Bandidos!

Amigos, o ano poderia ter acabado sem essa. Esse antro de corrupção e safadeza que atende pelo nome de Congresso Nacional resolveu premiar um dos mandatos mais escandalosos da história da nação com uma tentativa criminosa de dar um aumento de 91% a esses vagabundos. Podem sentir-se ofendidos todos. Não adianta vir com essa conversa mole de que “nem todo mundo faz parte da banda podre”. O que escrevo a seguir vale para todos, dos acusados na máfia das sanguessugas aos que posam de santinhos e “defensores do povo”, em especial aqueles que andam de Bíblia embaixo do braço.

Mesmo que não seja aprovado, o só mencionar uma sem-vergonhice dessa era motivo suficiente para alguém fechar o congresso, mandar prender todos os deputados e senadores, cassar seus direitos políticos perpetuamente, confiscar os bens de todos e mandá-los quebrar pedra na cadeia por 20 anos. Com um mínimo de vergonha na cara, eles não teriam tido a desfaçatez de propor uma indecência dessas, enquanto demoram meses para aprovar um mísero aumento para o salário mínimo.

Eu sei que, na prática, esse tipo de argumento é quase demagógico. O impacto nas contas do governo para dar R$ 10,00 de aumento no salário mínimo é maior do que os 91% de salários parlamentares. Óbvio, tem muito menos deputado e senador do que aposentado. Mas é o impacto da cara-de-pau, do mau exemplo, do tapa na nossa cara, da falta de critério com o dinheiro público, da evidência do declínio moral, da falta de decoro parlamentar, esta decorrente da falta de couro no parlamentar. Chibata neles! Bando de canalhas, proxenetas do Estado, de 5ª linha, safados. Chamá-los de bandidos é ofender o PCC.

E a pergunta que surge é: o que faz nessas horas a corja da bandidagem, quer dizer, da “bancada evangélica”? Foram orar nos corredores do Congresso? Ou estariam fazendo culto de ação de graças pelas bênçãos recebidas dos cofres públicos? Talvez estariam ocupados separando os R$ 2.400,00 de dízimo. Vou dizer com todas as letras: essa gente que se diz “evangélica” e que se cala diante de cafajestagens dessa ordem é a pior parte, a mais bilhonesca, vil e desprezível do esterco que compõe a classe política desse país.

É mais um sinal para aqueles que acham que é positivo ter crente na política. Cada vez mais me convenço de que, embora não esteja errado, o cristão verdadeiramente comprometido e empenhado com o Reino de Deus estará tão ocupado com a sua missão, que não vai querer perder tempo para se envolver com esta ralé asquerosa e repugnante da política partidária brasileira. Sei, porém, que muitos continuarão votando neles, alimentando, assim, essa máquina de podridão e pagando com dinheiro do contribuinte para esses cães continuarem a se refestelar em seu vômito fétido. Na maioria dos casos porque algum “apóstolo” ou “bispo” iluminado (tão iluminado quanto o anjo de luz a quem alguns deles servem) vai continuar subindo no púlpito para apresentar o “candidato fulano de tal, que vai representar a nossa igreja no congresso nacional”.

Estou revoltado, sim. Estou generalizando, sim. Estou louco da vida, sim. Ainda mais por saber que o que vem pela frente é daí para pior. A “renovação” de 50% do parlamento nacional tem tudo para fazer deste mandato que, pela graça de Deus, se encerra em poucos dias, uma brincadeira de criança perto do que a nova pode trazer de estrago. Também pudera, quem elege Paulo Maluf e Clodovil pode esperar o quê?

Às vezes, parece inescapável concordar com a supersimplificação dos tempos da ditadura: o povo tem o governo que merece. Pode ser que de certa maneira sejamos todos um pouco deputados querendo tirar o máximo de proveito com o mínimo de esforço.

Mas continuo achando que, diante da injustiça, do descalabro, da safadeza, da falta de ética, do corporativismo, da insensibilidade para com as necessidades do próximo, da indiferença para com a pobreza e a miséria, do egoísmo e da opressão, das leis injustas, da balança desonesta, do juízo torcido, do favorecimento do poderoso contra o que nada tem, diante, enfim, do que o parlamento brasileiro sabe tão bem fazer, sim, contra tudo isso, é preciso manter acesa nossa capacidade de indignação.

Porque o dia em que a perdermos, podemos trocar a placa, escrever “Cuba”, deixar a barba crescer e começar a arrumar botes para fugir pelo mar em busca de alguém que nos deixe esfregar o chão em troca de alguns dólares.