Dialética

Sou tão confuso que o melhor de mim é o paradoxo.
Tanto sei me expor à visita do Belo como à realidade do trágico –
Às vezes insensível e outras empático.
Convivo com as sensações e os conceitos;
Tento explicar o que sinto e sentir o que argumento.
Numa sede desesperada do Carpe Diem e do Maranata,
Colho o efêmero e planto a eternidade.
Uma parte de mim diz “glória”, a outra diz “misericórdia”:
Sou pecador e santo, a bela e a fera, o espelho e a imagem.
Sofro a dor do oprimido e torço a desgraça do opressor
Quando o opressor não sou eu!
Sei ficar quieto e agitado, deprimido e alegre,
Mascarado e do avesso, moribundo e príncipe.
Quem serei, quem sou e fui?
Quem estou, estive e quem estarei?
Quem sentirei, senti, e quem sinto?
Sou agora, sou ontem, sou depois – sou um coletivo…
Sou assim: um misto de dialética nas minhas entranhas
Gritando ensurdecedoramente,
Silenciosamente, estridentemente,
Suavemente como o cheiro que acabo de sentir…
Todos têm seus heterônimos ou um “eu todo retorcido”.
Quem não os descobriu não viveu…
É virgem de alma e tem os poros entupidos.
Tem muito para sentir, tem muito para ser,
Muito ainda pra se encontrar e dialogar!

por Márcio Cardoso