Amigos, acabo de chegar do sertão. Vim de chapéu de couro e tudo. Uma viagem como esta faz a gente pensar no poder da mídia em criar a imagem que lhe interessa das coisas. Quem pensa em Nordeste apenas como sinônimo de praia, precisa rever seus conceitos. Fiquei lá cinco dias, não vi a cor da areia e nem me lembrei disso. Tem muito, mas muito mais do que isso para se conhecer e curtir.
Há muita coisa surpreendente no sertão brasileiro do Nordeste. Como chuva e frio, por exemplo. Nunca imaginei sentir frio ali, mas acontece. Tem água, pelo menos nesta época. Diga-se a bem da verdade, água geladíssima, mas à vontade. Tem uma produção variada de frutas, tem emprego, tem assentamento que produz. Tem um potencial turístico impressionante, semelhante ao de pólos badalados como Campos de Jordão e o Circuito das Águas, no interior de São Paulo. E o coração disso tudo é a pitoresca cidade de Tenente Laurentino Cruz, a 240Km de Natal, no alto da serra, vista maravilhosa, árvores frutíferas, povo pacato e acolhedor. Aquilo é um oásis, um lugar onde a gente chega e não quer sair mais.
Acho que a gente precisa ser um pouco menos pessimista e olhar mais para o potencial do que para as dificuldades. Sei que fui em uma época de fartura, o inverno e suas chuvas, sei que este ano choveu mais do que o normal. Mas o que ouvi da gente que ali vive me permite concluir que a fome e a miséria são muito mais um estado de espírito do que uma realidade intransponível.
Descobri que para tudo há exceção. Até mesmo na política. Há políticos e políticos. Quando se quer fazer uma administração pública com seriedade, prestação de contas e transparência, é possível. Conheci gente lá que faz assim. Com isso, pode-se melhorar a vida do povo, porque recurso existe. É só querer usá-lo de maneira decente.
Eu disse um dia desses, numa entrevista ao Cara do Site (o único ser do planeta que me entrevistaria, afinal) que nada se compara a uma visita a um campo missionário. Ver de primeira mão, sentir os cheiros e os gostos, ouvir os sons, tudo por você mesmo, sem ninguém lhe contar. Sugiro que você inclua o Sertão do Nordeste num roteiro missionário para suas próximas férias. Sua visão de “missões” certamente vai sofrer mudanças e questionamentos. Para melhor.
Não vi a praia, mas vi mais. Vi uma riqueza de solo, de produção, de vocação, de arte, de talento, de capacidade de improvisar. Vi que o sertão é um lugar onde se planta e se colhe, onde as oportunidades estão por todos os lados e precisam ser aproveitadas logo antes que cheguem os espertalhões que usarão tudo em beneficio próprio, como sempre se fez. Certamente o que vi outros também já viram. Alguns deram de ombros, outros acharam difícil demais, outros voltaram somente para explorar.
Mas não fui lá para ver isso. E então acabei vendo uma igreja nascente, vibrante, envolvida até o pescoço com o Reino de Deus, pensando para frente, olhando o futuro, traçando planos diante de Deus para alcançar o restante do sertão. Vi gente de todas as idades sendo batizada, declarando publicamente que estão dispostos a seguir a Cristo. Vi pessoas rendendo-se a Cristo. Vi gente simples enfiando a mão no bolso e tirando do pouco que tem para ajudar de alguma maneira na realização de algum evento que glorifique o nome do Senhor. Vi gente sendo transformada, liberta, salva pelo poder do Evangelho e da cruz. Vi gente cantando de uma vida nova que acabou de ganhar, gente testemunhando de sua fé, mesmo que isso lhes cause perdas e perseguições. Vi gente comprometida com Deus gastando suas vidas enquanto podiam estar ganhando dinheiro e vivendo o progresso relativo no Sul do país.
Vi a vida brotando no sertão, regada com lágrimas dos que semeiam, com a batalha espiritual daqueles que estão na linha de frente. Vi gente lutando porque sabe que está chegando a hora da colheita. Vi a fé manifesta, a certeza da vitória, a expectativa de que está muito perto a hora de ver um ente querido voltando para Deus e sendo liberto para sempre da miséria da escravidão.
Vi gente que sai e deixa saudades, que volta e é recebido de pé. Vi gente influenciando todo tipo de gente, de excluídos a autoridades, sem tratar com acepção, sem fazer diferença, sem segregação ou deferências que comprometam a dignidade do Evangelho da graça, mas com uma presença que pode ser notada pela sociedade em que se vive e trabalha, em todos os níveis e esferas, para a glória do Pai.
Vi que é possível trabalhar em equipe, em parceria, em conjunto. Que no Reino de Deus, mais importante do que pensar igual, é preciso sonhar igual. Ter em mente o amanhã, focar no que Deus pode fazer com aquilo que temos, não apenas o imediato, o que se tem hoje, o que se vê agora.
Vi que tem jeito. Que há o que se fazer. Que só fica parado quem quer. Que só não arruma trabalho quem de fato nunca quis trabalhar. Só morre de fome quem não quer ir atrás da comida.
E lá no fim, quando tudo terminar, haverá de ter no céu um lugar para uma zabumba, um pandeiro ou um triângulo, nem que seja carregado no coração de milhares de irmãos e irmãs nordestinos salvos pela graça e pelo sangue de Jesus!
Pensando bem:
“Vem Jesus, transforma o coração do nordestino, Do homem e do menino que nasceu aqui Vem Jesus liberta, muda sua história, faz ele feliz”.