre ser uma autoridade sem influência e uma influência sem um cargo de autoridade, fique com a segunda opção. Seco. E lembre-se: Parreira é autoridade. Bernardinho é liderança. Qual você prefere?

À luz disso tudo, a conclusão é que não existe motivo ou desculpa para você não fazer a sua parte. Talvez a gente fique esperando alguém morrer, o outro assumir ou mudar a geração, pensando que só então as coisas vão acontecer. E muita frustração, ainda maior do que já se sentia, acontece quando, mesmo mudando a geração, a figura do líder, o estilo de governo, a ideologia e a práxis, tem coisa que acaba ficando pior.

Que 2007 nasça com pessoas dispostas a liderar pela influência. A dar rumo naquilo que está à deriva, dar direção ao viajante perdido. A preencher o que está vazio, a dar sentido àquilo que não quer dizer mais nada.

E que nós estejamos entre essas pessoas.

Te vejo em janeiro.