Em 1970, quando conquistamos nosso terceiro mundial (58, 62 e 70), ganhamos o direito de posse definitiva da almejada Taça Jules Rimet, que era de ouro puro com um quilo e oitocentos gramas e seu peso total correspondia a quatro quilos, com trinta centímetros de altura, incluindo a base de mármore em que se apoiava. Ao pé desta, em placas especiais, passaram a figurar o nome gravado dos vencedores dos mundiais realizados até 1970.
A glória da conquista foi materializada na Taça, que ficou exposta na sede da CBD, hoje CBF, no Rio de Janeiro.
A segurança pífia fez acontecer o inimaginável: roubaram a Taça. O constrangimento foi mundial. Os franceses disseram: seria como se alguém roubasse a Torre Eiffel. Os americanos disseram: seria como se alguém roubasse a Estátua da Liberdade.
As investigações apontaram a fragilidade da segurança. Chega a ser cômico. Vejam os absurdos: A Taça original ficava exposta para visitação e uma réplica ficava guardada num cofre. Não era para ser o contrário? E mais, a Taça ficava protegida por um vidro à prova de balas. O problema, acreditem, é que ele estava fixado com pregos na moldura. Apenas um segurança guardava o prédio e foi muito fácil para os dois meliantes entrarem, ficarem escondidos e sairem da toca quando o prédio já estava fechado. Sem falar que não havia alarmes.
Que tristeza, minha gente, a Taça do Mundo que era nossa, foi roubada. Mas como desgraça pouca é bobagem, a peça de ouro puro foi parar nas mãos de um argentino safado, que se encarregou de derreter a peça e transformar tudo em lingüetas de ouro. Quando o promotor do caso interrogou o “hermano muy amigo” e falou sobre a ironia de a taça ter caído nas mãos de um argentino, o camarada não agüentou e riu. Não confessou o crime, mas precisava?
Agora, é bom que lembremos que roubaram a taça, mas não roubaram a glória da conquista. Roubaram o símbolo, mas não o que o símbolo representava.
Com essa história, lembrei do episódio em que a Arca da Aliança foi roubada e Israel foi derrotado pelos filisteus, quando estavam sob a liderança de Hofni e Finéias, os filhos ímpios do sacerdote Eli (I Samuel 4:11).
Israel estava com a Arca em seu acampamento, e em grande euforia imaginaram que seriam vitoriosos na batalha por ter sua posse. Mas o pecado dos filhos de Eli mostrou que a presença da Arca não significava vitória certa. Isso porque o que realmente importa não é o símbolo, mas o que ele representa. Israel foi derrotado porque esqueceram que para que o Senhor pelejasse por eles era preciso viver a santidade que o Deus cuja presença estava simbolizada na Arca exigia.
Por isso, nós cristãos, não descansamos nossa fé em objetos e símbolos intermediários. Não usamos a Bíblia como um amuleto. Não confiamos em ídolos feitos por mãos humanas e não cremos que há poder em rituais ou objetos. Não abençoamos coisas e, sim, pessoas. E não realizamos cerimônias sem honrar o que elas significam.
A glória de Deus estava representada na Arca. Não pertencia à Arca. Ela era um símbolo. Israel venceu muitas batalhas quando entendeu isso.
A Taça do Mundo foi roubada e se perdeu, mas a glória da conquista continua sendo nossa. Porque a glória está na conquista e não no símbolo. Assim como a vitória na vida do crente não vem de elementos intermediários, mas, sim, do Deus para quem estes elementos apontam.
“Elevo os meus olhos para os montes, de onde me virá o socorro? O meu socorro vem do Senhor que fez os céus e a terra” (Salmo 121. 1 e 2).
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por Clóvis Jr.