Quatro anos

Amigos, muita gente está estupefata com o resultado das eleições. Há algumas coisas muito positivas de termos passado esta data. Primeiro, vai finalmente cessar a enxurrada de e-mails sem pé nem cabeça, alguns beirando a imbecilidade, que circularam pela rede nos últimos meses. Gostaria de saber agora daqueles que encheram nossas caixas de mensagem falando de conspirações, afirmando categoricamente (“porque a minha tia tem um vizinho que tem um primo que tem um sogro de uma namorada de uma prima de terceiro grau que trabalha como faxineira na sala do presidente do IBOPE e ele falou que…”) que as pesquisas estavam compradas, mandando textos apócrifos de Arnaldo Jabor (como se ele escrevesse em tão mal português com o das notas enviadas…), e até (para minha triste surpresa) de gente graduadíssima como o Eros Pasquini tentando provar por A + B “biblicamente” que votar em Lula era pecado.

Por este aspecto, a derrota acachapante do Picolé de Chuchu caiu como uma luva. A classe média (que fundamentalmente detém os meios de comunicação deste país – incluindo os que tem acesso à Internet e que ainda jogam dinheiro fora para assinar o colorido papel higiênico Veja) caiu do cavalo. Ela tentou de todas as maneiras, com uma indisfarçável tendência tucana, achou que todo mundo acreditaria piamente no sensacionalismo de sua insistência, mas não sabe até agora explicar de onde vieram os quase 61% dos votos de Lula. Nem dá para dizer que foram os “miseráveis comprados com o Bolsa-Família”, até porque o Alckmin conseguiu a façanha de ter menos votos no 2º turno do que no 1º. E em todas as camadas sociais.

Ficou evidente que a classe média não está com essa bola toda no quesito “formadores de opinião” e que a imprensa também vai ter que repensar o âmbito da sua “influência”. Ficou também uma grande lição para a oposição e para todos nós, que Jesus já ensinou quando esteve entre nós: um reino dividido contra si mesmo não subsiste. Ficou evidente o isolamento de Geraldo Alckmin e a sua rejeição dentro do próprio partido. Ele mesmo já andou declarando isso. Reclamou muito da falta de apoio efetivo da parte de expressões como FHC e José Serra. Os que o apoiaram (como Tasso Jereissatti e Aécio Neves) estão de olho na vaga para 2010. Se havia uma maneira de derrotar Lula, era um acordo eleitoral entre os que tinham alguma chance ou expressão, como Cristóvão, Heloísa e Geraldo. Embora de tendências muito diferentes, se eles realmente acreditavam que Lula é um mal para a nação, deviam ter sacrificado suas candidaturas em favor de uma coalisão que pudesse derrotá-lo. Se continuar assim, o PT nunca mais sai do poder. Com uma oposição como essa, podem se preparar para 2014…

Espera-se agora que Lula seja menos tucano na economia e menos petista na bandalheira. A faca e o queijo estão na mão dele. Logo, logo cessarão até mesmo as teorias estapafúrdias como a de Diogo (é Diogo, não Diego, como disse outro dia) Mainardi, a besta-fera da imprensa acéfala nacional, que andou escrevendo a favor de um golpe de estado para derrubar o governo. Resta saber se Lula será o Felipão de 2002 ou o Parreira de 2006.

Ponto final, na outra linha, parágrafo.

Quanta coisa cabe em quatro anos! Passa rápido, mas seus efeitos podem durar uma vida. Você se lembra de como você era em 2002? O que fazia, quais eram seus planos e sonhos? Lembra o que estava acontecendo no país? Lembra da Copa do Mundo, do Felipão, do Ronaldinho (então magrinho), de um presidente do povo, chegando ao poder nos braços do povo, este cheio de esperanças, expectativas de mudanças no rumo, um ambiente de otimismo tomando conta de todo mundo?

Quem começou faculdade, está se formando. Quem devia ICMS para o governo, já está perdoado. Quem votou no Lula, teve tempo de se arrepender ou de continuar gostando. Mas pense na questão de quatro anos. Se me dissessem o que iria acontecer na minha vida quatro anos depois de 2002, eu provavelmente não acreditaria. Pouca gente acreditaria. Quem sabe onde estaremos e o que faremos em 2010? Quem sabe os rumos que o segundo mandato de Lula vai tomar?

Sei que é Deus quem dirige o nosso destino, mas ele nos dá uma enorme responsabilidade. Nossa vida é o resultado de nossas decisões. Em grande medida, somos aquilo que escolhemos ser. E seremos em 2010 o que decidirmos ser hoje. As circunstâncias podem mudar, o governo pode mudar, a gente pode mudar de casa, de emprego, de cidade, de carro, de amigos. Mas se formos fiéis aos princípios de vida que regem o verdadeiro cristão, chegaremos aonde for com a mesma dignidade, senso de dever cumprido e resultados que promovam o bem, o crescimento do nosso próximo e a alegria no coração do Deus que nos conduz pela vida.

Aproveite esse momento histórico da vida nacional e faça dele um momento marcante da sua própria história. Escreva num pedaço de papel ou num arquivo do seu computador, uma frase simples, de no máximo duas linhas, respondendo à seguinte pergunta: “o que eu quero ser daqui a quatro anos?”.

Não tenha pressa. Gaste algum tempo, escreva e reescreva quantas vezes for necessário. É um exercício extremamente saudável. Esta frase poderá ajudar você a usar tão bem esse tempo, focando prioridades, percebendo fragilidades que precisam ser superadas, descobrindo novas oportunidades de melhorias, de maneira que você não apenas sonhe, mas seja capaz de, na direção de Deus, traçar planos altaneiros para chegar lá.

Teria muita curiosidade de saber o que você escreveu. Se quiser compartilhar comigo, fique à vontade.