Desperdício

Amigos, como somos acostumados a jogar coisas fora! Fico impressionado de ver como as pessoas não dão o menor valor a coisas que custam tão caro. Por exemplo, veja o caso do meu vizinho. Todo dia, mas todo dia mesmo, ele pega uma mangueira e lava sua calçada para limpar as folhinhas de árvore que caem nela. Uma vassourinha básica, nem pensar. É mais fácil ficar esguichando água limpa e tratada por meia hora. Afinal, ele deve pensar, sou eu quem paga a conta e ninguém tem nada a ver com isso. O mesmo deve pensar a Dona Gorda, como carinhosamente a apelidei, da esquina do Zé Braga. Eu passava de manhã e na ida e na volta do almoço e descobri que a tia Fofura lava a calçada duas vezes por dia, todo dia, até quando está chovendo. E dá-lhe água tratada. Vai continuar assim até o dia (e não está assim tão longe) em que as reservas de água começarem a minguar.

Quem de nós nunca deixou a torneira aberta, jorrando à vontade, enquanto escova os dentes? E nos restaurantes, então? Já viu o que se deixa de comida no prato? É por isso que nos restaurantes chiquérrimos, no estilo “Coma à Vontade por R$ 5,00” sempre tem uma plaquinha “super simpática”: “Se deixar comida no prato vai pagar uma taxa de R$ 20,00”. É comercialmente incorreto, mas dá para entender. O camarada acha que porque está pagando, pode jogar fora.

E os Mauricinhos e Patricinhas que ficam rodando feito barata tonta nos bobódromos das cidades? Você sabe, são os chamados “points”, aqueles lugares próximos a postos de gasolina com loja de conveniência, ou boates ou barzinhos, para onde aqueles que não têm nada para dizer se encontram para conversar com aqueles que não estão ouvindo. Gasolina queimando solta. Como a maioria dos tanques ali é abastecido com o dinheiro dos bananas dos pais, que se sujeitam a trabalhar feito loucos para sustentar vagabundo na rua, pode-se gastar o quanto quiser.

São exemplos simples de coisas que me enojam. Quem age e pensa assim está demonstrando uma ignorância a toda prova. Não percebe que está abusando de algo que não lhe pertence, individualmente, mas que pertence em última análise, ao bem comum. Se um imbecil como esse joga água fora para limpar a calçada, ele não está gastando somente a sua água. Ele está fazendo com que todo o sistema de tratamento seja sobrecarregado, o que vai gerar mais custo para todos. Sem falar no fato de que algumas regiões não dão conta mais da demanda e economizar já está sendo mais do que uma questão de parcimônia. É uma questão de sobrevivência.

A escassez dos recursos está fazendo com que a mentalidade das pessoas comece a mudar. Nas escolas fundamentais já se incute, não sem tempo, a idéia de que é preciso reciclar, reaproveitar, reutilizar. Mas é preciso ir mais além. É preciso fazer as pessoas abandonarem um estilo de vida perdulário, esbanjador, do tipo que gasta e consome por impulso. E isso nem sempre é tão fácil, uma vez que é a cobiça e a gratificação imediata que fazem girar a roda do capitalismo e do acúmulo de riqueza.

Mas não desperdiçamos apenas comida ou recursos naturais. Há muitas outras coisas, como tempo, dons, talento e oportunidades, que são dados de graça e em abundância para todos nós. O que fazemos com tudo isso? Gastamos à vontade, sem responsabilidade, sem compromisso, sem noção? Em certas fases da vida, a gente imagina que todos os recursos que temos, especialmente o tempo e as oportunidades, serão infindáveis. Nunca nos faltarão. Sempre teremos mais. E vivemos como filhos pródigos. Por sinal, a Bíblia não o chama assim. Nós o apelidamos com esse nome, justamente porque “pródigo” significa “esbanjador, perdulário, gastador, dissipador, o que despende excessivamente”. Foi exatamente o que ele fez com a fortuna do pai.

É o que fazemos quando gastamos nosso tempo com frivolidades, com conversa fiada, com entretenimentos sem valor. Quando gastamos a energia da nossa juventude atrás de porcaria. Quando a gente assume viver o “padrão Malhação de qualidade”. É quando a gente começa a viver como o pessoal antes do dilúvio, “comendo, bebendo, casando-se e dando-se em casamento”, quer dizer, o tempo todo atrás dos prazeres legítimos e ilegítimos da vida. Esbanjando recursos e oportunidades. Vivendo sem se preocupar com nada. Nos permitimos ao luxo de lavar as calçadas da nossa vida com água tratada.

Não é que não deva haver espaço em nossa vida para a diversão e o descanso. Mas se isso passar a ser a regra da vida, estamos nos desviando agudamente do propósito que Deus tem para nós.

É preciso reciclar.