Amigos, o ano de 2006 marca o centenário do extraordinário feito do não menos extraordinário gênio brasileiro, Santos Dumont. Precisamente no dia 23 de outubro de 1906, ele realizou o primeiro vôo com aquele que se tornaria um símbolo para a humanidade, o 14-Bis. A discussão sobre quem seria o Pai da Aviação, se Dumont ou se os Irmãos Wright, está há algum tempo desvendada. Em 1903, os estadunidenses (como gosta o Cara do Site) realmente já tinham voado, PORÉM (com letra bem maiúscula e negrito) eles só o conseguiram com a ajuda de uma catapulta. Santos Dumont foi o primeiro a conseguir um vôo auto-propulsionado e em público. O cara era fera. O cara era brasileiro. O cara, pasmem!!, era MINEIRO! O Pai da Aviação é Santos Dumont. Os Irmãos Wright, que além de tudo fizeram o teste às escondidas com medo de fracassarem, podem ser, se tanto, os tataravôs de 3º grau.
Não é este o momento para discorrer sobre outros grandes inventos e loucuras deste camarada fantástico, a quem eu classificaria, sem dúvida, como um dos três maiores brasileiros de todos os tempos. Os outros dois, para mim, são meu pai em primeiro lugar e para o terceiro posto ainda cabe discussão. Para aqueles que quiserem uma boa leitura, desafiadora, inspiradora e verde-amarela sobre Santos Dumont, sugiro a leitura do livro “Asas da Loucura”, escrito por um jornalista (que contradição!!) norte-americano. Acho até que já andei sugerindo isso por aqui. Vale a pena.
Para comemorar este feito que afeta diretamente a história da humanidade, o Brasil resolveu criar uma situação inusitada, que só mesmo mentes tão criativas e dispostas a tributar honra e dignidade à memória de seus heróis poderiam fazê-lo: resolvemos criar a “Operação Padrão” dos controladores de vôo. Ninguém poderia ter pensado em alguma coisa melhor. Vejam que maravilha: de norte a sul do país, os aeroportos estão lotados, tem gente saindo pelo ladrão, invadindo avião na pista, dormindo nas escadarias, entupindo o Procon de reclamações. No mundo inteiro, todos os dias, passam cenas mostrando a festa. É uma maravilha. Tudo à altura do baixinho que deu asas ao homem. Afinal, a gente é brasileiro e não desiste nunca. Nós criamos o mito, por que não podemos derrubá-lo? Como bons otimistas, precisamos ver o lado bom das coisas. Uma bagunça como essa pode até ficar mais na história do que o próprio 14-Bis!
Algumas lições interessantes saltam do episódio. A classe média (ah! a classe média… até quando vos sofrerei???) foi obrigada a ficar nas filas intermináveis por horas a fio. Para ser sincero, foram horas a corda de navio, com âncora e tudo. Teve gente que subiu nos balcões das companhias aéreas, chamou piloto para briga, destruiu guichês, o diabo. Deu dó? Até que sim. Mas pelo menos eles começaram a entender como é a vida do pobre. Como ele é tratado nos postos do INSS, do SUS, dos bancos. E não é só quando tem uma Operação Padrão. É sempre. Não é para viajar num feriadão. È para internar um filho doente, para sacar uma aposentadoria miserável, para pagar suas contas. Era bom que isso continuasse por uns 6 meses. Assim, ao final de tudo, eles iriam entender como é ser brasileiro comum, que vive a vida real.
Esta palhaçada criada sabe-se por quem ou por culpa de quem certamente tem relação com a queda do avião da GOL. Os controladores foram expostos como possíveis culpados e resolveram contra-atacar. A outra coisa boa, embora tenebrosa, que aprendemos com esta balbúrdia é sobre o risco que estavam correndo todos aqueles que dependem de viagem de avião. Certamente, a perda das 154 vidas naquele acidente não vale o alerta, mas pelo menos desnudou a situação caótica da aviação brasileira, obrigando os responsáveis a tomar providências e buscar soluções.
Fica ainda uma lição sobre história, tradição e passado. O que fomos no passado, o que criamos e fomos capazes não é uma garantia de que sempre o seremos. Traduzindo: não vale nada a glória de pertencer ao Brasil o pontapé inicial da aviação, se hoje, 100 anos passados, o mundo todo nos superou e nós damos ao universo uma lição prática de tudo o que não pode acontecer com ela.
Da mesma maneira que não adianta para os cristãos e seus grupos sectários, incluindo aquele do qual faço parte, descansar eternamente no berço esplêndido da Reforma, do surgimento do Movimento dos Irmãos, do conhecimento bíblico dos antepassados, do impacto dos missionários que evangelizaram nossos pais, dos áureos tempos de outrora, enfim, se nós mesmos, no Centenário de nossa história, produzimos caos, desilusão e falta de perspectiva.
Santos Dumont deve estar com vergonha de nós. Quem sabe nossos pioneiros missionários também.
Pensando bem:
“Aprenda com o passado, estabeleça alvos vívidos e detalhados para o futuro e viva o único momento de temposobre o qual você tem algum controle: agora” Denis Waitley